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Mundo Agro

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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio
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Conheça o potencial sustentável da cana-de-açúcar

Entenda como a cana molda o presente e o futuro da agricultura e da bioenergia no Brasil

Por Marcos Fava Neves
Atualizado em 9 Maio 2024, 10h19 - Publicado em 15 fev 2024, 19h23
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  • A história da cana-de-açúcar remonta a milhares de anos, com origens na Índia antiga, onde começou a ser processada para produzir o açúcar. Durante a Idade Média, o açúcar era um produto de luxo na Europa, sendo usado, principalmente, em medicamentos e como adoçante para os mais ricos. No Brasil, a cana foi introduzida no início da colonização, pelos portugueses. As condições climáticas e de solo favoráveis fizeram com que o cultivo se expandisse rapidamente, tornando o Brasil o maior produtor global.

    A cana-de-açúcar é uma cultura utilizada, principalmente, para a produção de açúcar e etanol, seus dois produtos principais. O açúcar é um dos principais adoçantes do mundo, sendo amplamente utilizado na indústria alimentícia e na produção de bebidas. No Brasil, a produção de etanol é feita primordialmente a partir da cana (90%), a partir do caldo extraído (etanol de 1ª geração) ou de resíduos da planta, como bagaço e palha (etanol de 2ª geração). O bagaço resultante da moagem ainda pode ser queimado em caldeiras para produzir vapor, que é direcionado para turbinas especiais e gera bioeletricidade, ou energia elétrica da biomassa. Já outros resíduos da indústria, como a torta de filtro, outras formas de bagaço e a vinhaça, são utilizados como fertilizantes ou para a produção de biogás, produto que é consumido para gerar eletricidade ou convertido em biometano, um valioso combustível veicular.

    O ciclo de produção da cana-de-açúcar é caracterizado por sua natureza semi-perene, onde colheitas são feitas sucessivas vezes (a cada ano) de uma mesma planta, que rebrota depois de um tempo. Esse aspecto contribui significativamente para a rentabilidade da cultura, pois reduz a necessidade de replantio. A primeira colheita ocorre geralmente entre 12 e 18 meses após o plantio, enquanto colheitas seguintes podem ocorrer a cada 12 meses, em média. Em condições ideais, uma mesma planta de cana-de-açúcar pode ser colhida 5, 6, 7 e até 8 vezes, proporcionando um ciclo de produção sustentável e economicamente viável.

    Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção brasileira gira ao redor de 680,0 milhões de toneladas, com uma produtividade de 81,1 toneladas por hectare e uma área plantada de 8,3 milhões de hectares, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Entre os fatores competitivos do Brasil no cultivo da cana estão: o clima tropical; condições climáticas e de solo ideais para o cultivo; investimentos em pesquisa e desenvolvimento para cultivares mais produtivas e resistentes; usinas altamente eficientes na extração de açúcar e etanol; e a sustentabilidade da cultura, graças a práticas como o plantio direto, reutilização de resíduos para bioenergia e biocombustíveis.

    São muitas as oportunidades de crescimento da cadeia da cana na próxima década. As preocupações com o aquecimento global e a necessidade de transição na matriz energética torna o etanol um produto cada vez mais bem aceito em muitos mercados, embora ele possa enfrentar alternativas concorrentes, como os carros elétricos e outros modelos. Além disso, o etanol de cana pode surgir como uma das matérias primas utilizadas na produção do SAF (Sustainable Aviation Fuel), abrindo novas oportunidades no mercado de aviação. No açúcar, por sua vez, embora haja tendência de mudança no comportamento dos consumidores para hábitos mais saudáveis, o crescimento da população e da economia global deve acelerar cada vez mais a demanda, em um contexto em que Brasil e Índia dominam boa parte da oferta.

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    Referência em nível tecnológico, sustentabilidade e eficiência, a cadeia da cana deve seguir se fortalecendo com práticas como a economia circular e geração de novos produtos que contribuam para reduzir as emissões e os impactos ao meio-ambiente. Esta valiosa cadeia, além de gerar oportunidades para milhares de brasileiros, ainda contribui para proporcionar um futuro mais verde e limpo para as gerações vindouras.

     

    Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.

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