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Bolsonaro é derrotado na Bolívia (Por Hubert Alquéres)

Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 18 nov 2020, 19h47 - Publicado em 21 out 2020, 11h00
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  • Conhecido o vencedor das eleições da Bolívia, os países do continente se apressaram em parabenizar o presidente eleito, Luis Alberto Arce, do Movimento ao Socialismo – MAS. Até Donald Trump observou a liturgia da diplomacia. Houve apenas uma dissonância, o governo brasileiro, que recolheu-se ao silêncio sem disfarçar seu profundo incômodo com o resultado. O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomaram partido na disputa interna de outro país desde que Evo Morales renunciou por pressão de militares.

    O princípio da autodeterminação dos povos – pilar da política externa brasileira desde os tempos de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco – deveria levar o governo a, imediatamente, construir pontes com Arce, deixando de lado divergências ideológicas. Quando nada porque a Bolívia é o país com o qual temos a maior fronteira – 3.126 quilômetros –  e interesses complementares na economia.  Basta citar o Gasbol, (Gasoduto Bolívia Brasil) com seus 3.150 quilômetros de extensão, dos quais 2.593 em território brasileiro.

    As primeiras declarações de Luis Arce sinalizam que não repetirá o erro de Morales de dividir os bolivianos e de atropelar a democracia, forçando um terceiro mandato, e tentando um quarto. O novo presidente diz querer fazer um governo voltado para o futuro de todos, revelando que também dialogará com empresários, o que não acontecia com Morales. Por enquanto, são intenções, mas não deixam de ser um bom sinal.

    É do interesse do Brasil fortalecer essa disposição do novo governo boliviano, tanto para o bem da estabilidade da região como para o desenvolvimento dos negócios com a nação vizinha. Se não agir assim, o país aprofundará a perda de protagonismo no continente, fenômeno que vem ocorrendo em decorrência de uma política externa pautada por víeis ideológico, que pensa a divisão do mundo como se vivêssemos os tempos da guerra fria e o comunismo fosse a grande ameaça mundial.

    No último sábado, véspera da eleição boliviana, o presidente estava combatendo seus moinhos de vento, em solenidade da Academia Militar das Agulhas Negra. Voltou a estigmatizar a Argentina, dizendo que ela segue o caminho da Venezuela. No caso da Bolívia, Bolsonaro se apressou em apoiar a queda de Morales e até a undécima hora  atuou para unir os candidatos da direita para evitar a vitória do MAS.

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    A viseira ideológica da política externa de Bolsonaro e Araújo já havia nos levado a atrelar nosso destino ao de Juan Guaidó, reconhecendo um governo que não controla sequer um quarteirão na Venezuela.

    De uma lado, essa política abriu mão de qualquer papel de liderança no continente e, de outro, se alinhou automática e servilmente aos Estados Unidos, como ficou evidenciado na humilhante visita do secretário de Estado Mike Pompeo a Roraima, junto à fronteira com a Venezuela. O episódio provocou uma dura nota do presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, na qual afirmou que a visita não condizia com a “boa prática diplomática internacional” e afrontava “as tradições de autonomia e altivez da política externa e de defesa brasileiras”.

    Essa tradição da política externa era do exercício do pragmatismo responsável, pautando-se pela defesa dos interesses brasileiros e de não ingerência em questões internas de qualquer outro país. Bolsonaro fez tudo ao contrário nas eleições da Argentina e do Uruguai e agora na Bolívia.

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    Não se estranha, portanto que na América do Sul os aliados estratégicos do governo brasileiro sejam Guaidó e a direita boliviana. Isolamento maior, impossível.

    Também em política externa não há espaço vazio. Se o Brasil abdicar do protagonismo de liderança comprometida com a estabilidade política da região, alguém desempenhará esse papel. O presidente da Argentina é forte candidato a isso, enquanto Bolsonaro se isola até mesmo de países governados por um centro-direita democrático, como o Chile de Sebastian Piñeira e o Uruguai de Luiz Lacalle.

    Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul. O peronismo voltou ao poder na Argentina, Maduro continua sendo o presidente da Venezuela e a direita que derrubou Morales foi derrotada pelo voto. O pior: em todas essas derrotas Bolsonaro passou recibo, com firma registrada em cartório.

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    Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação. Escreve às 4as feiras no Blog do Noblat

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