A safra de grãos no Brasil está se iniciando. Mesmo com diversos desafios climáticos que se apresentam a cada ano, a produção deve alcançar um recorde histórico em 2024/25, com uma estimativa de 326,9 milhões de toneladas, 8,2% acima do registrado na temporada 2023/24, segundo as primeiras perspectivas divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em relação a área total, devemos alcançar 81,40 milhões de hectares, alta de 2,1%. Nas últimas 6 safras, ampliamos a área em 18 milhões de hectares (quase que 18 milhões de campos de futebol); boa parte desse crescimento veio de conversão de áreas degradadas (antes eram pastagens) ou em áreas de 2ª safra (reutilizadas no mesmo ano).
Apesar do cenário positivo, o comportamento do fenômeno La Niña tem 60% de probabilidade de surgir no final deste ano é um ponto de atenção, uma vez que seus impactos no clima global ainda são incertos. Nesse momento, o atraso nas chuvas preocupa o início do plantio, isso porque é necessário umidade no solo para que as sementes possam germinar.
Na cultura da soja, o panorama é promissor. Apesar da pressão sobre os preços e desafios que afetam a rentabilidade, a crescente demanda global, impulsionada pela expansão da produção de biocombustíveis e alta demanda de óleo e de farelo para uso na alimentação animal, reforçam as expectativas de crescimento das exportações e do processamento interno. As vendas ao mercado externo devem atingir 104,7 milhões de toneladas em 2025, um crescimento anual de 13,3%. Esse contexto favorece a expansão da área plantada, que pode atingir 47,4 milhões de hectares. Além disso, após as adversidades climáticas enfrentadas pelos principais estados produtores, a produtividade deve ser recuperada, resultando em uma produção total estimada em 166,3 milhões de toneladas, um aumento de 12,8% frente a safra anterior.
No caso do milho, a área plantada deve permanecer praticamente inalterada, mas a produtividade tende a melhorar, o que pode elevar a produção para 119,8 milhões de toneladas, 3,6% acima do ciclo anterior. Por outro lado, as exportações devem reduzir 5,6% em comparação ao ciclo anterior, ficando em 34 milhões de toneladas na safra 2024/25 (o que mantém o Brasil como maior exportador global), reflexo da demanda aquecida pelo cereal no mercado interno, impulsionada pelo bom desempenho das exportações de proteína animal, que utiliza o grão na alimentação. Além disso, a produção de etanol a partir do milho deve crescer 17,3%, o que também ajudará a aumentar a demanda no Brasil.
Em relação ao algodão, a Conab estima um crescimento de 3,2% da área cultivada, que pode atingir 2 milhões de hectares. Os produtores estão investindo na fibra devido à sua alta rentabilidade em comparação a outros grãos, à facilidade de comercialização antecipada e à competitividade do preço e da qualidade da pluma brasileira no mercado internacional. Esses fatores sustentam as expectativas de uma colheita de 3,7 milhões de toneladas na safra 2024/25.
Olhando para as proteínas, é esperado que a produção total de carnes (aves, suínos e bovinos) fique em um volume estável de 30,7 milhões de toneladas em 2025. Enquanto as carnes de frango e suína podem atingir um novo recorde com produções de 15,5 (+2,1%) e 5,4 (+1,6%) milhões de toneladas, respectivamente, a carne bovina deve reduzir para 9,8 milhões de toneladas (-4,3%). A boa perspectiva para as duas primeiras decorre de um bom ritmo de demanda interna e externa, somada a custos controlados com os preços dos grãos mais baixos.
Para o frango, as exportações devem aumentar 1,9% no próximo ano, chegando a 5,2 milhões de toneladas. Nos suínos, a alta no mercado interno deve ser de 1,1% com uma oferta de 4,2 milhões de toneladas. Na carne bovina, as exportações estão previstas para aumentar 2,5% em 2025, somando 3,66 milhões de toneladas.
Será mais um ano de desafios e complexidade no acompanhamento das atividades agropecuárias. Os agricultores precisarão focar na gestão, na responsabilidade com os gastos e do acompanhamento frequente do mercado para aproveitar momentos de oportunidades. Ainda assim, os resultados devem ser promissores. Cada vez mais a agricultura é uma atividade que exige profissionalismo e resiliência, embora seja, também, um grande ambiente para oportunidades.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande.