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Astro do balé: “síndrome russa de morte súbita” ou queda acidental?

É difícil encontrar simples coincidências em mortes seriais de personalidades russas como a do bailarino Vladimir Shklyarov

Por Vilma Gryzinski 21 nov 2024, 07h00
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  • Ele era sublime, uma combinação de paixão artística, técnica refinada e o incomparável atletismo da escola russa de balé. Essa era a opinião dos críticos sobre Vladimir Shklyarov, de um mais renomados centros globais do balé, o Teatro Mariinsky, a companhia de São Petersburgo que antes foi o Balé Kirov e é considerada mais clássica do que o Bolshoi.

    Antes da invasão da Ucrânia e do boicote, percorreu os palcos mais conhecidos do mundo, coberto de aplausos e reconhecimento à incomparável e exigentíssima arte de criar beleza com o corpo. Logo depois, fez uma declaração corajosa para o momento.

    “Sou contra a guerra na Ucrânia! Sou a favor de céus pacíficos acima de nossas cabeças. Os políticos deveriam ser capazes de negociar sem atirar e matar pessoas”, disse numa postagem posteriormente deletada na qual evoca laços familiares, como tantos russos, com a Ucrânia.

    “Quero dançar, quero amar todo mundo, esse é o propósito da minha vida”.

    Uma vida que estava complicada: aos 39 anos, já estava perto da inevitável aposentadoria dos palcos, tinha problemas com bebida e drogas e estava se divorciando da mulher, a primeira bailarina Maria Shirinkina.

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    CONDIÇÕES SUSPEITAS

    Associar estes problemas à sua morte ao cair da sacada do apartamento de quinto andar onde morava em São Petersburgo é inevitável. Também é inevitável evocar as seguidas mortes de personalidades russas em quedas suspeitas, suicídios inexplicáveis e outras formas ironicamente chamadas de “síndrome russa de morte súbita”.

    De 2022 a 2024, são sessenta mortes em “condições suspeitas”, tão coincidentes que têm um capítulo próprio na Wikipédia, Na maioria, empresários incluídos na categoria oligarcas, entre os quais três casos de suicídio precedido pelo assassinato de esposas e filhos.

    Cair de escadarias ou sacadas também tem uma impressionante incidência. Ou mortes sequenciais. Dois russos conhecidos morreram em dois dias seguidos no hotel na Índia onde se hospedavam de “causas naturais”. Entre eles, o “rei da linguiça”, Pavel Antov.

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    Num dos casos mais bizarros, um diretor da Lukoil morreu envenenado durante uma sessão shamânica envolvendo veneno de sapo. Ravil Maganov, presidente da petrolífera Lukoil, teve um enfarte e depois caiu da janela do sexto andar do hospital onde estava internado. Até em Washington um executivo russo, Dan Rapoport, caiu da janela de seu prédio. O vice-diretor de uma academia naval suicidou-se com cinco tiros no peito

    “Defenestração” tornou-se uma palavra de uso comum e, inevitavelmente, quem parece ter caído em desgraça terá o nome acompanhado pelo alerta para não passar perto de janelas em andares altos.

    ÁCIDO NO DIRETOR

    Vários especialistas não atribuem a morte do bailarino Shklyarov a ações malignas, com o envenenamento por novichok de Alexei Navalny, o mais conhecido dissidente que escapou do agente neurológico, mas não da morte da prisão em fevereiro desse ano, ou a explosão do avião que matou Ievgueni Prigojin, o chefe mercenário que ousou desafiar Putin.

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    Como serviços secretos que operam no ramo dos assassinatos, do Mossad israelense ao GRU, os russos cultivam a imagem de implacabilidade com os inimigos, um modo de infundir medo.

    O balé pode ser um mundo de pulsões extremas e o caso mais famoso foi o do bailarino russo que jogou ácido em Serguei Filin, diretor do Bolshoi, em 2013. O atacante, Pavel Dimitrichenko, estava contrariado porque a namorada não havia conseguido o papel principal em O Lago dos Cisnes.

    Dançar e amar, os desejos tão humanos de Shklyarov encontraram um fim trágico, num momento de medo generalizado de que Putin aumente as apostas e desfeche um grande bombardeio contra Kiev e os “céus pacíficos acima de nossas cabeças” estão mais mortíferos do que nunca.

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