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Melhor não tê-los: o caso dos sem-filhos por motivo ambiental

Medo de apocalipse climático ou de aumentar a ‘pegada’ ecológica que sobrecarrega o planeta leva radicais a se submeter a esterilização

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 26 fev 2019, 18h24 - Publicado em 26 fev 2019, 18h02
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  • Não multiplicai-vos nem enchei a terra é o lema antibíblico de uma corrente de adultos jovens tão apavorados com as mudanças ambientais que chegam ao extremo de ligar as trompas ou fazer vasectomia como um ato de ecologismo radical.

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    O movimento “child-free” existe há mais de uma década, mas ganhou exposição mundial através da falante Alexandria Ocasio-Cortez, a deputada americana que virou heroína, literalmente (vai ter uma história em quadrinhos para ela), de todos os progressistas.

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    Enquanto descascava uma batata doce na cozinha de seu apartamento funcional e fazia uma live pelo Instagram, ela mencionou casualmente o assunto.

    “Nosso planeta vai acabar em desastre se não mudarmos de rumo e é tipo um consenso científico que a vida das crianças vai ser muito difícil”, disse, ecoando o alarmismo maluco que passa por ciência.

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    “Isso leva o pessoal jovem a ter uma dúvida legítima, tipo ainda é ok ter filhos?”.

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    Tudo que Alexandria faz vira moda e o “monólogo da batata doce” ecoou pelo planeta.

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    Nesse caso, excepcionalmente, a deputada que propôs acabar com os combustíveis fósseis, eliminar carros e aviões e reconstruir todas as edificações dos Estados Unidos para adaptá-las a formas limpas de energia (de onde sairão não é problema dela) está um pouco atrasada.

    Em vários países avançados, mulheres e homens em plena idade reprodutiva já se colocaram a pergunta. E responderam “não”.

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    Não se trata absolutamente do caso das mulheres que preferem não ser mães e, pela primeira vez na história conhecida do mundo, podem fazer isso sem sofrer opróbio social ou se trancar num convento, num mosteiro budista ou alguma outra instituição religiosa que sublime o celibato.

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    Existe até uma sigla em inglês para os sem-filhos mais extremistas, VHEMENT, o Movimento pela Extinção Voluntária da Humanidade.

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    A pronúncia em inglês equivale a “veemente”. E haja veemência. Alguns invocam até uma visão distorcida da nobre causa da defesa dos direitos dos animais.

    “Os recém-nascidos recebem onze vacinas obrigatórias que são testadas em animais”, disse ao VICE um francês de 34 anos identificado apenas como David. Ele fez vasectomia no ano passado.

    “As crianças são obrigadas a tomar leite, comer a carne toda para ficar fortes e se adaptar às normas. Pesquisamos soja transgênica para alimentar os animais que as crianças comerão antes de ficar doentes. A qualidade de vida que ofereceremos a elas não é digna de ser vivida.”

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    Sem contar que os animais de corte são responsáveis por 14,5% do efeito estufa – a flatulência dos bovinos também foi um assunto abordado inicialmente pela deputada Ocasio-Cortez na sua proposta de acabar com a economia americana tal como a conhecemos.

    Outro entrevistado pelo VICE, Lou, 27 anos, igualmente vasectomizado, compartilha a visão soturna: “Os recursos vão desaparecer rapidamente e não quero administrar a educação de uma criança nessa situação”.

    Além do alarmismo ambiental, as mulheres que ligam as trompas para não aumentar a pegada ecológica geralmente também rejeitam os efeitos de métodos como a pílula anticoncepcional e o DIU.

    Muitos médicos se recusam a fazer a esterilização em pessoas jovens, mesmo quando as leis não estabelecem limites de idades.

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    Falando ao Guardian, Gwynn Mackellen contou que demorou cinco anos para conseguir a intervenção. Aos 31, conseguiu.

    “Nossa cultura é muito natalista”, disse ela. Trabalhando em São Francisco com reciclagem de lixo, Gwynn acredita que as pessoas “não são más, são muitas”, produzindo efeitos avassaladores para a natureza pela mera existência.

    Os antinatalistas prosperam exatamente nos países ricos que já passam por crescimento populacional muito baixo ou negativo, com consequências comprovadamente deletérias para a manutenção das redes de proteção social.

    A visão apocalíptica do futuro é tão comum entre diferentes culturas que parece estar embutida no software humano.

    No mundo ocidental, a preocupação com o planeta ocupa em muitos sentidos o espaço deixado pela religião. No auge da guerra fria, também vicejou a ideia de que era crueldade ter filhos para ser incinerados no holocausto nuclear – outra imagem tirada do ritos religiosos.

    A esterilização precoce pode ser até comparada aos sacrifícios da carne em favor do aperfeiçoamento espiritual, presentes em muitos sistemas de crença.

    Com todo seu radicalismo, os defensores da extinção voluntária têm pelo menos a vantagem de expor em toda sua crueza os dilemas da superpopulação, geralmente subdimensionados em favor de uma visão otimista segundo a qual diminuir a emissão de gases, andar de bicicleta e comer menos ou nenhuma carne podem “nos salvar”.

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    Todo mundo conhece a história de que a raça humana levou 200 mil anos para chegar a um bilhão de pessoas, em 1804; dobrou de tamanho em 1927; foi para três bilhões em 1959; dobrou de novo em 1999 e agora está em 7,7 bilhões – e aumentando.

    Ao contrário dos militaristas que largavam a vida mundana, faziam penitências e esperavam o fim dos tempos quando a era cristã se aproximava do ano 1000, os defensores da autoextinção em geral sabem que não farão diferença nenhuma na carga populacional do planeta.

    Querem ter a consciência em paz. Ou apenas o gostinho da superioridade moral, como os veganos ou cicloativistas ou ambos.

    Talvez só pensem de novo no assunto se Alexandria Ocasio-Cortez ficar grávida e fizer uma live do parto.

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