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Em quem “votar” na eleição americana para quem não é dos Estados Unidos?

Como o resto do mundo se sente em relação aos dois candidatos - e uma contribuição para quem ainda está indeciso

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 nov 2024, 11h44 - Publicado em 5 nov 2024, 06h45
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  • Quem faria menos mal aos Estados Unidos e, consequentemente, ao resto do mundo? Esse é o padrão da política de hoje na maioria dos países, quando temos que escolher o menos pior.

    A importância gigantesca dos Estados Unidos faz com que todo mundo, literalmente, tenha opiniões sobre a eleição de hoje e faça um voto simbólico. Para os que ainda estão indecisos, a quem o humorista Bill Maher comparou a seu pai, que só fazia as compras de Natal uma hora antes do fechamento das lojas, algumas vozes sensatas alinham argumentos dignos de ser ouvidos, tanto a favor de Kamala Harris quanto de Donald Trump.

    + Sob cenário de indefinição, EUA vão às urnas nesta terça

    A “sensatez” é um critério importante porque Trump tem o dom de despertar os piores instintos em seus opositores, propiciando opiniões que o teste do tempo desmancha no ar.

    Por exemplo, a Unidade de Inteligência da Economist, ligada à influente revista britânica, disse em 2016 que Trump era um “risco global” de grau doze. “Suas tendências militaristas em relação ao Oriente Médio seriam uma poderosa ferramenta para grupos jihadistas, aumentando sua ameaça tanto na região como além dela”.

    “Embora não esperemos que o senhor Trump vença a democrata Hillary Clinton”, dizia o estudo, se isso acontecer haverá “um colapso dos investimentos no setor petrolífero, a dissolução da União Europeia, uma ascensão maior ainda do terrorismo jihadista e ações russas na Ucrânia e na Síria”.

    TORCIDA POR KAMALA

    Nada como o teste do tempo. O “militarismo” no Oriente Médio eliminou o Estado Islâmico no Iraque, numa ação coordenada; enfraqueceu o Irã, o ator estatal mais perigoso da região, e produziu os Acordos de Abraão que aproximaram Israel de quatro países muçulmanos, num embrião de paz que futuramente ainda pode dar mais frutos.

    A guerra explodiu sob a gestão de Joe Biden, embora, obviamente, não por sua culpa. Sem falar em quem era presidente quando a Rússia invadiu a Ucrânia.

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    + Quase 80 milhões de americanos já votaram antecipadamente

    Nem assim a opinião pública mundial se deixa comover por Trump e sua imagem de belicosidade – embora equivocada, ainda mais agora que ele tende para o lado isolacionista. Uma pesquisa YouGov mostra que os europeus torcem maciçamente por Kamala Harris.

    A Dinamarca é a campeã, com 81% a favor da democrata e apenas 7% de simpáticos a Trump. Alemanha, 71% a 14%; França, 62% a 15% (com o detalhe que ele perde até entre eleitores de Marine Le Pen, por 46% para Kamala contra 31%). Na Itália, só ganha entre o partido da primeira-ministra Georgia Meloni, por 44% contra 32% para Kamala. No cômputo geral, dá 45% para Kamala contra 24%. Grã-Bretanha, 61% a 16%. Espanha, 65% a 17% (com a exceção dos simpatizantes do partido de direita, Vox, onde ganha por 54% contra 23%)

    Em Israel, outra exceção: apesar do apoio maciço de Joe Biden ao país em guerra em múltiplas frentes, 66% dos israelenses preferem Trump e apenas 17% a vice-presidente. Muito se deve à ideia de que Kamala vai agir mais ainda do que Biden para “segurar” Israel e impedir ataques mais devastadores que garantiriam a derrocada de seus inimigos. É o exato oposto da votação tradicional dos judeus americanos, que historicamente apoiam candidatos democratas na faixa dos 70% a quase 80%.

    “REPÚBLICA DE BANANAS”

    O mundo está repleto de avaliações sobre os dois candidatos, mas escolhemos, para começar um dos homens mais influentes do mundo das finanças, Michael Bloomberg. Com uma fortuna de 16 bilhões de dólares e múltiplos canais de informações financeiras, ele tem uma trajetória interessante: foi do Partido Democrata, pulou para o Republicano e voltou ao berço original. Governou Nova York por dois mandatos e seu voto por Kamala é praticamente uma garantia de que a candidata democrata, a mais à esquerda que já concorreu à presidência americana, não vai fazer loucuras que desestabilizem o mercado.

    O maior argumento dele contra Trump é a invasão do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021, num protesto, que escapou ao controle, contra o que os partidários do presidente achavam ser uma eleição roubada de Biden. Seus patos:

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    . “Ele fez nosso país, a maior nação do mundo, parecer uma república de bananas. Muitos de nós americanos jamais teríamos imaginado testemunhar um episódio tão vergonhoso”.

    . “Por quê? Porque para ele nada – nem a América, nem nossa Constituição, nem a democracia, nem o estado de direito, nem as vidas de policiais ou de outros cidadãos – conta mais do que sua própria vaidade e glória”.

    . “O plano de Trump para deportar milhões de pessoas que moram e trabalham aqui é uma receita para o desastre econômico”.

    . As propostas de Kamala de aumento de impostos e tarifas “são politicamente motivadas” e “fariam muito menos mal aos consumidores e aos negócios – e à dívida nacional”.

    Se ela for eleita, Bloomberg poderá ser cobrado daqui a quatro anos.

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    EXCESSOS DA ESQUERDA

    Do lado oposto, o republicano Scott Jennings vem de uma esfera política, a do ex-presidente George Bush filho, em que a animosidade contra Trump é grande. O vice de Bush, Dick Cheney, e a filha, Liz, viraram dois inimigos mortais de Trump. Uma das filhas de Bush, Jenna, declarou apoio a Kamala. Segundo uma pesquisa PBS, 8% do eleitorado republicano vai votar nela, o que lhe daria a vitória.

    Escreveu Jennings, em defesa de Trump, no Los Angeles Times:

    . “Trump hoje é mais popular do que nunca, tanto pessoalmente quanto como presidente. A resiliência de Trump, e o empenho de sua base em fazê-lo voltar à Casa Branca, são um dos mais notáveis acontecimentos da história política moderna”.

    . “Hoje, milhões de republicanos como eu, que quase regurgitaram uma ou duas vezes durante essa viagem aloprada, estão preparados a votar nele mais uma vez como um baluarte contra os excessos culturais e governamentais da esquerda americana”.

    . “Fico mais preocupado com o futuro do país do que com quaisquer problemas que ele tenha tido no passado”.

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    . “Preocupo-me com as restrições ao discurso político que parte da esquerda (incluindo Harris) abraçaram. Com a demonização das origens da América e com o futuro da civilização ocidental, na medida em que muitos conservadores sentem que os fundamentos da sociedade estão sob ataque”.

    . “Trump cortou impostos para praticamente todo mundo e aumentará estes cortes se for eleito. Nomeou juízes conservadores que respeitam a Constituição e fará isso de novo. Implantará uma fronteira segura, o que Biden-Harris não fizeram”.

    . Sobre as comparações absurdas com Hitler e acusações de fascismo, “não é nada que os republicanos não tenham ouvido antes” e muito pior é “a visão de bandeiras do Hamas e do Hezbollah em ruas americanas”.

    Ajudou os indecisos em alguma coisa? Ou todo mundo já fez “as compras de Natal” e fechou o voto?

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