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Pode um ministro da Economia com inflação de 140% ser presidente?

Sergio Massa usou todos os argumentos — todos mesmo — para ser o candidato peronista e, como isso acontece na Argentina, o impossível é possível

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 27 jun 2023, 07h31 - Publicado em 27 jun 2023, 07h18
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  • Escrevendo no Infobae, Fernando González reconstituiu como Sergio Massa, o ministro da Economia, conseguiu virar o jogo e sair candidato a presidente pelo peronismo, mesmo depois que a grã-sacerdotisa Cristina Kirchner já havia colocado na arena um outro nome.

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    “Eu vou à m****, levo meu pessoal, volto para casa e vocês continuem com a economia, vão a Washington negociar com o Fundo e ver o que podem fazer”, disse ele.

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    O argumento funcionou e o impossível, como tantas vezes acontece na Argentina, caiu sobre a cabeça de uma nação estupefata: Cristina havia mudado de opinião e, em vez de seu candidato queridinho, Wado De Pedro, que estava a poucas horas de divulgar o vídeo de lançamento de campanha, optou pela chapa de “união nacional” — conveniente para uma coligação que mudou de nome e, de Frente de Todos, passou a se chamar União pela Pátria.

    Diante da catástrofe de uma chapa sem força, com garantia de derrota humilhante, os governadores peronistas se rebelaram e Cristina os ouviu. Ouviu até seu poste, Alberto Fernández, com quem estava rompida.

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    Rifar um amigo do peito, íntimo do próprio filho, Máximo, foi o mínimo que Cristina fez. Seja qual for a opinião que se tenha sobre ela, é impossível não reconhecer que a mulher é poderosa. Cordatamente, os peronistas de esquerda que simbolicamente incineravam Massa em público, chamando-o do pior dos epítetos — “de direita” —, passaram a elogiá-lo.

    “É o que há”, suspirou o Página 12, que é ultraK. Discretamente, traçou um futuro realista: “Antes substituído e agora entronizado em primeiro lugar, um homem como Massa, jovem e extremamente ambicioso, poderia acumular cenários tanto propícios como de derrota inexorável se a economia não lhe der folga”.

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    Pois é verdade, por incrível que pareça. Como um ministro da Economia que deve chegar ao fim do ano, época do segundo turno presidencial, com inflação de 140%, um número massacrante para qualquer cidadão, mas especialmente cruel para os mais pobres, a tradicional reserva de votos do peronismo, pode pensar em ganhar eleição?

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    Apresentando-se como alternativa ao caos.

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    Por mais incrível ainda que pareça, o mercado reagiu bem, dentro do mesmo espírito do Página 12: Massa “é o que há”: as opções dentro do espectro peronista eram todas piores. O bom trânsito do ministro entre um certo empresariado e o reconhecimento “em Washington” — leia-se FMI, o destino final dos fracassados — de que é um ator racional ajudaram.

    Até o sumido presidente Alberto Fernández deu sua contribuição. Voltou a falar com Cristina por telefone e propôs tirar “seu” nome da disputa, Daniel Scioli, o atual embaixador no Brasil. Emplacou o candidato a vice da chapa peronista, Agustín Rossi, e foi para Brasília choramingar no ouvido de Lula da Silva. A coisa está virando um hábito.

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    Massa parte de uma base importante: os 20% ou 25% do eleitorado que votam em quem Cristina Kirchner mandar, tenha o ungido forma humana, animal ou vegetal.

    Esta é quase a mesma porcentagem de votos que terá o candidato final do Juntos pela Mudança — e, mais ainda, o anarcocapitalista Javier Milei.

    Ou seja, tudo é possível. Inclusive os oposicionistas se anularem mutuamente.

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    “Se a oposição ficar muito polarizada, abrirá um espaço no centro que o bloco peronista poderá ocupar”, especulou o consultor Juan Cruz Díaz, falando para o Yahoo News.

    Se não conseguir o impossível, Cristina não vai chorar, dizem as más línguas, dentro do seguinte espírito: “É melhor que Massa, que não é amigo, perca, do que Wado, que é amigo”.

    “Massa ganhou por obstinação, não por boniteza”, disse uma fonte ao La Nación, definindo, elogiosamente, a maior qualidade do candidato.

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    Nem toda obstinação do mundo, como está comprovado, pode dar jeito numa economia em que os fundamentos estão errados: governo endividado e originalmente nada preocupado em ter “um pouco de inflação”, orgia de benefícios que são brutalmente desvalorizados pelo descontrole macroeconômico, estado indutor, capitalismo entre “amigos”, total ocupação da máquina estatal e outras barbaridades.

    Massa tem 51 anos e, como bom pragmático, já foi de tudo, inclusive, como notou Joaquín Morales Solá no La Nación, “menemista, duhaldista, kirchnerista, antikirchnerista e de novo kirchnerista, depois de um breve passeio pelas redondezas do macrismo”. 

    Disse, famosamente, num momento que agora quer disfarçar da biografia, que colocaria Cristina na cadeia. Os tempos mudam e é ela que hoje banca sua candidatura. O beijo entre os dois, ontem, foi coisa de filme — algo na linha A Poderosa Chefona. Sem o apoio dela, Massa seria apenas um ministro tomado por delírios de grandeza que imagina poder apagar, também, a projeção dos 140% de inflação.

    Que bom seria para a Argentina se esse pragmatismo funcionasse para restaurar a sanidade econômica.

    Como candidato de união, Massa está garantido nas PASO, as eleições primárias que escolherão os nomes das diferentes chapas, em 13 de agosto. O primeiro turno da eleição presidencial é em 22 de outubro e o segundo em 19 de novembro.

    Até agora, Massa está conseguindo garantir que o país chegue em um só pedaço, sem as explosões tectônicas que periodicamente embaralham tudo na Argentina. 

    É muito e, ao mesmo tempo, muito pouco. Mas é o que há para o momento.

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