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As malas pesadas do governo

A administração federal consome capital político com muitos erros

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 09h25 - Publicado em 21 jan 2024, 08h00
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  • Na abertura do ano, o governo desperdiça capital político com uma sucessão de erros e tropeços. A sequência preocupa pelo fato de o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula ter chegado ao fim marcado por um crescimento da avaliação desfavorável de sua gestão na Presidência da República. Pelo menos três equívocos parecem evidentes na virada de 2023 para 2024.

    Logo no fim de dezembro, o governo emitiu uma medida provisória para “reonerar” a folha de pagamento apenas quinze dias depois de o Congresso haver derrubado alguns vetos, mantendo a desoneração. A ação revelou falta de sensibilidade política e desrespeito ao Congresso Nacional por parte do Executivo. A impressão deixada junto aos parlamentares é a de que o governo, inconformado com a derrota dos vetos, se vinga editando uma MP em vez de tentar negociar uma alternativa.

    O evento em torno da lembrança do 8 de Janeiro foi outra iniciativa mal concebida e pobremente executada. A cerimônia adequada deveria ter sido organizada pelos presidentes dos Poderes, e não pelo cerimonial do Planalto. Idealmente, deveria ocorrer no Panteão da Democracia, simbolizando a resistência das instituições aos ataques que receberam no início de 2023. A baixa participação de governadores e o impacto limitado na opinião pública indicam que o tema foi mal planejado e mal apresentado e, no fim das contas, pouco acrescentou aos propósitos do governo.

    “Lula está sozinho na formulação política e seu ministério não o acompanha, salvo exceções”

    O terceiro erro foi a decisão de Lula de entrar precocemente na campanha eleitoral municipal em São Paulo. Com quatro partidos aliados federais na disputa paulistana, Lula deveria ter se mantido à margem e permitido que o cenário se desenvolvesse antes de tomar uma posição. A mensagem dada por Lula é a de que ele não será neutro em relação à disputa. O que, no mínimo, vai gerar desconfianças entre seus aliados no nível federal.

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    A lista de equívocos persiste, tanto no que diz respeito à política externa quanto ao funcionamento deficiente do ministério como um todo. O governo tem um ministério grande demais, que parece se destacar mais por suas controvérsias do que por suas realizações. Como um todo, o governo é uma colcha de retalhos de narrativas e iniciativas contraditórias. O núcleo central do governo é forçado a suportar um ministério que, muitas vezes, em vez de auxiliar, tende a atrapalhar. Existem ainda ministérios fantasmas, que ainda não mostraram a que vieram. E, quando há contribuições positivas, elas permanecem em grande parte despercebidas.

    Enfim, o governo consome capital político sem ter criado uma grande narrativa, sem engajar a população em seu projeto, sem mobilizar as forças econômicas de forma decisiva. Sem, sobretudo, ter uma marca. Objetivamente, o governo do terceiro mandato de Lula é mais eficiente do que parece, mas enfrenta dificuldades em demonstrar esse fato. Prevalecem as intenções de projetar percepções estereotipadas do mundo, impulsionar conceitos polêmicos, como o racismo ambiental, atacar as forças do mercado e dar vazão a declarações “lacradoras”. No fim das contas, Lula está sozinho na formulação política e seu ministério não o acompanha como deveria, salvo raras exceções.

    Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2024, edição nº 2876

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