Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Prudência institucional

Sem freios, um carro pode ir velozmente, mas o acidente é certo

Por Murillo de Aragão 15 set 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Historicamente, o medo ajudou a humanidade a evitar predadores e outras ameaças, assegurando a sua sobrevivência. O sistema de luta ou fuga (fight or flight) é acionado por essa emoção, aumentando nossa vigilância, acelerando o coração e liberando adrenalina para que possamos reagir com prontidão. Nos dias de hoje, embora os perigos sejam de outra ordem — sociais, econômicos e psicológicos —, o medo continua a ser um fator crucial na adaptação e na sobrevivência da humanidade e, também, das instituições. Ele pode estimular comportamentos de autopreservação e prudência, prevenindo ações que nos colocariam em risco.

    Quando a questão é contextualizada no ambiente institucional, o medo adquire um papel de prudência e contenção. Impõe limites a comportamentos e decisões que podem comprometer a estabilidade das instituições. Na política, o receio de crises institucionais, de perda de legitimidade ou de erosão de direitos leva os líderes a agir com cautela. Esse receio pode, por exemplo, forçar a negociação de coalizões, como ocorre no presidencialismo, no qual o temor da paralisia legislativa ou do impeachment incentiva os agentes políticos a buscar compromissos.

    A contenção institucional também é refletida na estrutura de freios e contrapesos das democracias. A ideia de que o poder concentrado tende ao abuso fez com que constituintes e legisladores criassem mecanismos de controle, como o sistema de accountability e a separação dos poderes. Sem esses mecanismos, o exercício do poder ficaria vulnerável ao autoritarismo.

    “O medo continua a ser um fator crucial na adaptação e na sobrevivência da humanidade”

    A metáfora de um carro sem freios ilustra bem a dinâmica quando um governante perde o medo — ou, mais precisamente, a prudência necessária para respeitar os limites impostos pelas instituições. O carro pode até avançar com velocidade, mas, sem freios, o acidente é inevitável. Sem esses freios, o governante pode agir com rapidez e força, mas sem a devida avaliação das consequências. Tal imprudência leva ao caos, tal como um veículo que se desloca velozmente, porém, fora de controle, o que fatalmente resulta em desastre. O exemplo claro está perto de nós com a tragédia venezuelana. Sem limites institucionais, transformou-se em uma trágica ditadura populista.

    Continua após a publicidade

    Governantes que perdem o medo das consequências institucionais — seja pela sensação de invulnerabilidade, seja pelo apoio popular, seja pelo controle sobre os mecanismos de controle — tendem a adotar posturas autoritárias. Centralizam o poder, atropelam processos democráticos e ignoram os limites impostos por freios e contrapesos. Isso acelera a execução de suas agendas, mas compromete seriamente o equilíbrio institucional, podendo provocar rupturas no sistema democrático e colocar em risco a legitimidade do próprio Estado.

    Não podemos esquecer que as pessoas passam e as instituições devem remanescer para a manutenção dos ganhos civilizatórios e pela busca de uma vida melhor para todos. Outro aspecto que devemos lembrar nos remete ao que disse o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, citando Machado de Assis: “A melhor forma de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo nas mãos”. E o ministro acrescentou: “E o chicote muda de mãos”. Em um quadro de crise institucional, a lição vale para todos os poderes no Brasil de hoje.

    Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.