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De Musk a Putin, quem ganha e quem perde com a eleição de Trump

Nada é garantido com o presidente reeleito, mas, sob a luz do momento, dá para fazer um balanço da montanha-russa que chacoalhará o mundo

Por Vilma Gryzinski 7 nov 2024, 06h31
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  • Elon Musk – agora chamado de Elon por todos os republicanos, implicando intimidade – fez a aposta mais alta em Donald Trump. A recompensa que receberá pode também ser sua maldição: a tarefa de cortar gastos supérfluos num governo que tem orçamento de mais de seis trilhões de dólares por ano.

    No momento, ele está coberto de glória por ter apostado no cavalo ganhador quando parecia que havia um impulso quase suicida nesse risco por causa dos grandes contratos que tem com o governo, desde a mais remota antena do Starliink até as naves espaciais que transportam astronautas. Vai acabar entrando em conflito com Trump por incompatibilidade de egos cósmicos? Muita gente tem motivos para apostar no choque dos titãs.

    Também na coluna dos ganhadores: Joe Rogan, o fenômeno do podcast: o que fez com Trump teve mais de 40 milhões de visualizações, muito além do que qualquer canal de televisão possa alcançar. Também apostou alto e declarou apoio a Trump um dia antes da eleição. Poderia destruir sua credibilidade, o patrimônio dos comunicadores que, uma vez perdido, não consegue ser recuperado.

    Aliás, os podcasts em geral mostraram que são um novo agente no grande jogo da política. Por influência do filho de 18 anos, Barron, Trump deu longas entrevistas a personalidades desse mundo que certamente desconhecia até então. Por causa do formato, estava mais relaxado e revelou aspectos humanos de sua personalidade. A Theo Von (não sabem quem é? Vá para a lista de Joe Biden), falou longamente sobre o irmão, Fred, piloto comercial que morreu de alcoolismo. O entrevistador discutiu seu próprio vício em drogas e Trump fez indagações pertinentes, mostrando interesse e empatia, uma qualidade praticamente inexistente em sua persona pública.

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    NEGOCIADOR DE ACORDOS

    Vladimir Putin está também entre os ganhadores por causa da inexplicável simpatia que Trump mostra por ele. Consequentemente, perde a Ucrânia, dependente da ajuda americana para a guerra na qual entra com as vidas cortadas e os Estados Unidos com as armas.

    Trump, lamentavelmente, não parece entender a importância da ordem internacional – criada pelos Estados Unidos – em que a invasão de um país independente que não representa risco nem cometeu agressões contra o invasor tem que ser combatida com todas as forças.

    Correm boatos sobre um esboço de plano de paz que seria apresentado pelo novo governo: congelamento da situação atual e negociação sobre um futuro em que a Ucrânia não entraria na Otan e a Rússia garantiria a não-agressão. Os europeus pagariam a conta da reconstrução. Aliás, no mundo Trump os europeus também têm que assumir sua parte nos gastos da Otan.

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    Mesmo com a desordem introduzida pela invasão russa, muitos ainda não cumprem o compromisso de gastar pelo menos 2% do orçamento em defesa. Trump, que vê seu papel como presidente essencialmente como o de um negociador de acordos mais favoráveis aos Estados Unidos, não se conforma com uma situação que remete aos tempos da Guerra Fria, quando convinha aos americanos erguer as barreiras militares que segurariam uma invasão soviética na Europa. Funcionou muito bem, mas Trump acha que não há sentido em continuar a pagar a conta.

    FÔLEGO PARA A ARGENTINA?

    Se Vladimir Putin está entre os ganhadores, seu xará Volodymyr Zelensky pode ser um dos perdedores. A nova corrente isolacionista que domina uma parte do Partido Republicano o coloca, equivocadamente, como um aproveitador que só sabe arrancar dinheiro e armas dos patronos ocidentais. É errado, mas é como pensam os defensores dessa escola, pela qual Trump manifesta crescente simpatia.

    Outros ganhadores: Viktor Orbán, o líder húngaro de direita que foi aliado de primeira hora, e Javier Milei. Como sempre, a Argentina está precisando de dinheiro e um novo pacote do FMI, apesar do histórico de calotes, injetaria os dólares que dariam um fôlego extra a seu programa ultralibertário. Trump se comoverá com a situação do admirador declarado ou manterá a posição de que o dinheiro americano – como o maior cotista do FMI – não deve ser desperdiçado?

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    Perdedor feio: o desatinado governo britânico de Keir Starmer. Estreando internacionalmente na categoria erros não necessários, o Partido Trabalhista de Starmer decidiu mandar cem militantes para fazer campanha por Kamala Harris. A total falta de noção mostra como os britânicos estão mal arranjados. Imaginem a situação contrária: o Partido Republicano mandando um batalhão para atuar do lado dos conservadores britânicos. Pois é, ninguém do governo de Starmer calculou o tamanho da besteira.

    O Irã ocupa um lugar de honra na lista dos perdedores – e mais ainda se Mike Pompeo for secretário da Defesa. Ele está na lista de potencial vítima de assassinato do serviço secreto iraniano, por causa de seu papel no primeiro governo Trump, inclusive quando Qassem Soleimani, o chefe das operações externas do Irã, foi pulverizado por um míssil americano no Iraque. Quando Joe Biden exercia pressão forte sobre Israel para que, num ataque de retaliação, as instalações nucleares iranianas não fossem bombardeadas, convulsionando ainda mais o Oriente Médio, Trump comentou: “Mas não é exatamente a primeira coisa que eles deveriam explodir?”.

    PENSANDO EM 2028

    No plano interno, um grande ganhador é J.D. Vance, o vice que foi muito criticado, até dentro do Partido Republicano, e agora automaticamente se qualifica para disputar a candidatura presidencial de 2028 – como no Brasil, assim que acaba uma eleição, toda a classe política já começa a pensar na próxima. Irá Vance ter um papel menos que figurativo no novo governo?

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    Outro nome que desponta como integrante do próximo governo é Howard Lutnick, dono da megacorretora Cantor Fitzgerald.

    Sua história é impressionante. No 11 de Setembro, ele só chegou atrasado porque estava levando o filho para o primeiro dia de aula no maternal. O primeiro avião dos terroristas da Al Qaeda atingiu em cheio os três andares da corretora. Quem não morreu no impacto e no consequente incêndio não conseguiu descer. Foram mais de 570 mortos, inclusive o irmão de Lutnick. O próprio bilionário correu para o local e só escapou do desabamento da segunda torre porque se jogou debaixo de um carro.

    Também cotado para o Tesouro é Jamie Dimon, o guru do JP Morgan, embora as simpatias não exteriorizadas por Kamala – e a campanha feita pela mulher dele em favor da candidata derrotada – possam atrapalhar. Ou John Paulson, outro da categoria de bilionário do mercado financeiro, antenado em cortar impostos e desregulamentar a economia. Ele vazou estar “interessado”.

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    É cogitado também o nome de Vivek Ramaswamy, talvez como secretário do Interior, com a espinhosa missão de controlar a imigração clandestina. Vivek, como passou a ser chamado por causa do sobrenome indiano complicado, também vai querer disputar a candidatura presidencial em 2028.

    Secretário de Estado: os senadores Marco Rubio, que seria um pesadelo para Cuba, e Bill Hagerty.

    Integrar um gabinete Trump sempre é uma atividade de alto risco. Muitos trumpistas queimaram o filme no primeiro governo e talvez isso vá se repetir, especialmente com nomes estelares como Elon Musk, Jamie Dimon ou Robert Kennedy Jr., que largou a própria candidatura independente para apoiar Trump, em troca de mexer na saúde pública em questões vitais como vacinação e até a colocação de flúor na água – ele é contra ambas, uma garantia de que encontrará enorme oposição.

    E HÁ ESPERANÇA PARA NÓS?

    E o Brasil, como fica? Tomar conta dos próprios assuntos – e assuntos importantes, como o aumento do dólar, que empobrece o país inteiro – teria sido aconselhável, embora não obrigatório, principalmente para quem está numa posição interna perdedora e precisa faturar com o próprio público partidário. Apoio de última hora à candidata perdedora entra na categoria dos erros opcionais.

    Qualquer sobretaxa, obviamente, prejudica as exportações para os Estados Unidos – 19 bilhões de dólares no primeiro semestre.

    Isso abre caminho a um raciocínio sinuoso: se as sobretaxas gerais prometidas por Trump aumentarem os preços nos Estados Unidos, pressionando a inflação, Jerome Powell (o presidente do Federal Reserve que ele odeia) terá de subir a taxa de juros, atraindo investimentos que por aqui gorjeiam e enfraquecendo ainda mais o real. A saída é uma economia interna fortalecida pelos conhecidos parâmetros da estabilidade.

    Mas isso parece ser como esperar um Trump doce e meigo que não liga nem um pouquinho para a aliança antiocidental que pretende substituir o dólar como moeda de troca. Essa sim vai ser uma briga daquelas.

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