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Palavras malditas na Alemanha, pânico irracional na Áustria

O führer é saudado por árabes, mas quem mete medo é um candidato de direita a um cargo pouco importante

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h21 - Publicado em 25 abr 2016, 18h36
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  • Primeira vez: Norbert Hofer vai ao segundo turno e partidos tradicionais ficam de bandeira na mão

    Primeira vez: Norbert Hofer vai ao segundo turno e partidos tradicionais ficam de bandeira na mão

    O que é pior: ver um grupo de pessoas gritando “Adolf Hitler” numa cidade da Alemanha ou o líder de um partido anti-imigração – legítimo e dentro das regras do jogo, de di-rei-ta assumida – ter o maior número de votos no primeiro turno de uma eleição presidencial na Áustria?

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    Segundo a maioria esmagadora dos meios de comunicação, a segunda hipótese é tão mais apavorante que o primeiro caso nem sequer foi citado. É possível argumentar que o pequeno grupo de homens filmado em 9 de abril, num vídeo que só circulou agora, com bandeiras palestinas, gritando as palavras malditas, além do obrigatório Allahu Akbar, faz parte de um fenômeno isolado, sem maiores repercussões.

    Da mesma forma, é possível argumentar que constitui a manifestação de um fenômeno que só vai se espalhar assustadoramente, com base em números como o enorme aumento de incidentes de agressões verbais ou físicas contra judeus em países como a França.

    Incidentes, aliás, muito mais numerosos do que os casos de islamofobia, a palavra inventada para caracterizar manifestações de preconceito contra muçulmanos, todas igualmente odiosas, mas abusada para dar a impressão de que os atentados cometidos por islamistas radicais vitimam, acima de tudo, praticantes inocentes da nobre religião de Maomé. O abuso é tamanho, que, ironicamente, já foram inventadas manchetes de jornal como “Muçulmanos receiam reações ao atentado de amanhã”.

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    A vitória de Norbert Hofer, do Partido da Liberdade da Áustria, com 36% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial no país, é um resultado direto da rejeição de uma parte da população à imigração em massa de pessoas provenientes de países muçulmanos, muitas vezes trazendo consigo seus brutais conflitos nacional-religiosos, e da vitimização absurda facilitada pelas instituições dominantes a seguidores dessa religião.

    Ao contrário de partidos europeus relativamente recentes nascidos da rejeição à imigração massa de muçulmanos, o partido de Hofer tem uma história mais enraizada no infernal passado austríaco, marcado pela ligação umbilical com o nazismo. Durante muito tempo, seu líder mais conhecido foi Jörg Haider, que gostava de roupas de couro e bares gay. Um homossexual de direita é inimaginável pelos padrões mal informados, e bem pouco imaginativos, dos bem-pensantes atuais.

    Haider morreu num acidente de carro, aos 52 anos. Seu amigo especial e igualmente militante, Stefan Petzner, fez na época uma declaração comovente de amor. Disse também que a mulher de Haider, Claudia, mãe das duas filhas do casal, entendia a relação entre eles.

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    Num regime islâmico fundamentalista, o relacionamento assumido seria punido com a morte. Entre a imprensa europeia liberal, Haider foi apenas infinitamente ridicularizado. Hofer é um tanto mais convencional, apesar do gosto pelas pistolas Glock, a popular arma desenhada na Alemanha e fabricada na Áustria.

    O país tem um sistema político misto, com um presidente mais para enfeitar e um governo nos moldes parlamentaristas. Haider vai ao segundo turno com o candidato do Partido Verde, Alexander van der Bellen, apaixonadamente a favor da política de fronteiras abertas. Ele é um sensato economista de 72 anos. Seu pai fugiu da Rússia tomada pelo comunismo via Estonia, Alemanha e, por fim, Áustria. Um trajeto que praticamente resume as tragédias europeias do século XX.

    O fato de que os dois partidos austríacos tradicionais não tenham sequer se aproximado do segundo turno é um sinal da reviravolta política que acontece hoje na Europa e nos Estados Unidos, com altos índices de rejeição aos candidatos convencionais.

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    Quando o atual primeiro-ministro, Werner Faymman, percebeu a impopularidade da abertura de fronteiras, já era tarde. Mais de 90 mil imigrantes haviam entrado na Áustria e a guinada que ele deu, restaurando os controles de entrada, não redundou em popularidade para seu partido, o Social Democrata. O mesmo destino parece traçado para Angela Merkel, da centro-direita igualmente tradicional, que abriu a Alemanha a mais de 1 milhão de refugiados.

    Os gritos daquele pequeno grupo com a bandeira palestina, evocando o nome maldito em território alemão, ecoaram ou ecoarão em sua consciência? Na dos eleitores austríacos? E do resto do mundo?

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