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O império não acabou

A incompetência da retirada do Afeganistão tem peso relativo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 13h02 - Publicado em 27 ago 2021, 06h00
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  • Pessoas tentam entrar no aeroporto internacional Hamid Karzai para fugir do Afeganistão. 16/08/2021
    Pessoas tentam entrar no aeroporto internacional Hamid Karzai para fugir do Afeganistão. 16/08/2021 (SRT/NurPhoto/Getty Images)

    No movimentado ano 400 da Era Cristã, o comandante-chefe dos Exércitos romanos, Flávio Estilicão, um vândalo por parte de pai — no sentido étnico, embora pela força da profissão também gostasse de quebrar coisas —, retirou as tropas sob seu comando da distante e complicada Britânia. Tinha assuntos mais sérios a tratar, como as invasões dos godos de Alarico que redundariam, uma década depois, no grande saque de Roma. A província britânica não era exatamente uma joia fulgurante na coroa de Roma, mas o início da retirada romana marcou o arco histórico que levaria, em menos de um século, ao fim do Império Romano do Ocidente.

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    Pela grandeza, pela extensão, pela influência cultural e política, e até pela águia com um feixe de flechas numa das garras, um dos vários símbolos copiados do mais glorioso império da Antiguidade, os Estados Unidos são tradicionalmente comparados a Roma. E não faltam analistas que veem agora na espantosamente malconduzida retirada do Afeganistão a prova que faltava do declínio do império americano. Há um tanto de exagero e outro de wishful thinking, ou expressão de desejo, nos prognósticos sobre o fim próximo da maior superpotência da história. Os EUA continuam a ser a força dominante em matéria de tecnologia, ciência, finanças, poderio bélico e soft power. Sejam as massas destituídas, sejam os programadores bem instruídos, é para a América que as pessoas continuam querendo ir fazer a vida.

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    “O establishment político, diplomático e militar tem se comportado de maneira patética”

    Mas o poder das imagens não deve ser subestimado. O estado de aturdimento demonstrado pela cúpula americana com a rapidez da ascensão do Talibã e os danos autoinfligidos por uma retirada catastroficamente planejada refletem uma falência sistêmica. Não é apenas Joe Biden que parece intimidado e perdido — além de muito mais gravemente comprometido com uma visão alternativa da realidade do que era Donald Trump. Todo o establishment, político, diplomático e militar, tem se comportado de maneira patética, talvez o mais cruel dos adjetivos. Os países que funcionam se governam sozinhos e, quando a elite dirigente escorrega, o desgoverno parece mais chocante.

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    Embora seja considerado superado e até arcaico, Edward Gib­bon continua a ser o autor da melhor definição sobre o declínio do império romano, cirurgicamente escrutinado na sua obra monumental. “O declínio de Roma foi o efeito natural e inevitável da grandeza imoderada. A prosperidade alimentou o princípio da decadência; a causa da destruição multiplicou-se com a extensão da conquista; e, tão logo o tempo e o acaso removeram os apoios artificiais, o estupendo tecido cedeu à pressão do próprio peso.”

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    O mundo com o esgarçamento do “estupendo tecido” do império americano é mais fragmentado e menos ordenado. E prontinho para ser progressivamente deglutido pela China.

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    Adendo: como era de praxe, Flávio Estilicão foi decapitado por um aspirante a usurpador do trono imperial e passou para a história como um fracassado praticante da realpolitik, tendo sido o homem que “perdeu” a província que eventualmente criaria um império mais extenso do que o romano. O julgamento de Joe Biden e sua pequenez imoderada pode reservar uma sentença mais dura.

    Publicado em VEJA de 1 de setembro de 2021, edição nº 2753

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