Parecem inevitáveis as chances de o Congresso instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Até mesmo a base de apoio do governo passou a apoiar a ideia, ao mesmo tempo que se articula para tentar controlar os postos-chave da comissão e isolar a ação de grupos bolsonaristas. A temperatura aumentou depois da saída do ministro Gonçalves Dias do Gabinete de Segurança Institucional.
Na economia, fica a dúvida se essa guinada política no Legislativo vai tirar o foco de pautas consideradas importantes para que o país retome o rumo de um crescimento mais duradouro, como a votação das reformas tributária e administrativa, além da nova âncora fiscal já nas mãos dos parlamentares. Neste ponto, não há ainda um consenso entre empresários e banqueiros.
“Apesar de existirem sérios motivos para que haja essa CPMI, ela vai complicar a agenda do governo. Sou contra pelo impacto que trará ao Pais. O governo Lula já é um governo politicamente muito frágil, com muitos desafios pela frente e, até agora, sem nenhuma agenda efetiva. Criar essa CPMI pode parar o país por um tempo que não temos”, diz um empresário à coluna. “Cansei de política. Só quero uma política econômica decente para que possamos trabalhar”, completa um banqueiro de São Paulo. “Desnecessária (a CPMI), deixa a Justiça atuar.”
Entre aqueles que não veem por ora um impacto maior, o argumento é que uma CPMI seria fundamental para o ambiente político. “Claro que sou (a favor da CPMI). É um tema sensível o suficiente para que o Congresso se debruce sobre ele. Tem um ex-ministro preso (Anderson Torres, da Justiça no governo Bolsonaro) por conta disso”, afirma um ex-banqueiro do setor público. “Impacto na economia? Acho que é neutro”, completa ele. Na mesma toada, diz um executivo que participa do conselho de administração de grandes empresas nacionais: “Com os últimos acontecimentos, ficaram muitas perguntas sem respostas. Precisa ter mais transparência”. E completa, se referindo a possível impacto da CPMI na economia nacional: “Uma coisa não deveria afetar a outra. Ficou muito ruim esta falta de transparência, e agora precisa esclarecer de alguma forma, mesmo que com algum custo”. O jogo está só começando.