Um raio de esperança: cessar-fogo no Líbano é notícia a ser celebrada
Com todos os problemas e restrições, a suspensão das hostilidades indica que pode haver uma evolução para um acordo mais amplo
Os defeitos são evidentes: é um acordo frágil, não garante que o Hezbollah não vá atacar Israel de novo e nem de longe que as hostilidades não se repitam. Mas é o melhor que foi possível conseguir para o momento e, em princípio, desativa uma represália do Irã contra Israel. Mais esperançosamente, ajudaria um acordo semelhante em Gaza, o que pacificaria toda a região, ainda que de forma precária.
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Poderão os mais de 60 mil israelenses retirados da região norte por causa dos ataques do Hezbollah retornar a suas casas? Se isso não acontecer, será uma derrota para Israel. É preciso ter coragem para voltar a morar numa região intensamente bombardeada por uma força armada que fica a apenas quilômetros de distância.
Em muitas outras ocasiões, já foi acordado que o Hezbollah recuaria para além do rio Litani, um divisor natural que dá mais garantias de segurança. Nunca aconteceu e o grupo terrorista xiita, que praticamente tomou o poder no Líbano, preparou toda a extensa rede de bases de foguetes para atacar Israel nas barbas da força da ONU que deveria impedir isso.
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A experiência indica que não há motivos para acreditar que isso não vá acontecer de novo. A própria justificativa existencial do Hezbollah é atacar Israel até, segundo acreditam os fanáticos fundamentalistas, sua erradicação.
Israel tem um histórico de intervenções desastrosas no Líbano, por causa, originalmente, do domínio da Organização de Libertação da Palestina e depois do Hezbollah, que usaram o país como base de ataques.
Isso, realisticamente, não vai mudar. Apesar dos ataques devastadores, a partir do grande golpe dos pagers explosivos, e dos bombardeios que eliminaram praticamente toda a alta cúpula da organização, o Hezbollah continuou a ter capacidade operacional para desfechar foguetes contra o território israelense, chegando a intensificá-los nos últimos dias.
Pela lógica implacável da guerra, Israel acabaria com forças terrestres cada vez mais envolvidas, uma experiência que já deu tão errado antes.
Evitar outro erro desse tipo é uma das vantagens do cessar-fogo. Se o Irã desistir do ciclo de ataques e represálias, será um grande avanço. E o acordo propicia até a esperança de que o Hamas, sem seus principais aliados em ação, acabe negociando um acordo que liberte os reféns e suspenda as operações em Gaza.
É tudo incrivelmente complicado, mas a partir de hoje o momentum, o impulso que move acontecimentos de alta complexidade, está jogando a favor.