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Novas polêmicas olímpicas: maconha e touca afro devem ser liberadas?

O caso da corredora Sha’Carri Richardson, eliminada por uso de cannabis, provoca reações a favor da droga, outra estranheza dos jogos

Por Vilma Gryzinski 6 jul 2021, 09h04
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  • Antes que você aprenda a dizer direito o original nome dela (Chaquéri), a prodigiosa Sha’Carri Richardson já teria completado os cem metros na pista de corrida, na qualidade de uma das mulheres mais velozes da história, com o tempo mínimo de 10,64 segundos (menos de um segundo a mais do que Usain Bolt).

    Punida com um mês de suspensão por uso de maconha, a corredora americana não poderá competir em Tóquio, acrescentando mais uma “deserção” a uma competição estranha, cercada de problemas, sem espectadores estrangeiros e rejeitada pela maioria dos japoneses.

    O caso de Sha’Carri poderia provocar tristeza por mostrar mais um atleta de ponta que tomba no doping e comiseração. A corredora, criada pela avó e uma tia, disse que recorreu à droga depois de saber através de um repórter que sua mãe biológica, com quem não tinha contato, havia morrido.

    “Eu sou humana”, disse a corredora, conhecida pelo cabelo colorido e unhas e cílios postiços do maior tamanho existente no mercado.

    Ao contrário do que geralmente acontece nesses casos, Sha’Carri recebeu reações positivas e, como tudo mais no mundo atual, politizadas.

    Uma das mais bizarras foi da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, estrela da esquerda americana. 

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    “A criminalização e a proibição da maconha são um instrumento de políticas racistas e colonialistas”, tuitou a deputada, conhecida como AOC.

    Referindo-se a outra sigla famosa, COI, ela disse que o Comitê Olímpico Internacional deveria reconsiderar a suspensão de Sha’Carri e de qualquer outro atleta flagrado com THC, o princípio ativo da maconha.

    Outra deputada, Barbara Lee, foi na mesma linha, afirmando que a cannabis não aumenta o desempenho esportivo e que as leis que proíbem a maconha, derrubadas em vários estados americanos, são “superadas e discriminatórias”.

    Mais uma questão esportiva que foi politizada: a FINA (Federação Internacional de Natação, que atua em conjunto com o COI) proibiu a “touca afro”, usada por nadadores negros que têm cabelos mais volumosos ou dreadlocks, porque “altera o formato natural da cabeça” – qualquer mínima mudança nas condições de competição é vigiada, embora a participação de uma mulher trans competindo no levantamento de peso com mulheres biológicas tenha sido autorizada.

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    Diante das reações negativas, a FINA disse que estava reavaliando o uso da touca afro, um caso que parece justo porque cabelos mais cheios e até pelos corporais aumentam o atrito com a água e, consequentemente, as desvantagens competitivas, não o contrário.

    Sem possibilidade de um novo adiamento, depois do estrago causado no ano passado pela pandemia, as Olimpíadas de Tóquio enfrentam problemas novos e antigos.

    Entre os antigos: custaram muito mais do que o governo havia dito (15 bilhões de dólares), houve dúvidas sobre o sistema de concessões para as construtoras envolvidas e se discute o próprio gigantismo das instalações esportivas, um conceito cada vez mais contestado em termos de urbanismo e desenvolvimento das cidades, mesmo quando os jogos são em países ricos como o Japão.

    Os novos envolvem situações politicamente incorretas, como a do presidente do Comitê Olímpico Japonês obrigado a renunciar depois de reclamar que as mulheres falam demais e estavam prolongando as reuniões de trabalho – sempre longuíssimas pela tradição japonesa. Ou o risco de que aconteça algo parecido com a situação criada no time inglês de críquete: todos os jogadores e equipe técnica entraram em quarentena, depois de sete casos de Covid-19 entre eles. Está sendo montado um time inteiramente novo para disputar um jogo marcado com o Paquistão válido pelo campeonato do esporte.

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    Mas o pior, nos Jogos de Tóquio, é a rejeição da opinião pública, assustada com a possibilidade de que as Olimpíadas se transformem num foco de propagação de Covid-19 de proporções gigantescas. 

    Nem a proibição de espectadores estrangeiros e os controles rígidos sobre a movimentação de atletas, comitivas e jornalistas mudaram o quadro.

    Muito dessa rejeição é causada pela indignação com o baixíssimo índice de imunização antivírus no país – apenas 8% dos japoneses tomaram as duas doses da vacina, menos do que no Brasil.

    O Japão teve um número bem baixo de mortes, menos de 15 mil, e os óbitos diários estão estabilizados em dois dígitos, mas o medo da pandemia fez com que até 80% dos japoneses fossem contra a realização das Olimpíadas.

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    Com um público local desanimado, e limitado a 10 mil pessoas (se não for proibido de vez), sem o colorido e a sinergia das torcidas estrangeiras, os Jogos Olímpicos perdem uma de suas colunas de sustentação. Tenistas campeões como Rafael Nadal e Serena Williams já caíram fora.

    A suspensão de uma atleta como Sha’Carri também tira um pouco da força do jogos. É claro que, quando começar a competição entre os melhores do mundo, muita coisa será simplesmente esquecida. 

    É simplesmente irresistível assistir os que correm mais rápido, pulam mais alto e são os mais fortes. E sem cannabis.

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