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Bandidos presos em El Salvador: 63 mil. Popularidade do presidente: 90%

A “maior prisão das Américas” é a prova visível, embora muito criticada, do desmanche das quadrilhas que infernizavam o país

Por Vilma Gryzinski 1 mar 2023, 07h49
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  • “Perguntavam: onde vão colocar tantos presos? Bem, agora já sabem”, ironizou Nayib Bukele, o jovem presidente de El Salvador, ao comemorar a inauguração da megaprisão chamada, nada sutilmente, de Centro de Confinamento do Terrorismo.

    A chegada dos primeiros presos – andando agachados, cabeça raspada, só de cuecas samba canção – foi filmada como uma superprodução, com tomadas de vários ângulos, inclusive aéreos.

    A penitenciária com celas para cem presos cada, mas beliches sem colchão para apenas oitenta, culmina a campanha desfechada há quase um ano contra as quadrilhas que dominavam, na prática, o país, com nomes conhecidos – e temidos – em El Salvador e nos Estados Unidos: Mara Salvatrucha e Barrio 18. 

    Tatuados em peitos, costas e braços, os nomes forneciam toda a prova que os agentes de segurança precisavam para as prisões em massa. Houve inocentes arrastados na onda? Com toda certeza. Os princípios do estado de Direito foram integralmente seguidos? Claro que não. Nayib Bukele está usando a aprovação popular à guerra aos bandidos para um projeto de eternização no poder? Sem dúvida nenhuma.

    Ao mandar prender um total de 63 mil pessoas, equivalente a 1% da pequena população do país, conseguiu não apenas 90% de aprovação como o que parecia impossível: o desmantelamento das quadrilhas que, como nas periferias e morros de São Paulo e Rio de Janeiro, mantinham a população num regime de terror.

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    Atestou o jornal El Faro, que valentemente faz reportagens críticas ao presidente: “El Salvador parece ter destruído o controle territorial e a liderança centralizada das notórias gangues M-13 e Barrio 18”.

    “As quadrilhas não existem mais tal como El Salvador as conheceu durante décadas”, escreveu o jornal depois de mandar repórteres a catorze bairros onde a bandidagem reinava.

    Comunidades divididas por gangues rivais começaram a se aproximar e a usar espaços como campos de futebol, antes territórios proibidos.

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    Bukele, que já foi de esquerda, nada de braçada na popularidade, ligeiramente afetada pela crise nas criptomoedas, que ele tentou implantar no país sem muito sucesso. Tuitando imagens da chegada dos presos, ele exaltou: “Esta será sua nova casa, onde viverão durante décadas, misturados, sem prejudicar mais a população”.

    “Dizem que sou valente porque estamos enfrentando os terroristas, o narcotráfico, os organismos internacionais, grandes potências mundiais e a oligarquia local”, escreveu, com característica modéstia. “Talvez seja valente comparado aos parasitas que nos governaram antes, comparado com políticos de outros países que são os mesmos parasitas”.

    “Não sou valente comparado com os soldados, com os policiais, com os que arriscam suas vidas dia a dia para trazer paz ao povo salvadorenho e que enfrentam cara a cara o terrorismo, o crime e a maldade”.

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    Brigar com “organismos internacionais” e “potências mundiais” – leia-se Estados Unidos – faz parte do minuciosamente planejado teatro político de Bukele. O Human Righs Watch o acusa de “desenvolver um modelo de repressão e de negociações obscuras com as quadrilhas pelas costas do povo salvadorenho”.

    Mesmo os mais críticos admitem que as “políticas punitivas” são o caminho para Bukele manter o altíssimo nível de aprovação. Como a maioria da população sempre viveu fora da finíssima camada de legalidade, sufocada e reprimida pelos criminosos organizados, os apelos em defesa do estado de direito têm pouco efeito. Mães que viam seus filhos sugados pelo crime ou cidadãos que corriam risco de vida por simplesmente olhar nos olhos de um quadrilheiro costumam preferir que os bandidos sejam presos.

    No domingo, Bukele comemorou outra semana inteira sem nenhum homicídio no país que já teve um dos mais altos índices de assassinatos no planeta. Em março do ano passado, 76 pessoas haviam sido mortas num único sábado, desencadeando a decretação do estado de emergência, aprovado depois por 67 dos 84 deputados da Assembleia Nacional salvadorenha.

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    A construção, no prazo recorde de sete meses, da nova penitenciária, cercada por um muro de dois quilômetros de extensão e onze metros de altura, resolve a questão de como acomodar a quantidade excepcional de presos. No Brasil, seria o equivalente a prender 2,1 milhão de pessoas.

    Bukele ressalta que, nas novas acomodações, o presos não terão, como em governos anteriores, acesso a “prostitutas, PlayStation, celulares e computadores”.

    Obviamente, os problemas sociais e econômicos que transformaram El Salvador numa sucursal do inferno em matéria de criminalidade estão bem longe de ser resolvidos. Mas a impunidade e a condescendência, alimentada a corrupção, no tratamento de criminosos acabaram.

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    O que fazer para resolver o restante das questões? Com apenas 6,3 milhões de habitantes e 28 bilhões de dólares de PIB, El Salvador é um país com poucas possibilidades econômicas. O “paraíso da Bitcoin”, movido a energia termal produzida pelo vulcão Tecapa, imaginado por Bukele não deu certo e o que está funcionando é uma aliança cada vez mais próxima com a China.

    Nayib Bukele, de 41 anos, não vai parar por aí. Ah, e claro que ele vai disputar a reeleição no ano que vem. A constituição não permite isso, mas quem enfrenta um político com 90% de aprovação?

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