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O “Palácio de Putin”, ou templo da corrupção, desconstruído em detalhes

O dissidente Alexei Navalny solta uma surpresinha com ampla investigação sobre a rede de negociatas criadas para ocultar o tesouro do novo czar

Por Vilma Gryzinski 26 jan 2021, 08h28
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  • Alexei Navalny voltou para a Rússia e foi preso, como estava previsto. Milhares de partidários de seu projeto oposicionista saíram para protestar e muitos também foram detidos, inclusive sua mulher, Yulia. Nada fora do roteiro.

    A novidade foi que Navalny, sabendo muito bem o que ia acontecer, preparou um longo vídeo investigativo sobre a maior, comentada e pouco exposta residência particular da Rússia.

    O “Palácio de Putin”, como é chamado o suntuoso complexo num morro com vista espetacular para o Mar Negro, já tem tempo suficiente de vida para merecer sua própria entrada na Wikipedia.

    Mas Navalny e sua equipe da Fundação Anticorrupção (FBK) tiraram leite de pedra. Usaram drones para furar o espaço aéreo e marítimo protegidos e “entrar” na área de 700 mil metros quadrados onde ficam o palacete em estilo italiano predominante no século 19 e um complexo de construções auxiliares.

    Comparado a um covil de vilão de James Bond, daqueles de antigamente, o complexo inclui um túnel por dentro da montanha para chegar até a praia, anfiteatro ao ar livre, pista subterrânea de hockey no gelo, igreja, cinema, cassino, um lounge com equipamento para pole dancing e outras extravagâncias.

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    A que mais impressionou Navalny foi a águia czarista no alto do portão principal – igualzinha à mostrada nas cenas da Tomada do Palácio de Interno no filme de Eisenstein.

    O palacete em si tem 17.691 metros quadrados. Fotos vazadas durante a construção mostram interiores suntuosos, com salões  principescos, cúpulas pintadas, camas com dossel e outros detalhes decorativos copiados de palácios verdadeiros.

    Áreas ainda interditadas e alojamentos em atividade mostram que nem todo o dinheiro do mundo consegue resolver problemas construtivos comuns como vazamentos e até mofo.

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    Fora explorar o interesse natural pelas imagens de um palácio avaliado em 1,4 bilhão de dólares, Navalny mostra a rede de cupinchas da turma de Vladimir Putin desde o tempo em que, de modesto funcionário da KGB, foi trabalhar na prefeitura de São Petersburgo.

    Aproveitando o choque terrível do derretimento institucional que acompanhou o fim da União Soviética, Putin ascendeu baseado num princípio que Navalny assim definiu no documentário: “Você quer desviar dinheiro do orçamento e roubar os cofres públicos? Alie-se a Putin”.

    Alguns dos métodos usados para criar uma rede de empresas offshore e de fachada, para que nem um copeque aparecesse em nome de Putin, demonstram o cinismo monumental daqueles que tudo podem.

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    Entre outras fachadas, o palácio aparece como uma empresa de pesquisas educacionais ou um acampamento infantil. Desde 2011, o complexo está oficialmente em nome do oligarca  Alexander Ponomarenko.

    Muitos detalhes da fenomenal prova de desvio de recursos foram revelados por um “arrependido”, Sergei Kolesnikov, antigo integrante da turma de São Petersburgo.

    A estonteante rede de corrupção do regime russo não é nenhuma novidade e a popularidade de Putin, mesmo que não seja a unanimidade dos velhos tempos, indica que a maioria dos russos está disposta a relevar a roubalheira em troca da estabilidade e da reconstrução nacional que Putin indubitavelmente promoveu depois  da degringolada na virada do século.

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    Seja um palácio no Mar Negro, seja um triplex no Guarujá, residências fora do poder aquisitivo nominal de governantes sempre se transformam num símbolo mais concreto de irregularidades, de fácil entendimento para todos, ao contrário das redes de fachadas criadas justamente para dificultar a compreensão dos esquemas.

    O vídeo de Navalny tornou-se viral, com mais de oitenta milhões de visualizações, mas seria ingenuidade achar que vai mudar alguma coisa.

    Da mesma forma que aconteceu com o envenenamento do oposicionista, em agosto,  que por pouco não conseguiu tirá-lo completamente de cena, Putin só tem que fazer o que sempre faz: negar tudo.

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    Os milhares de russos que foram às ruas para protestar contra a prisão de Navalny assim que retornou ao país, alguns enfrentando em cidades siberianas temperaturas de 50 graus negativos, tampouco alteram qualquer uma das colunas de sustentação de Putin.

    Mas funcionam, como tantos outros bravos opositores da história da Rússia, como sinal de que a consciência nacional não está enregelada. E nem o mais prodigioso dos palácios abafa suas vozes.

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