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O ministro, a amante e a filha dela: a lista de sanções contra elite russa

Novas punições econômicas revelam o que todo mundo já sabia: o chanceler Sergei Lavrov tem uma família paralela com sinais exteriores de riqueza

Por Vilma Gryzinski 25 mar 2022, 07h22

Sergei Lavrov já foi considerado “o melhor ministro das Relações Exteriores do mundo”, quando o antiamericanismo que move o pró-russismo ainda passava impune.

Ele é realmente um eficiente e agressivo cão de guarda de Vladimir Putin, tendo desenvolvido um padrão de discurso, em inglês fluente, que espelha habilmente os argumentos dos interlocutores ocidentais – um estilo imitado depois pela China ao formatar seus diplomatas no modo “lobo guerreiro”.

Os bons tempos em que desfilava de jatinho pelas capitais do Primeiro Mundo, levando junto a amante, Svetlana Poliakova – foram mais de 60 viagens a vinte países, segundo o levantamento da turma do oposicionista Alexei Navalny -, acabaram.

Lavrov já estava na lista de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Suíça, Canadá e Austrália. Agora, o governo britânico aumentou a pressão e colocou na lista de sancionados sua “enteada” – na verdade, a filha da amante -, a linda e loira Polina Poliakova.

Quando fez 21 anos, Polina ganhou de presente um apartamento de 4,4 milhões de libras em Londres. Detalhe: pago em dinheiro vivo.

“Polina deveria fazer suas malas Louis Vuitton, dizer adeus ao estilo de vida britânico e deixar o Reino Unido. Caso não consiga explicar de onde saíram os 4,4 milhões de libras, sua propriedade deveria ser confiscada”, pediu há duas semanas Maria Pevchikh, diretora de investigações da Fundação Anticorrupção.

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O fato de que seu criador, Navalny, esteja preso – tendo recebido esta semana outra condenação, a nove anos -, é apenas uma ironia tipicamente russa.

Da cadeia, para onde foi sabendo exatamente qual seria seu destino ao voltar à Rússia depois de se recuperar na Alemanha da tentativa de envenenamento com Novichok, assistiu o lançamento do relatório “Iates, subornos e uma amante: o que o ministro Lavrov está escondendo”.

O relacionamento de Lavrov com Svetlana, que convenientemente tem um emprego no Ministérios das Relações Exteriores – algum brasileiro fica surpreendido? – já era amplamente conhecido.

Sergei Lavrov, originalmente Kalantaryan, o sobrenome armênio de seu pai, não é um formulador de políticas – Putin, obviamente, não dá espaço a ninguém -, mas um defensor quase brutal delas. Já foi chamado de “cretino” por Hillary Clinton, que tentou, quando foi secretária de Estado, baseada em princípios equivocados, “reiniciar” as relações dos Estados Unidos com a Rússia.

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Outra filha da elite, Elizaveta Peskova, entrou na lista de sanções dos Estados Unidos. Seu pai é outro da lista de inamovíveis de Putin, o porta-voz Dmitri Peskov, que tem sinais exteriores de riqueza – inclusive relógio de 600 mil dólares e mansão de 7 milhões – completamente incompatíveis com o cargo.

Detalhe: assim que começou a invasão da Ucrânia, Liza Peskova postou um “não à guerra” no Instagram – rapidamente tirado do ar.

As sanções contra indivíduos funcionam?

Embora tenham um grande efeito simbólico, elas também impactam na vida real. Muitos milionários russos estão se deslocando para Dubai ou para a Turquia. Mas perder o acesso à vida de luxo incomparável nas grandes capitais europeias e nos Estados Unidos, dói, sim. Ter o dinheiro bloqueado também não é nada agradável.

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Num de seus mais sinistros discursos, Putin ameaçou os que “ganham dinheiro aqui, mas vivem lá” e avisou que os russos “cuspiriam como um mosquito que entra por acaso na boca” os culpados de traição.

Foi certamente um sinal de que estavam chegando a ele sinais de insatisfação de empresários russos afetados pelas sanções a seus negócios ou a eles pessoalmente – incluindo iates, jatinhos, mansões no sul da França ou no Lago de Como e apartamentos em Londres ou Mônaco.

A nova lista de sancionados pelos Estados Unidos exclui o mais conhecido dos oligarcas russos, Roman Abramovich, o dono do Chelsea. Foi um pedido expresso do ucraniano Volodimir Zelenski, em nome de uma não revelada mediação entre Ucrânia e Rússia.

A influência de Abramovich já havia causado desconforto em Israel quando o rabino-chefe e o diretor do Museu do Holocausto pediram ao embaixador americano que ele não fosse incluído na lista de sancionados. Verbas generosas para causas judaicas também parecem ter azeitado o reconhecimento de Abramovich como descendente de judeus sefarditas portugueses, contra todas as evidências. Com isso, ele conseguiu a nacionalidade portuguesa ofertada aos que provassem raízes familiares remontando à época da expulsão dos judeus da península ibérica.

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Só de apartamentos num complexo com vista para o estádio do Chelsea Abramovich tem 42, incluindo uma cobertura triplex.

O apartamento da “enteada” de Lavrov – que continua casado com a esposa original e tem uma filha mais ou menos da idade de Polina – até parece modesto, em comparação.

Mas desde quando ministros sem negócios próprios têm o equivalente a 28 milhões de reais para dar um teto à filha da amante?

A corrupção na Rússia é de proporções continentais e com ela Putin conseguiu criar círculos de aliados aparentemente inquebrantáveis.

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Se ele afundar, vai todo mundo junto? A pergunta certamente ronda a mente até dos mais fieis, conformados no momento com um fato da vida: vão-se os iates, mas ficam os dedos.

E até onde a vista alcança, politicamente, os iates não vão voltar tão cedo.

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