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Murillo de Aragão

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Uma tragédia institucional

A mistura de omissão, incompetência e delírio é explosiva

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 11h05 - Publicado em 14 jan 2023, 08h00
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  • A depredação dos palácios no Distrito Federal, no domingo 8, é o ponto mais baixo a que nossa democracia chegou desde o seu restabelecimento. O fato se soma a uma sequência de episódios grotescos, como o vandalismo na capital do país no dia da diplomação do presidente eleito e a tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília.

    As imagens terríveis de milhares de pessoas caminhando pela Esplanada dos Ministérios sem enfrentar praticamente nenhuma oposição, com o intuito de depredar os palácios dos três poderes, me lembrou o cenário da Argentina, que poderemos repetir aqui, se não tivermos juízo e responsabilidade. Lá, periodicamente, existem saques, depredações, desvalorização cambial e protestos imensos por causa dos descaminhos econômicos e institucionais.

    O que pode acontecer no Brasil a partir da violência perpetrada no domingo? Depende basicamente da reação das instituições e da sociedade. Ficou claro que houve incompetência generalizada, leniência e omissão por parte de autoridades. Na situação em que vivemos, a mistura de omissão, incompetência e delírio é explosiva, ainda que não resulte em nada revolucionário. São expressões de desapego à democracia, ignorância cidadã e escolhas erradas que podem trazer muita intranquilidade. O novo governo não soube defender as instituições.

    A democracia sai fortalecida do episódio, já que setores radicais de oposição ficaram desmoralizados. O ex-presidente, pela postura pouco assertiva em relação ao ocorrido (e, muitas vezes, ambígua), se apequenou como liderança política.

    “As invasões em Brasília fortalecem politicamente Lula e atingem mortalmente o seu opositor”

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    O ocorrido não seria jamais uma Queda da Bastilha. Não passa de uma revolta contra as regras que determinaram o resultado eleitoral. Foi também uma demonstração de precária autocrítica, visto que os derrotados, pela soma industrial de equívocos, “entregaram” a eleição para os vitoriosos, ainda que por uma margem apertada. Os inconformados com a derrota deveriam se revoltar é contra os aliados que jogaram granadas em policiais e perseguiram pessoas com pistola pelas ruas de São Paulo, dando vazão a discursos lunáticos. Querem queimar o sofá como se ele fosse o culpado pela traição.

    Ao fim e ao cabo, a derrota autoinfligida acabou culminando na passeata de insensatos, sob o olhar complacente das autoridades. As insatisfações com o processo político são legítimas, até que deixem de se expressar de forma legal. A prática da violência como expressão política deveria gerar um cancelamento perante o mundo institucional.

    No campo prático, o ocorrido forneceu uma narrativa que justifica muitas decisões do Judiciário, arbitrárias ou não, no enfrentamento de radicais. Se alguém tinha dúvida sobre a periculosidade deles, não há mais. Para piorar para o lado da oposição, os vândalos e criminosos de 8 de janeiro outorgaram ao presidente Lula o título de “campeão da democracia”, sob os aplausos do mundo democrático e não democrático. Até Vladimir Putin se solidarizou com ele!

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    Em um contexto paradoxal, o presidente estava emparedado por seu discurso ambíguo e retrógrado na economia. Lutava para controlar ministros que, boquirrotos, faziam planos de governo sem combinar com o chefe. Em meio a dificuldades, as invasões em Brasília fortalecem politicamente Lula e atingem mortalmente o seu maior opositor.

    Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824

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