O sucesso de Israel em proteger sua própria população, com abrigos para milhões de pessoas e uma quase invulnerável Cúpula de Ferro, o sistema antiaéreo que derrubou a maioria esmagadora dos 180 mísseis balísticos lançados pelo Irã ontem, está sendo usado agora convencer seus líderes a moderar a resposta ao ataque.
Se houve um único morto pela chuva de mísseis – justamente um palestino, atingido por estilhaços -, o mais razoável seria não aumentar o nível da conflagração, inclusive com a possibilidade de ataque a instalações petrolíferas que mandariam o preço do óleo para o espaço e afetariam o planeta inteiro.
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É uma consideração a ser levada em conta. O argumento contrário foi assim resumido pelo analista militar Seth J. Frantzman, do Jerusalem Post: “É uma falsa percepção a de que simplesmente porque uma bala atinge um colete à prova de balas, a pessoa que a disparou deve ser imediatamente libertada”.
“Eles não nos deixaram escolha. Estão agindo agora como se pudessem fazer o que quisessem”, concordou o ex-diretor do Conselho Nacional de Segurança, Yaakov Amidror. Mas o timing da resposta precisa ser bem calculado. “Queremos lidar com eles enquanto estamos no Líbano? Ou primeiro desmontamos o Hezbollah e depois lidamos com os iranianos?”.
O CÉU É O LIMITE
Politicamente, é difícil para o governo protelar a reação. Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro e sempre um nome que pode voltar à baila, defendeu que o país “destrua o programa nuclear, destrua as principais instalações energéticas e atinja criticamente este regime terrorista”.
Isso não vai acontecer, mas a reação certamente será mais intensa do que ao primeiro ataque iraniano, em 13 de abril passado.
A única possibilidade de que Israel faça um contra-ataque moderado é por pressão dos Estados Unidos, que ajudaram o país a, de novo, humilhar o regime iraniano, derrubando sua cota de mísseis, muitos antes sequer de chegar ao espaço aéreo de Israel.
Há fontes falando na hipótese de um ataque a poços, refinarias ou portos por onde o Irã escoa o 1,4 milhão de barris que exporta por dia. As consequências para a economia mundial seriam, obviamente, enormes. Já houve um aumento de 5% por causa da situação de alta volatilidade, mas seria muito maior caso a guerra chegasse às instalações petrolíferas. O Brasil, que é simultaneamente exportador e importador, sofreria graves consequências.
O preço do futuros Brent, um dos balizadores do mercado, está em 74,64 o barril. O céu, evidentemente, é o limite.
ASAS CORTADAS
É, no entanto, uma situação muito diferente de 1973, quando os países árabes produtores decretaram o boicote contra Estados Unidos e outros aliados pelo apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur, com graves consequências para o mundo inteiro.
Hoje, os árabes – excetuando-se xiitas como Iraque e Iêmen e milícias/estados, como o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano – vivem em perpétuo temor da expansão iraniana e jamais adeririam a um boicote. Ao contrário, gostariam de ver as asas iranianas cortadas.
Israel fará isso? O Irã é um país 75 vezes maior do que Israel, com população nove vezes maior. É dominado por um regime que quer destruir o estado judeu, por fanatismo religioso, e garantir a própria sobrevivência, por pragmatismo, num mundo islâmico em que os xiitas são uma minoria de apenas 10%. Construiu um eixo de aliados e um enorme aparato bélico, movido ao dinheiro do petróleo, a ponto de fornecer armamentos para a Rússia na guerra contra a Ucrânia.
Se Israel não fizer nada, é claro que o Irã se sentirá incentivado a repetir a dose, até conseguir que “os judeus se reúnam no cemitério”. Se fizer pouco, agrada os Estados Unidos e o resto do mundo, mas perde em matéria de poder de dissuasão. Se fizer muito, as consequências são potencialmente cataclísmicas.
Qual o caminho menos ruim?