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O dia em que caiu o complexo do alemão: 8 de maio de 1945

O incrível destino dos homens presentes na cerimônia em que o general Jodl assinou a rendição da Alemanha e o que eles representam até hoje

Por Katia Perin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 Maio 2018, 08h05
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  • Com impecável sobretudo de couro, luvas e a expressão determinada que se espera de um oficial prussiano, o general Alfred Jodl desceu do carro com motorista e entrou numa modesta escola técnica do norte da França na madrugada de 7 de maio de 1945.

    Em vinte minutos, fez o que estava ali para fazer: assinou a rendição incondicional da Alemanha. O documento entrou em vigor poucas horas depois, na passagem do dia 8 para o dia 9, comemorado como o Dia da Vitória nos países ocidentais.

    Menos de um ano e meio depois, Jodl estava pendurado na corda da forca preparada por John Chris Woods, um soldado americano que tinha praticamente todas as características que os nazistas atribuíam aos subumanos.

    Com 1,62 metro, tinha sido diagnosticado com “inferioridade psicopática constitucional” pela corte marcial que o julgou por deserção em 1933. Zerou a ficha com a entrada dos Estados Unidos na II Guerra.

    Trambiqueiro e mentiroso, inventou que tinha experiência como carrasco e treinou com 34 companheiros desertores, enforcados no teatro de operações europeu depois de julgamento sumário. Depois, levou seus métodos toscos para a Alemanha derrotada.

    Juntamente com Joseph Malta, participou do enforcamento dos Dez Grandes, os principais líderes nazistas condenados à morte pelo Tribunal de Nurembergue e executados em 16 de outubro de 1946 (ele próprio morreu por imprudência, eletrocutado num acidente de trabalho em 1950).

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    Jodl foi um dos enforcados, sob protestos espantosos, embora habituais. “Em primeiro lugar, eu não fazia ideia de uns 90% das acusações. Os crimes são além da imaginação de tão horríveis, se verdadeiros.”

    “Em segundo lugar, não entendo como eles não reconhecem que um soldado tem a obrigação de obedecer ordens. Vivi toda minha vida com este código.”

    Como a história é eternamente reescrita, por bons e maus historiadores, os da segunda categoria continuam a discutir até hoje se Jodl, tal como Wilhem Kettel, outro condenado por crimes de guerra, foi um “bom” general alemão, do tipo que tentou segurar o quanto pode a fúria destruidora de Adolf Hitler.

    Houve até uma tentativa de reabilitação, em 1953, revogada por pressão dos Estados Unidos. Até para os conciliadores americanos, dedicados por princípios e por interesse à reconstrução da Alemanha, foi demais.

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    Antes de assinar a rendição, Jodl tentou explorar justamente os interesses americanos e ganhar alguns dias a mais para a Operação Aníbal, a retirada iniciada em janeiro de 1944 de tropas e civis alemães de territórios que seriam retomados por forças soviéticas.

    Cada soldado alemão que voltasse vivo seria um combatente a mais na futura guerra dos países ocidentais com a União Soviética, argumentou.

    A guerra, na verdade, aconteceu em outros campos e com a participação crucial de alguns presentes na escola técnica de tijolinhos vermelhos de Reims (a cidade francesa pronunciada “Rims” pelos locutores americanos), onde o general Dwight Eisenhower tinha a base do comando supremo das forças aliadas.

    Por uma questão de protocolo, Eisenhower, que tinha patente superior, não podia assinar o acordo diretamente. Ele apenas mandou Jodl entrar em sua salinha, perguntou se entedia perfeitamente o compromisso assumido e dispensou os alemães sem  falar mais nada.

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    Como presidente dos Estados Unidos de 1953 a 1961, Eisenhower, humanizado pelo apelido Ike, foi um pilar da política de contenção do comunismo: uma paz armada e, quando inevitável, ações bélicas indiretas. (“Vamos tentar a paz nem que seja preciso guerrear por ela”).

    Eisenhower recomendou para o comando da CIA seu chefe de gabinete durante a guerra, Walter Bedell Smith, o general que assinou a rendição alemã por parte dos Estados Unidos.

    Bedell Smith profissionalizou e reestruturou a CIA, devastada por um de  seus muitos fracassos históricos – a total ignorância sobre as manobras que levaram à Guerra da Coreia.

    Teve atuação vital durante os momentos mais quentes da guerra fria, enfrentando agentes soviéticos formados por um dos mais competentes instrutores de espiões, Ivan Suslaparov. Foi ele quem representou a União Soviética na assinatura das atas de rendição em Reims.

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    Escapou da fúria de Stálin e foi para Berlim, assinar o outro documento, em 9 de maio, tal como exigia o tirano. Conseguiu sobreviver a Stálin e se tornou uma figura mitológica da “Academia Diplomática”, a escola de espiões.

    Assim que assinou a rendição, o general Jodl disse em inglês: “Gostaria de dizer umas palavras.”

    Em alemão, continuou: “Com esta assinatura, o povo e as Forças Armadas da Alemanha estão entregues, para o bem ou para o mal, nas mãos do vencedor.”

    “Nessa guerra, que durou mais de cinco anos, ambos conseguiram e sofreram talvez mais do que qualquer outro povo do mundo. Nessa hora, só posso expressar a esperança de que o vencedor os trate com generosidade.”

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    O homem que havia aprovado e executado invasões, massacres coletivos, fuzilamento de civis e a própria extinção de países inteiros, dizia que a Alemanha, a provocadora de tudo isso, havia sofrido mais do que todos.

    Nenhum dos presentes na salinha da escola técnica de Reims disse nada. Jodl foi preso dias depois.

    O sofrimento da Alemanha, é claro, não pode ser ignorado – e o sufocamento das manifestações de dor e luto têm consequências até hoje.

    Outra consequência é que, além de expulsar ou eliminar a população judaica em toda a sua diversidade, incluindo os cientistas que dariam tantos prêmios Nobel para a Inglaterra e os Estados Unidos, a Alemanha sofreu com a carência de mão de obra.

    Mais de dois terços dos alemães nascidos em 1919 estavam mortos em 1945. Eventualmente, o país reconstruído começou a importar mão de obra. Achava, por exemplo, que os trabalhadores turcos iriam embora depois de um certo período.

    Incluindo os “turcos” que ficaram e as ondas de imigrantes aos quais abriu as fronteiras, hoje a Alemanha tem cerca de 6 milhões de muçulmanos no país e um tipo de problema diferente dos que ocupavam a cabeça do general Alfred Jodl.

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