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É grave a autocrítica de Zuckerberg ao revelar intervenção do governo

Num momento decisivo pela prisão de Pavel Durov, o mea culpa do dono do Facebook mostra a extensão do expurgo de divergentes da era do covid

Por Vilma Gryzinski 28 ago 2024, 06h27

Como lidar com criminosos que usam as redes sociais? E como evitar que o mesmo movimento de censura recaia sobre os que pensam diferente? Mark Zuckerberg é um caso excepcional de quem faz autocrítica sobre intervenções oficiais no debate digital.

O dono do Facebook e do Instagram já havia pedido desculpas por censurar a reportagem do New York Post, publicada na véspera da última eleição presidencial americana, que denunciava situações comprometedoras encontradas no laptop perdido de Hunter Biden, o filho do candidato que foi eleito presidente. Era tudo verdade, tanto que Hunter foi condenado por mentir que não usava drogas quando comprou uma arma. Note-se que os grandes jornais que entraram no jogo não tiveram a honestidade de reconhecer seus erros.

A carta de Zuckerberg à Comissão de Justiça da Câmara avançou na vários passos ao dizer que o Facebook e o Instagram erraram ao ceder à pressão de “altos funcionários do governo, inclusive da Casa Branca que pressionaram nossa equipe durante meses” e censurar as vozes divergentes em relação aos procedimentos e à vacinação contra a covid-19, “inclusive humor e sátira”. O detalhe da censura ao humor é revelador.

Vários fatos ligados à eficiência e a efeitos colaterais de diferentes vacinas hoje não só são aceitos como têm comprovação em processos por sequelas e mortes, embora não seja certo ignorar a importância da imunização para controlar a pandemia. Também hoje é considerável a tendência de cientistas renomados a reconhecer que o vírus foi produzido num laboratório da China, outro objeto de censura do governo americano. Repetindo, americano.

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“Acredito que a pressão do governo foi errada e lamento que não tenhamos sido mais explícitos em relação a isso. Também acho que fizemos escolhas que, com o benefício da visão em retrospectiva de hoje e de novas informações, não teríamos feito agora”.

“OPERAÇÃO RUSSA”

Sob intensa pressão, inclusive de fechamento – fato que Zuckerberg não menciona -, o Facebook deletou posts criticando a vacina ou se referindo à conexão da doença que matou sete milhões de pessoas no mundo com as pesquisas chinesas, além de colocar o carimbo de “desinformação” em conteúdos dessa natureza.

Para dar uma ideia da pressão do governo Biden sobre a Meta: o presidente chegou a dizer que o Facebook estava “matando pessoas” ao não censurar as opiniões divergentes. Sobre Hunter Biden, o próprio FBI advertiu que era “uma potencial operação russa de desinformação”. No Twitter, os serviços policiais e de inteligência tinham seus próprios postos de trabalho, como revelou Elon Musk depois de comprar a rede.

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Esse tema foi importante na época e agora ganhou um capítulo cujas consequências são potencialmente enormes, depois que Pavel Durov, o criador e dono do Telegram, foi preso ao chegar de jato particular na França, no sábado.

As acusações contra Durov são todas relacionadas ao fato de não censurar mensagens e canais que usam o Telegram para cometer crimes atrozes e promover o terrorismo.

Até que ponto os donos dos aplicativos podem ser responsabilizados pelo que dizem seus usuários é uma das perguntas mais vitais para as quais não existem respostas fáceis. E até que ponto os governos podem interferir no funcionamento das redes é outra.

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A Casa Branca invocou exatamente razões de uma emergência sem precedente – “uma pandemia letal” – para “encorajar ações responsáveis de proteção à saúde e à segurança pública”.

“ESTRANGEIRO EMÉRITO”

Quem decide o que é emergência nacional? E regimes autoritários não podem fazer isso sem fiscalização de outros poderes e da imprensa? Ou mesmo governos democráticos tentados a “fazer a coisa certa” que, coincidentemente, corresponde a seus interesses, como censurar fatos comprometedores sobre o filho do presidente?

O caso de Hunter Biden mostra que as democracias não estão livres dos abusos praticados através da pressão sobre as redes e a imprensa.

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Lembremos que Pavel Durov, que tem origem ucraniana por parte de mãe, saiu da Rússia e transformou o Telegram numa potência por se recusar a dar informações trocadas na rede que ele havia popularizado, o VKontakt, chamado de Facebook russo, sobre manifestações de protesto na Ucrânia e de oposicionistas russos.

Entre os muitos enigmas do caso, está determinar por que Durov entrou em território francês sabendo que havia um mandado de prisão contra ele. E por que tinha passaporte francês se nunca morou no país ou teve a intenção de criar negócios lá, o que poderia lhe valer o documento dado a personalidades excepcionais – o equivalente americano é chamado de “visto Einstein”, destinado a cientistas ou artistas com comprovada capacidade de contribuir para o país. Na França, existe a categoria “estrangeiro emérito” e pode contemplar quem contribui para a projeção do país, sem precisar morar nele.

Segundo o Le Monde, Emmanuel Macron entregou pessoalmente o passaporte que dava a nacionalidade francesa a Durov.

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AGENTE NEUTRO

Macron é um dos mais de 900 milhões de usuários do Telegram e disse que a prisão de Durov foi decisão independente da justiça de um país que abraça o “empreendedorismo”. Note-se que a França, com um ótimo sistema educacional e uma história de grandes matemáticos, não tem nenhum sucesso mundial na área das redes sociais. Os altamente capacitados vão trabalhar nos Estados Unidos. A prisão de Durov não tende a aumentar essa tendência de iniciativa sufocada.

A autocrítica de Mark Zuckerberg praticamente repete as declarações de Durov no sentido de querer ser um agente neutro na guerra da informação e nas batalhas políticas e culturais. É possível isso?

“Meu objetivo é ser neutro e não ter nenhum papel de um lado ou de outro – ou mesmo parecer que esteja desempenhando um papel”, disse ele ao informar que “não vai fazer uma contribuição similar” no atual ciclo eleitoral nos Estados Unidos – no último, ele beneficiou entidades ligadas à integridade eleitoral simpáticas ao Partido Democrata com mais de 400 milhões de dólares. O caso ficou conhecido como “Zuckerbucks”, a grana de Zuck. É impossível que uma quantia dessas dimensões não tenha tido um efeito na derrota de Donald Trump

A enorme quantidade de dinheiro e a capacidade de influência sem precedentes na história humana dos donos das redes sociais são outros elementos do debate atual. Zuckerberg tem uma fortuna calculada em 183 bilhões de dólares, mais de onze vezes o patrimônio de Pavel Durov.

Os 400 milhões de dólares que ele deu eram considerados bons e virtuosos pelos democratas. Agora, com o cofre fechado e o retrato bem negativo que pintou das interferências do governo Biden, Zuck pode se preparar para levar pancadas num nível que nunca enfrentou antes.

Talvez descubra até uma das muitas verdades eternas enunciadas por George Orwell: “Se liberdade significa alguma coisa, significa dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”.

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