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Brasil é motivo de escárnio do mundo (Por Juan Arias)

Política desastrosa sobre a vacina

Por Gustavo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 jan 2021, 19h19 - Publicado em 14 jan 2021, 11h00
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  • Enquanto em vários países as pessoas já estão sendo vacinadas, no Brasil não se sabe nem se haverá uma campanha para incentivar a imunização ou se prosseguirá a política subterrânea de boicote

    O Brasil está aparecendo aos olhos do mundo como um pária, incapaz de oferecer uma solução de esperança às pessoas amedrontadas com a pandemia. E isso apesar de ser um dos três países com mais vítimas fatais e com o maior número de infectados.

    É um país que o próprio presidente confessa que está quebrado economicamente e, em suas reuniões de Governo, em vez de buscar soluções rápidas para combater a pandemia, única forma de fazer frente à dura situação econômica e aos milhões de desempregados que crescem a cada dia produzindo um rio de pobreza, parece se divertir com o desconcerto que criou com o negativismo sobre a vacina.

    No mundo inteiro, dos reis aos chefes de Estado de todas as cores políticas, dos Estados Unidos ao Vaticano, os líderes das nações estão demonstrando seu empenho em combater a epidemia, e estão se vacinando em público diante das câmeras de televisão. No Brasil, chegou-se à situação de escárnio em que o Governo decretou sigilo de cem anos sobre o cartão de vacinação de Jair Bolsonaro. Embora ele já tenha anunciado que não se vacinará, algo inédito no mundo, tenta-se impor o silêncio sobre se, afinal, o presidente se vacinará ou não. Quem são, então, os covardes?

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    Enquanto em vários países de todos os continentes as pessoas já estão sendo vacinadas, no Brasil ainda não sabemos quando começará a imunização. Reinam o caos e o silêncio sobre o assunto no país. E o pouco que se sabe é que as autoridades ainda não decidiram quase nada. Como se já não fosse pouco, o que começam a oferecer é uma ofensa. Trata-se da vacina que até hoje oferece o menor índice de imunidade, 50,38%, enquanto as de outros países chega a 75%. Ainda não sabemos se para economizar dinheiro as autoridades decidiram oferecer só uma dose em vez de duas, como nos outros países. Não sabemos se a maioria da população será vacinada, ou se apenas alguns poucos serão. Não sabemos se haverá uma campanha para incentivar as pessoas a se vacinar ou se prosseguirá a política subterrânea de boicotá-la para que se vacine o menor número possível de pessoas.

    Tudo isso foi alimentado depois que o presidente Bolsonaro teve o descaramento de zombar do crescente número de vítimas e respondeu a um jornalista: “E daí? Não faço milagres”. Ou quando tachou de covardes e maricas os que temiam o vírus. Ou quando disse que atletas como ele eram imunes à epidemia. Ou que importava pouco ou nada que morressem idosos e enfermos, já que “todos nós vamos morrer”. Ele só estava interessado em que não morressem os mais fortes para assegurar a força de trabalho.

    Tudo o que envolveu a política sobre a pandemia desde o início, com a atitude suicida do presidente, foi único no mundo, onde todos os chefes de Estado se preocupam em como melhor salvar vidas, sobretudo as dos mais frágeis. Na verdade, a política do Brasil desde o início da pandemia de covid-19 foi minimizar, negar, boicotar até os ministros da Saúde e criar um clima nacional de desinteresse pelas vítimas que iam se amontoando.

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    Obrigou assim os profissionais de saúde a serem heróis que se destacaram diante da covardia do Governo e foram dos que mais morreram no mundo.

    Tudo isso por interesses mesquinhos da baixa política de Bolsonaro, que não queria que os governadores adversários iniciassem a vacinação antes que ele tomasse a decisão. Perderam-se assim meses preciosos.

    Um dia a história contará a atitude de Bolsonaro e suas hostes de zombar da pandemia como um dos maiores casos de aberração política já conhecidos.

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    Na já épica reunião do Presidente com seus ministros em abril, entre risos e brincadeiras, o ministro do Meio Ambiente propôs aproveitar a pandemia, com o país preocupado e distraído com seus mortos, para deixar “passar a boiada” na Amazônia. Existe zombaria maior da dor do país?

    Tudo isso me fez lembrar da cena que Santiago H. Amigorena narra em seu livro O Gueto Interior, quando os chefões nazistas se reuniam para discutir qual seria o método mais econômico para matar milhões de judeus. Pensaram que o fuzilamento seria muito lento e caro, então decidiram que era melhor o extermínio nos campos de concentração, nas câmaras de gás ou com trabalhos forçados e pesados, quase sem alimentá-los, o que os levava em seguida à morte.

    Existe hoje no mundo uma política de socorro às pessoas, pela qual seus líderes se esforçam em busca de programas para salvar vidas, melhorar suas condições econômicas e garantir seus direitos fundamentais.

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    É triste constatar, mas tudo leva a crer que o presidente brasileiro dorme tranquilo, sem pensar em como salvar vidas e melhorar a terrível desigualdade social do país. Sua única obsessão parece ser trabalhar para que os brasileiros, principalmente os mais necessitados, continuem aparecendo para o mundo como um rebanho sem pastor, enquanto continua brincando com os mortos da pandemia e usando Deus como seu talismã para fazer os mais pobres e necessitados se esquecerem de sua vida dura e sacrificada.

    Em vez de seu lema “Deus acima de todos”, poderia trocá-lo por:

    “Aqueles que sofrem dor física e moral acima de tudo”.

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    Penso nos milhões de brasileiros sem cultura e sem recursos econômicos abandonados à própria sorte enquanto seu presidente alardeia ser atleta e imortal e brinca de Deus

    Triste Brasil.

     

    (Transcrito do jornal El País)

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