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Patrulha chinesa: games, meninos ‘afeminados’ e influencers vulgares

Até votações para shows de talentos entram na lista do controle estatal, enquanto pensamento do presidente Xi entra no currículo escolar

Por Vilma Gryzinski 3 set 2021, 08h25

Até que muitos pais gostariam disso: games online para crianças e jovens dos 7 aos 17 anos, só uma hora por dia, das 8 às 9 da noite. No fim de semana, duas horas.

As empresas de games que se virem para implantar a nova regra num país de 1,4 bilhão de habitantes. Algumas já estavam sofrendo desvalorização de suas ações desde que um artigo num órgão estatal chamou os viciantes jogos de “ópio do espírito” – e nenhum outro país entende do assunto como a China, onde o império britânico travou duas guerras no século 19 para obrigar o consumo do ópio produzido na Índia.

Uma intervenção puxa a outra e a Tencent, gigante dos games, disse que vai usar programas de reconhecimento facial para impedir que menores joguem entre as 10 da noite e as 8 da manhã.

Também estão sofrendo em silêncio os cursos de aulas particulares, que floresciam no sistema de educação altamente competitivo. Foram proibidos há um mês. É um setor que emprega 10 milhões de pessoas, agora no limbo.

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Como a interferência do estado na vida privada nunca fica só numa única esfera, a atual onda de patrulhamento inclui a estética “afeminada”, disseminada através dos cantores adolescentes que se espelham nas boy bands sul-coreanas.

Também entraram na mira da Agência Nacional de Rádio e Televisão os influencers “vulgares” – quase um pleonasmo –, as votações características dos shows de talentos, incentivo à formação de grandes massas de fãs, comportamentos que vão contra “a moral e a ordem pública”. Até filhos de estrelas do show business são proibidos de participar de programas de televisão.

Nada estranhamente, as medidas de controle do comportamento tomadas pelo regime comunista poderiam muito bem constar de programas conservadores do outro lado do espectro político.

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O comunicado da agência reguladora informa que os meios de comunicação precisam enfatizar mais “a cultura tradicional chinesa, a cultura revolucionária, a cultura socialista”. Entre outras coisas, implantando um “padrão correto de beleza” – sem meninos de maquiagem e roupas fashion, evidentemente.

Detalhe: homens com brinco e tatuagens, no show business ou no esporte, já estavam na lista negra desde 2018.

A “feminização” de meninos e rapazes, principalmente da geração de mimados filhos únicos, é uma preocupação permanente das vigilantes autoridades chinesas. Existem até cursos de “masculinização”, no estilo acampamento para ensinar meninos a cultivar atividades mais viris.

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Cantores, artistas e correlatos são regularmente incentivados a fazer manifestações “patrióticas”, ou seja, segundo a linha justa determinada pelo Partido Comunista da China. Entre outras atitudes obrigatórias, está aderir a boicotes de empresas estrangeiras que manifestem preocupação com o uso de mão-de-obra escrava de uighurs, a minoria muçulmana da região de Xinjiang que é severamente reprimida na prática religiosa.

As estrelas que saem da linha, principalmente no quesito evasão de imposto de renda, simplesmente são apagadas do mundo digital – tão ou mais importante do que o da vida real.

O caso mais recente envolveu a atriz Zhao Wei, uma das mais conhecidas da China (fez o Kung Fu Futebol Clube, não exatamente uma obra de arte, e uma versão chinesa de Mulan). Como num ato de mágica, ela simplesmente desapareceu de todas as plataformas digitais, seu nome foi apagado dos filmes que estrelou ou dirigiu e sua página no Weibo, o Twitter chinês, sumiu.

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Um dia antes do apagão, o jornal em inglês do partido se referiu a Zhao Wei como “a estrela cercada de escândalos”, mencionando encrencas relacionadas a investimentos – entre elas, no Alibaba, de Jack Ma, o bilionário que passou três meses “desaparecido” entre o fim do ano passado e começo desse. Até agora, não foi exatamente esclarecido o que aconteceu com Ma.

A atual onda de “moralização” do entretenimento faz parte de uma série de iniciativas do Partido para restaurar os padrões esperados de um país onde vigora o “socialismo com características chinesas”, sendo a mais específica delas a abertura – controlada – para a livre iniciativa que transformou o país em superpotência econômica.

Com a espetacular elevação dos padrões de vida, vieram outros efeitos da abundância, inclusive os comportamentais.

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Para revigorar o fervor revolucionário, foi introduzido no currículo escolar, do ensino primário ao superior, a disciplina que trata do pensamento do presidente Xi Jinping.

Soa ridículo, principalmente pela comparação com o intenso e alucinado culto ao “pensamento do presidente Mao” nos maus tempos de Mao Tsé Tung.

O nome completo da coisa é Pensamento de Xin Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para a Nova Era.

O objetivo da nova disciplina é dar às novas gerações um “embasamento moral, intelectual, físico e estético”.

A experiência ensina que nada de bom pode advir disso.

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