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Dilemas russos: acabou mesmo? Como ficam Putin e Prigozhin agora?

Nada está garantido, muito ao contrário, mas é possível supor que o chefe do Grupo Wagner não tem um futuro brilhante pela frente

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 Maio 2024, 23h37 - Publicado em 26 jun 2023, 07h23
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  • Yevgeny Prigozhin
    Yevgeny Prigozhin em vídeo publicado no Telegram, em 25/05/2023 (Handout / TELEGRAM/ @concordgroup_official/AFP)

    A autoridade suprema, inabalável, incontestável de Vladimir Putin está, obviamente, rachada. Entre as muitas perguntas que correm pelo Telegram, uma das mais fundamentais é: o que ele cedeu a Ievgueni Prigozhin, fora a vida e o exílio na Belarus — o que para um homem como o chefe do Grupo Wagner não é vida.

    E o que vai acontecer com os 25 mil homens que Prigozhin tinha sob seu comando? Seria verdade que efetivamente tem apenas 8 000 soldados à disposição, o que muda bastante seu cacife?

    Mais uma: ficarão impunes as mortes de 39 pilotos e tripulantes dos seis helicópteros e um avião que os wagneristas derrubaram durante o levante? Que satisfação receberão as famílias de russos mortos por russos?

    Pode ser verdade, por mais louco que pareça, que Putin tenha negociado a remoção dos maiores inimigos declarados de Prigozhin, o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, general Valeri Gerasimov?

    Tudo o que era sólido, mesmo em meio ao absurdo de uma guerra provocada por um ato de voluntarismo de Putin, desmanchou-se no ar envenenado por todo tipo de especulação que circula na cúpula do poder russo.

    Algumas informações — fake ou com um fundo de verdade — que correm entre partidários de Prigozhin em canais do Telegram dizem o seguinte:

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    “Ievgueni Prigozhin discutiu a situação com Vladimir Putin e conseguiram chegar a um acordo” — note-se que todas as informações oficiais falam apenas de negociações com o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko.

    “Putin concordou com nossos termos e em remover Shoigu e Gerasimov do comando, bem como levar à justiça os responsáveis pela morte de combatentes do Grupo Wagner” — um ataque aéreo russo que matou uma quantidade não revelada de integrantes do grupo foi o pretexto que desencadeou a tentativa de golpe.

    “Estavam a 200 quilômetros de Moscou, mas metade do povo lá já estava se *******. Kkkkkk“.

    Pode ser verdade, pode ser mentira, pode ser desinformação. Ou pode ser que integrantes do Wagner acreditem nisso, como forma de compensar a frustração.

    “Você falou bonito e nós o apoiamos. Como fica agora?”, diz um dos ex-prisioneiros, integrante de uma unidade regular do exército russo, autoidentificados como Unidade de Ataque Z, que filmaram um vídeo cobrando satisfações de Prigozhin, a quem se referem, com intimidade, pelo apelido, Zhenia.

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    “Dizem que você caiu fora, que mentiu para todos os rapazes. Todo o Ataque Z estava pronto para ficar do seu lado, e não só nós, mas seus rapazes também. Mas você caiu fora.”

    Note-se a informação mais importante: eles integram o exército regular, um sinal de que a rebelião de Prigozhin poderia ter sido muito mais disseminada.

    Entre as inúmeras perguntas ainda sem resposta, uma das mais importantes é: por que Putin permitiu que Prigozhin chegasse tão longe, com seus vídeos cobrindo de insultos e linguagem de sarjeta, aprendida quando ele cumpriu pena de nove anos por assalto, os dois principais responsáveis pela “operação militar especial”, como os russos são obrigados a dizer em lugar de guerra?

    Prigozhin foi útil quando a Rússia de Putin interferiu militarmente em lugares distantes, como Líbia e outros países africanos, onde a atuação do exército regular causaria escândalo internacional. Foi mais útil ainda na Ucrânia, reunindo ex-militares experientes e os detentos que arrebatou nas prisões, dizendo que só havia algumas condições: “Não recuar, não beber e não usar drogas, e não interagir com as mulheres locais”.

    “Nem com fauna, flora, homens, o que for”, acrescentou, num inacreditável discurso gravado em vídeo num pátio de presídio.

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    O estilo brutal, em linguagem que os novos voluntários entendiam perfeitamente, e a disposição a brigar por seus homens — todos os xingamentos a Shoigu e Gerasimov eram por não ter uma tropa bem formada e municiada e não proteger os combatentes — o tornaram uma figura popular no meio.

    São impressionantes as cenas que circularam nas redes mostrando habitantes de Rostov, a cidade de 1 milhão de habitantes que os wagneristas tomaram no levante de sábado, aplaudindo os combatentes que se retiram. Quando forças regulares reocupam as posições abandonadas, são vaiadas.

    “Prigozhin é um bandido carismático. É pior do que Putin? Não, são a mesma coisa. Mas quem nos levou a essa situação desastrosa foi Putin”, disse o campeão de xadrez Garry Kasparov, que virou uma figura importante da oposição russa no exílio.

    Poderá Prigozhin viver normalmente na Belarus, um estado vassalo que cumpre todas as ordens de Putin, inclusive a insanidade de aceitar armas nucleares táticas em seu território — tornando-se assim um alvo potencial de uma guerra na qual não tem participação?

    Obviamente, não.

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    Prigozhin pode ser varrido da face da terra a qualquer momento em que Putin mandar, agora que não tem mais seu exército particular, sua empresa de fornecimento de refeições instalada numa sede de vidros espelhados em São Petersburgo, seu próprio canal de comunicação e sua fortuna avaliada em 1 bilhão de dólares.

    Mesmo tendo ganhado sem derramamento de sangue, Putin também não tem motivos para comemorar. Pareceu fraco, amargo, correndo atrás dos acontecimentos.

    “Putin era a autoridade suprema, mas isso mudou”, disse Kasparov. “Demorou dez horas só para fazer um pronunciamento”.

    Um levante como o de Prigozhin não pode passar sem a mais pura das instituições russas, o expurgo em massa.

    A opção é permitir que os combatentes do Wagner sejam integrados ao exército sem punições — uma garantia de uma enorme, contínua e explosiva encrenca.

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    Ridiculamente, Putin permitiu que fosse ao ar uma entrevista gravada três dias antes da tentativa de golpe, como se tudo estivesse correndo na mais perfeita normalidade.

    Note-se que, sob bombas russas e times de assassinos no seu encalço, Volodymyr Zelensky foi à rua de Kiev, logo no início da invasão, com uma pequena equipe, e fez o famoso vídeo do “Estamos aqui”.

    Putin gravou um vídeo furioso num bunker e mandou divulgar outro pré-gravado fingindo que tudo corre normalmente.

    A situação na Rússia e, por consequência, na Ucrânia, é tudo menos normal.

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