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Cavaleiros do delito (por Paulo Delgado)

O desembargador em questão é desse mesmo caldo azedo que domina o noticiário

Por Paulo Delgado
Atualizado em 30 jul 2020, 18h48 - Publicado em 27 jul 2020, 10h00

Mais do que por um mero mau cristão o Brasil é governado por destino incerto, tendo a cada dia um morto certo. Tal estado de coisas é possível porque o país não tem freio que contenha a autoridade no momento em que erra ou comete o crime.

Quem se beneficia com o caos não se importa em saber que motivações sustentam tais atitudes. A realidade da autoridade fora da lei é de ampla e genérica tolerância e cumpre o papel amargo de infantilizar a sociedade diante do Estado. Pois são essas autoridades descontroladas que moldam o mundo que vivemos.

Apesar da sensação de marcha a ré, com maior propensão ao interesse pelo mal do que pelo bem, não dá para culpar o povo inteiro quando se trata de crítica a governo ou a forma como funciona o Estado. No entanto parece que nossa relação com a verdade está desaparecendo da construção do raciocínio político. Talvez pela nova função que o ódio e a manipulação passaram a ter na escolha de adversários.

É diária e recorrente a mentira de que as instituições funcionem para os membros das instituições. Magistrados ruins são o maior problema da Justiça. Vejamos o caso do Tribunal de Justiça de São Paulo. Pede 10 dias ao corregedor nacional para dizer quem é o juiz com quem convive há anos.

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Com atitudes assim ficamos sabendo como funciona o Tribunal, nunca o juiz. Pelo mistério supomos os dois. Que segredo protege uma autoridade de tanto sobrenomes, é conhecido pelo diminutivo! Já suas vítimas o conhecem pela marca que deixa nos seus nomes. O agressor não sente a dor que provoca.

Muitos não se dão conta pelo fato de ser difícil encontrar alguma autoridade em nosso país disposta a refletir sobre as conexões entre pensar e agir, ser ou não ser. O universo pessoal da autoridade é o de um clube hípico fechado onde ao cavaleiro só interessa o cavalo que o outro monta. Perde logo a reputação quem cair do cavalo.

Por isso não é de agora que não existe interesse em parar o erro no seu início. Claro que produz também um vago mal-estar quando uma autoridade ameaça a posição do outro com seu temperamento independente, mais do que sua opinião.

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A lógica é de desconversar e dar chance ao poder do tempo de forjar o esquecimento geral aos poucos. Quando envolve delito todos podem se salvar capturados pela astúcia dos que fazem negócio com o caos. Aqui é a erva daninha que faz a grama crescer.

O desembargador em questão é desse mesmo caldo azedo que domina o noticiário, um entrave à civilização, e sabe muito bem com quem está falando. Prepara mais um velório para o cadáver da justiça na casta estatal dos intocáveis. Aliás, deveríamos perguntar porque cargas d’água é tão difícil saber como decide um juiz quando a pele do cidadão é que está em jogo. Ainda mais em país desacostumado a obter resposta para pergunta difícil.

Há juízes que ligam a televisão antes da sentença. Outros depois. Há uma simbiose entre juiz e televisão. Situação agravada a cada dia quando mais se vê quem tanto anseia pela aprovação dos seus atos.

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O brasileiro para se salvar aprendeu a lidar bem com a rejeição a que está submetido, mas não precisava passar a mão na cabeça do malfeito imaginando que o caráter é um mosaico onde não se vê de ninguém a imagem toda.

Sua indiferença só faz aumentar a frequência do poder equivocado. Uma situação profunda, inalcançável. Um estado em que ninguém é responsável pelos interesses nacionais. Em que verdade-mentira, nome-codinome, viver-morrer é a mesma coisa para o Estado.

Uma sociedade intrigante que leva cada um a precisar viver em seus próprios termos. Desinformados justificam o erro da autoridade com a conversa de que todos são assim. Não, nem todos são assim, somente as autoridades que vivem nos termos de suas instituições complacentes.

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Uma das coisas que mais diferencia as sociedades atuais é a ordem política. Pela má política muitos conseguem ornamentar melhor a biografia, alterar status, independentemente da capacidade. A estrutura política das instituições entra em suspensão utilitária quando se trata de punir seus membros. Muitas famílias de autoridades se encastelaram no Estado como castas. Verdadeiros mandarinatos que estão se tornando máfias onde pais corrompem filhos com nomeações e sociedades indevidas.

A amoralidade na relação com o Estado, através dos laços familiares, pode comprometer a legitimidade das sentenças e violar junto aos tribunais a autonomia de ação dos profissionais liberais. Quem não cala, mais sente.

Curiosamente as espetaculares repercussões na economia familiar não causam nenhum impacto no prestígio moral do alto funcionário. O que permite supor que não são fatores econômicos que levam tantos ilustres ao delito. São ilusões de que alianças políticas os protegem dele.

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É o coroamento deformado do êxito de uma mentira que a torna verdade e faz seu autor passar incólume. Pois como o Estado funciona como balsa em correnteza rio abaixo nunca cessa de atrair pessoas para o complô da incorporação à sua estrutura.

Um deslizamento moral que mantém e reproduz a elite dos seus membros. Desiludido, o cidadão sussurra um mau vento para a democracia, que é torcer por alguma conspiração que afaste más autoridades do poder. Não, o Estado não é de seus ocupantes. É a aplicação das leis que pode refazer a ordem.

 

 

Paulo Delgado. É professor, sociólogo e consultor de empresas. Foi constituinte de 1988 e exerceu mandatos de deputado federal por Minas Gerais de 1986 a 2011. Articulista regular d’O Estado de São Paulo e assina a coluna de politica internacional dos Jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. É colaborador do Capital Político.

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