“Cometi um grande, grande erro”, disse a atriz americana Jane Fonda sobre a visita – com uma foto famosa – que fez a Hanói em 1972 em plena Guerra do Vietnã, posando ao lado de uma bateria antiaérea. Ela era contra a guerra, mas passou a impressão de que era contra os soldados americanos que morriam ou sofriam torturas quando capturados.
Farão algum dia uma autocrítica parecida os estudantes dos maiores centros da elite do pensamento que hoje glorificam o Hamas, ameaçam colegas judeus e pregam a eliminação de Israel “por todos os meios necessários”. Alguns manifestantes chegaram a dizer a estudantes judeus que enfrentariam um “7 de outubro todos os dias”. Mais um slogan: “Voltem para a Polônia”.
Isso mesmo, em Columbia, com seus 103 Prêmios Nobel, um lugar que deveria ser o coração iluminado da América, um país de imigrantes, ouve-se em 2024 que aqueles “conspurcados” pelo judaísmo deveriam voltar para países europeus de onde vieram seus antepassados.
Outras palavras de ordem, rimando em inglês: “We say justice, you say how? Burn Tel Aviv to the ground”.
Queimem Tel Aviv até o fim.
É de dar vergonha da truculência, do preconceito, da violência das palavras e dos atos, do terrível engano de apoiar terroristas como se fossem os salvadores dos palestinos.
A situação ficou tão descontrolada em Columbia que a reitora Minouche Shafik, economista de origem egípcia que já dirigiu a London School of Economics, decidiu que ontem as aulas seriam todas remotas para “desescalar o rancor e dar a todos nós a oportunidade de considerar os próximos passos”.
“A linguagem antissemita, como qualquer outra linguagem usada para magoar e assustar pessoas, é inaceitável”, afirmou, cheia de dedos. Pelo menos, falou.
BOLHA PRIVILEGIADA
Muitos universitários que participam das manifestações que estão se alastrando pelos principais centros de ensino obviamente têm uma compreensão limitada das complexidades envolvendo o conflito entre Israel e palestinos. Gritam “Somos todos Hamas” cobrindo o rosto com o lenço xadrez, ou keffyeh, que só é usado pelos palestinos da Fatah, o grupo original de Yasser Arafat. Saberiam eles que houve uma pequena guerra civil entre as duas organizações em 2007, redundando na expulsão do pessoal do keffyeh que controlava Gaza? Que cerca de 600 homens da Fatah foram mortos?
No MIT, homens e mulheres de lenço na cabeça estavam fazendo juntos as orações muçulmanas – como se isso fosse possível na vida real, fora da bolha em que vive a geração mais privilegiada de todos os tempos
Todo mundo sabe que as universidades são majoritariamente de esquerda, em qualquer lugar do mundo, uma mistura do natural idealismo da juventude e de um longo movimento de consolidação do neomarxismo entre as elites acadêmicas. É possível passar a vida inteira numa cátedra sem sequer um lampejo de autocrítica ou simples curiosidade sobre modos de pensar alternativos, mesmo quando acompanhados de fatos incômodos.
Manifestantes que ocupavam o campus de Columbia em área proibida foram detidos na semana passada e outros ontem em Yale – sendo, claro, quase que imediatamente liberados.
PROBLEMA PARA BIDEN
Ser radical chique está na moda há várias décadas. Mas proclamar “Hamas, we love you. We support your rockets too” é replicar o discurso do terror com uma facilidade que nem a juventude nem o esquerdismo explicam. É entrar no campo da pura eliminação de Israel, naturalizando uma abominação sem precedentes na história da esquerda.
Ironicamente, uma ala mais nacionalista da direita não se comove com os ataques esquerdistas que pregam a destruição de Israel, insistindo que intelectuais judeus estão e estiveram entre os maiores promotores do pensamento pós-moderno tal como viceja nas universidades onde hoje o Hamas é glorificado.
Pois é, há pessoas voltando a pregar o rótulo “judeu”, com caráter pejorativo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não há nenhuma Jane Fonda entre as garotas que gritam uma indecência moral como “Somos Hamas”.
Os protestos estão se tornando um problema político sério para Joe Biden, transtornando uma campanha já complicada. Para os não envolvidos na disputa presidencial, são um problema moral: como, em nome da rejeição à guerra, jovens americanos defendem a extinção de um país e o extermínio de judeus?