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Durona e briguenta: é essa mulher a salvação dos conservadores britânicos?

Com um partido fadado a perder o governo, Kemi Badenoch pode ser a alternativa de reconstrução dos valores perdidos

Por Vilma Gryzinski 3 jul 2024, 06h38

Kemi Badenoch, atualmente num cargo equivalente ao de ministra do Comércio, não dá nenhum boi para não entrar numa briga e sabe-se lá quantas boiadas oferece para não sair dela. Ao contrário, é o tipo de pessoa que causa até medo pensar em provocar, com uma combatividade que o primeiro-ministro Rishi Sunak definitivamente não tem e que pode impulsionar Kemi a ser a mulher sobre a qual recairá a tarefa de tirar o Partido Conservador da lama em que as pesquisas mostram que chafurdará na eleição de amanhã (última pesquisa: um massacre de 484 deputados para a atual oposição trabalhista, 64 para os governistas).

Ela já não está dizendo “não, de jeito nenhum”. Em política, equivale a assumir que está no páreo. Como exigem as regras do parlamentarismo, Sunak deve renunciar depois da histórica sova de votos que sofrerá e um novo líder deve ser eleito pelos membros do mais antigo partido político do mundo, fundado em 1834.

Ao contrário do primeiro-ministro, Kemi é da ala de direita do partido e encontra várias barreiras internas.

Seus defensores, em compensação, acham que só ela pode recuperar os valores do conservadorismo raiz – menos impostos e mais respeito pela cultural nacional -, praticamente consumidos pelo caráter mais tecnocrático do atual governo. Nas casas de apostas, ela já é a favorita.

“CALE A BOCA”

A mais recente briga que ela comprou foi com o ator David Tennant, adorado pelo público como o eterno Doctor Who. Ao receber um prêmio LGBT, causa que apoia ativamente como “aliado” – a expressão inventada para significar heterossexual -, Tennant disse que seria bom um mundo em que os seus defendidos pudessem viver como quisessem, um argumento totalmente legítimo.

Mas, em seguida, acrescentou palavras impensáveis em quaisquer circunstâncias, muito mais vindas de um defensor de minorias: “Seria um mundo em que Kemi Badenoch não existisse – não desejo mal a ela, apenas desejo que cale a boca”.

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A reação veio rápida como uma picada de naja: “Um homem branco famoso, rico, esquerdista e tão cegado pela ideologia que não consegue ver o absurdo de atacar a única mulher negra do governo ao clamar publicamente pelo fim da minha existência”.

Seu colega de gabinete, o ministro do Interior James Cleverly, que também tem a ousadia de ser um negro conservador, sob a ótica do identitarismo exaltado, apoiou: “Não tenho certeza se David entende a ironia de tentar silenciar a voz da política negra a ocupar o cargo mais alto na história do Reino Unido, em nome de ‘defender’ uma minoria”.

“FATOR X”

Kemi desperta a rejeição de Tennant e companhia por ser contra intervenções médicas em menores de idade para mudança de gênero e a favor de ambientes exclusivos para mulheres biológicas em áreas sensíveis, como alas hospitalares, vestiários e casas para vítimas de violência doméstica.

É, por motivos óbvios, uma discussão altamente volátil, com argumentos de peso dos dois lados e dúvidas sem respostas fáceis: onde devem ficar mulheres trans “verdadeiras” – existem os aproveitadores que fingem ter esse status – em instituições como hospitais e prisões? Como proteger a intimidade de mulheres em espaços compartilhados? Devem médicos dar hormônios e até amputar seios de garotas que se consideram homens?

Kemi também já se pronunciou contra abusos praticados em nome do Black Lives Matter e contra a teoria crítica de raça, provocando as previsíveis reações que uma mulher negra de direita desencadeia.

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“Kemi tem o fator X, a capacidade de atravessar barreiras e se comunicar”, disse um político conservador ao Times quando parecia que haveria um golpe interno e Rishi Sunak seria derrubado pela ala mais conservadora do partido.

BONS MENTORES

Escrevendo sobre ela na Spectator, Julie Burchill classificou os três tipos de liderança que as mulheres geralmente exercem: o papel de Mãe da Nação (Golda Meir, Angela Merkel), o de Mulher Guerreira (Margaret Thatcher, Indira Gandhi) e o de Irmã Mais Velha Mandona (Hillary Clinton, Theresa May – e poderíamos acrescentar uma certa ex-presidente do Brasil).

Kemi definitivamente é do segundo tipo, mas tem ela a gravidade política que se espera de uma líder de partido? De maneiras muito diferentes, é uma característica que escapou aos três últimos líderes conservadores: Boris Johnson, a fugaz Liz Truss e Rishi Sunak.

Nascida Olukemi Olufunto Adegoke, filha de nigerianos de classe média, e casada com Hamish Badenoch, a quem conheceu na militância conservadora, ela poderá ter sua chance de comprovar competência e autoridade para reerguer um partido destroçado, seguindo as regras dos intelectuais que cultua, o filósofo inglês Roger Scruton e o economista americano Thomas Sowell.

São influências de peso, mas na realidade do mundo político ela vai ter que mostrar que, além de ter bons mentores – mesmo para quem não concorda com eles – e ser boa de briga, também consegue agregar e unificar, funções indispensáveis para os líderes de qualquer tendência, ainda mais nesse momento de crise monumental para os conservadores. Uma missão e tanto.

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Para começar, ela tem que ser reeleita para o Parlamento amanhã – a situação é tão horrível para os tories que até estrelas do partido estão ameaçadas.

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