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Milei vence uma batalha importante – agora só falta todo o imenso resto

Privatizações e reforma trabalhista foram alguns dos pontos importantes aprovados no pacotaço de leis que abre uma via para mudanças de fato

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 15h18 - Publicado em 1 Maio 2024, 07h27

O homem mais rico da Argentina, Marcos Galperin, inventor brilhante do Mercado Livre, fez um diagnóstico da situação argentina para a revista Economist que já virou um clássico do realismo: comparou a economia a um atleta que foi o melhor do mundo “mas está obeso, é viciado em drogas, tem câncer e Aids e é alcoólatra”. O que o governo de Javier Milei, que ele apoia, conseguiu até agora foi tirar a economia dos dois vícios, sempre um processo penoso.

O resto continua ruim, talvez até incurável, mas uma pequena fresta de esperança de recuperação foi aberta com a aprovação das Leis Bases, um conjunto de reformas que pretende começar a aplicar, finalmente, a receita ultraliberal com a qual Milei foi eleito, num processo sem precedentes no mundo.

A maratônica sessão da Câmara de Deputados aprovou, com o voto de todos os partidos de oposição ao peronismo e seus aliados de esquerda, os capítulos sobre privatizações, delegação de poderes emergenciais ao presidente (por um ano, nas áreas administrativa, econômica, financeira e energética), reforma fiscal e trabalhista. Em termos gerais, também foi aprovado o regime de incentivos aos grandes investimentos, uma isca para atrair o dinheiro estrangeiro tentado pela combinação dos imensos recursos argentinos e a promessa de previsibilidade, sem as loucuras populistas de costume.

Considerando-se o rigor quase torturante do ajuste fiscal, Milei mantém um bastante razoável grau de aprovação de 49% – índice que chega a impressionantes 64% na faixa dos eleitores jovens, justamente o que mais se convenceram das propostas libertárias que o elegeram presidente.

“PRESIDENTE EXTRAVAGANTE”

O superávit primário e a queda significativa do risco país não são conquistas que o povão costuma comemorar, principalmente quando o aperto dos cintos é de cortar o fôlego. Mas a aprovação a Milei supera os prognósticos e “mostra uma Argentina com mais consenso do que seria de se esperar”, segundo avaliação do colunista econômico Martín Kanenguiser.

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Como a recuperação econômica, se vier, demora muito mais do que a paciência, é mais do que possível que a aprovação venha a cair.

Ou talvez a pequena brecha seja aproveitada. Na Argentina, “todos discutem o capitalismo, em vez de experimentá-lo”, disse Galperin. Pode haver uma remota chance de que isso mude, embora muitos especialistas tenham uma visão inteiramente negativa.

Escrevendo no La Nación, o franco-americano Guy Sorman, fez uma análise dura do presidente argentino e de suas promessas. “Da mesma forma que o general Pinochet, ao reivindicar o liberalismo clássico, o transformou em ilegítimo, agora estamos diante de uma situação similar, embora mais perigosa”.

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Se Milei conseguir tirar a Argentina do buraco, “teremos que agradecer a ele; terá demonstrado que o liberalismo é a solução da pobreza, da discriminação e da decadência. E se fracassar? O liberalismo levará uma geração para se recuperar, o tempo que demoraremos para esquecer este presidente extravagante”.

“A aposta de Milei depende de que as outras forças políticas continuem desacreditadas e que o país não exploda”, resumiu Kanenguiser.

CÃES E LIVROS

“E talvez ele tenha uma chance porque a Argentina vive de ilusões”, acrescentou Kanenguiser. “O presidente Raúl Alfonsín representou a alegria do retorno à democracia nos anos oitenta; Carlos Menem trouxe estabilidade nos anos noventa, depois da hiperinflação, e Néstor Kirchner preencheu o vazio de poder depois da implosão de 2001”.

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Todos estes experimentos terminaram em desastre (Kirchner via seu “terceiro” mandato, o de Cristina).

Os argentinos têm demonstrado maior capacidade de resistência do que habitualmente. O grande protesto contra o corte de verbas para as universidades públicas mostrou que é possível fazer oposição nas ruas sem cair nas loucuras habituais. A aprovação do pacotaço de reformas parecia inconcebível quando Milei foi eleito com um partido novo e minoritário por trás.

E um dos assuntos em discussão no momento é se ele tem quatro ou cinco cães da raça mastim inglês (o quinto, supõem os desconfiados, seria o já falecido Conan ou um clone dele). Tem um lado divertido, reconheça-se.

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Voltar para os cães e para os livros é a alternativa de Milei se tudo der errado.

Os argentinos precisam muito mais do que isso.

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