Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Reflexões sobre a diplomacia

A política externa do Brasil não pode ser guiada por ideologias

Por Murillo de Aragão 6 out 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em um mundo cada vez mais complexo em termos geopolíticos, uma impressão prevalece: a incerteza e a insegurança continuarão a dominar os próximos tempos. Nesse cenário global instável, é essencial refletir sobre o papel da diplomacia brasileira. Nas últimas duas décadas, salvo um breve período durante o governo Michel Temer, a diplomacia brasileira tem sido orientada por interesses ideológicos dos governos de plantão, em detrimento da tradição diplomática consolidada ao longo do tempo.

    No entanto, é imperativo lembrar que a diplomacia deve ser uma política de Estado, pautada pelos grandes interesses nacionais, e não um instrumento de governos transitórios. Historicamente, o Brasil sempre foi reconhecido por sua diplomacia prudente, atenta à busca por consensos em tempos de tensão. No entanto, à medida que enfrentamos crises globais — como os conflitos no Oriente Médio, a invasão da Ucrânia e a instabilidade na Venezuela —, o Brasil tem adotado uma postura pública que se distancia de sua tradição de equilíbrio e da defesa dos valores da sociedade brasileira.

    “Somos agressivos onde não deveríamos ser e complacentes onde a firmeza é necessária”

    Atualmente, o país parece estar se afastando das democracias ocidentais. Esse distanciamento ficou evidente na Assembleia Geral da ONU, quando a delegação brasileira boicotou o discurso de Benjamin Netanyahu e apoiou a proposta de paz da China para a guerra na Ucrânia — uma proposta que, na prática, mantém o controle russo sobre territórios invadidos. Embora Neta­nyahu seja alvo de críticas por não apresentar soluções claras para o conflito com os palestinos, o Brasil parece ignorar o fato de que a recente escalada no Oriente Médio começou com ataques do Hamas e de grupos financiados pelo Irã. Esses ataques incluem milhares de foguetes lançados pelo Hezbollah e o uso de drones por milícias no Iêmen, no Iraque e na Síria.

    Apesar dos excessos cometidos, a guerra de Israel é, em essência, uma guerra de autodefesa. Enquanto boicota Israel, o Brasil mantém silêncio sobre o apoio explícito do Irã a grupos terroristas no Oriente Médio — justamente no momento em que o Irã está prestes a integrar o bloco dos Brics. Além disso, a diplomacia brasileira não tem sido assertiva na defesa dos interesses comerciais do país, agora ameaçados por políticas protecionistas europeias, supostamente justificadas por preocupações ambientais. Há uma inversão de prioridades: somos agressivos onde não deveríamos ser e complacentes onde a firmeza é necessária, especialmente diante do protecionismo europeu.

    Continua após a publicidade

    A política externa do Brasil não deve ser guiada por uma ideologia antiocidental que põe em risco as relações com as democracias e enfraquece os valores centrais da diplomacia nacional. Manter a independência tradicional é fundamental para o Brasil, que não deve se alinhar a interesses geopolíticos que comprometam sua credibilidade internacional. A substituição de uma visão nacional de longo prazo por interesses imediatos enfraquece a continuidade de uma política externa coerente e respeitada, que sempre foi um dos pilares da louvável atuação internacional do país.

    Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.