Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Noite dos punhais: a traição a Biden

Não foi difícil para aliados repudiarem presidente que perdeu rumo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 jul 2024, 12h09 - Publicado em 5 jul 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Os antecedentes são nobres e não devem ter faltado lembranças do monumental Júlio César, a peça de Shakespeare que continua a ser o mais requintado tratado sobre a traição já feito. Diz Brutus, justificando a conspiração dos senadores que apunhalaram o líder: “Não foi porque amei menos a César, mas porque amei mais a Roma. Preferiríeis que César estivesse vivo, para que morrêsseis todos escravos, a que César estivesse morto, para viverdes livres?”.

    Substitua-se a parte “morrêsseis todos escravos” por “elegêssemos Donald Trump” e ficou pronta a desculpa perfeita: quando o sistema se sente ameaçado, é lícito eliminar a ameaça. Como os senadores romanos, os jornalões se sucederam nas punhaladas, quer dizer, nos editoriais, pedindo a toga ensanguentada, metaforicamente, de Biden por incapacidade terminal. Os mais próximos porta-vozes de Barack Obama foram os primeiros a sacar das armas brancas, também chamadas tuítes ou telefonemas para jornalistas amigos. E sem off, um sinal da paúra que baixou no Partido Democrata diante da mais aterradora de todas as possibilidades, a de perder o poder. No final, só sobrou a discussão sobre uma saída “digna”.

    Como a história é praticamente uma grande coleção de ironias que se sucedem, vez ou outra recriadas por um gênio da escala de Shakespeare, da última vez em que foi possível assistir a uma movimentação pública em massa do sistema, as punhaladas retóricas recaíram sobre Trump na campanha de 2020. E funcionaram: Joe Biden foi eleito quinze dias depois da carta aberta dos 51 ex-integrantes de órgãos de inteligência — um poder formidável em qualquer lugar, ainda mais nos Estados Unidos — dizendo que era desinformação russa o computador em que Hunter Biden aparecia mostrando o pior que pode fazer um homem dominado pelo crack. A reportagem retratando isso foi exilada das grandes redes sociais e fulminada pela imprensa alinhada com os democratas. Era tudo verdade.

    “Como os senadores romanos, os jornalões se sucederam nas punhaladas, quer dizer, nos editoriais”

    A traição a Trump foi feita com gosto e convicção. A Biden, com compunção. “Teríamos compreendido se ele se abstivesse”, disse Robespierre sobre o voto do duque de Orleans, que havia mudado de nome para Felipe Igualdade depois da Revolução Francesa. O voto, no caso, foi pela execução na guilhotina de seu primo, o rei Luís XVI. Um duque da realeza não tinha vida longa na voraz França revolucionária, mesmo tendo mudado de lado. Dez meses depois, em novembro de 1793, ele foi condenado à guilhotina (Robespierre durou até o ano seguinte).

    Continua após a publicidade

    Depois de mandar matar o mais carismático líder comunista, Sergei Kirov, Stalin assinou a nota em que a cúpula soviética lamentava “o amigo de confiança, o amado camarada, o fiel companheiro de armas”. E imediatamente usou o assassinato para desfechar os grandes expurgos contra os mais fiéis comunistas. A União Soviética era menos cruel com seus líderes no pós-­stalinismo, e assim se sucederam as mortes naturais de Leonid Brejnev (1982), Yuri Andropov (1984) e Konstantin Chernenko (1985). O establishment americano absorveu muito bem como a série de líderes velhos e doentes enfraqueceu o rival ideológico.

    “Porque César me amava, choro por ele; porque foi feliz, regozijo-me; porque foi bravo, honro-o; mas porque era ambicioso, matei-o.” Sim, até ele, Brutus.

    Publicado em VEJA de 5 de julho de 2024, edição nº 2900

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.