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A farda do político

Os militares encarnam a simbologia nacionalista

Por Gaudêncio Torquato
Atualizado em 30 jul 2020, 20h03 - Publicado em 6 jan 2019, 10h00
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  • Jair Bolsonaro fez questão de exibir sua identidade verde-amarela ao adentrar o território da política. Ao puxar a bandeira brasileira do bolso e acenar para a multidão, no Parlatório do Palácio do Planalto, o presidente enalteceu compromissos de sua campanha: o verde-amarelismo abriga ânimo cívico, nacionalismo, soberania nacional, combate à ideologia de esquerda. O fecho da mensagem aponta a divisão entre seu eleitorado e contingentes lulopetistas: “essa bandeira jamais será vermelha”.

    A expressão se fortalece em função de sua origem. Mais que outros segmentos, os militares encarnam a simbologia nacionalista, como definir o Brasil sob seu mando como enclave poderoso no sul do continente a lutar contra a foice e o martelo (o comunismo) e, por tabela, o socialismo, este  suavizado por elementos do liberalismo, formando a social-democracia.

    A esquerda tem se enfraquecido nos países social-democratas, casos de Alemanha, Itália, Espanha, Hungria, Polônia e até Suécia. A crise da democracia representativa fragiliza vetores, como arrefecimento das ideologias, declínio de partidos, desânimo das bases, fragmentação das oposições. Em contraposição, novos polos de poder se multiplicam em decorrência de coisas como a globalização, a imigração e o nacionalismo.

    A globalização rompeu as fronteiras nacionais. A livre circulação de ideias e a troca de mercadorias contribuem para a formação de uma homogeneidade sócio-cultural, com prejuízo para os conceitos de soberania, independência, autonomia. Explosão demográfica, carências das margens sociais e conflitos armados aceleram processos migratórios. Na Europa, há o temor de que os imigrantes contribuam para o desemprego da população nativa, com impactos culturais descaracterizando signos e símbolos das Nações.

    Nos Estados Unidos, os fenômenos são tratados de maneira dura por Donald Trump que insiste no muro na fronteira com o México, desfralda o discurso nacionalista de proteção ao emprego e melhora das condições de vida de populações ameaçadas pelo fluxo migratório. Daí sua posição ante a globalização, contrário a acordos patrocinados pela ONU sobre o clima, a situação de países como Venezuela, Cuba e Nicarágua e a política de defesa de direitos humanos.

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    Nessa encruzilhada, Bolsonaro e Trump se encontram. Como pano de fundo, vê-se a integração contra ideologias de esquerda, o fortalecimento de vínculos conservadores e o impulso ao liberalismo. Deixar o Estado com o tamanho adequado para cumprir suas tarefas. E manter o cobertor social no tamanho dos recursos. Nem lá nem cá. Mais: sem apoio a núcleos que batalham por direitos. (A decisão de combater o “politicamente correto” não seria resposta à ideologia de gêneros?)

    Em suma, um programa arrojado na economia, ações no campo, combate à corrupção, disposição de cortar as fontes da bandidagem, desfralde dos valores da família, sob as bênçãos de Deus, é assim que o novo governo quer “consertar” o país.

    P.S. Com direito da população de acompanhar tudo pela linguagem de Libras. Com a simpática Michelle, ao lado do marido, e seu cativante sorriso.

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    Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político 

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