A vida imita a Netflix: triângulo amoroso derruba líder evangélico
Herdeiro de um império religioso, Jerry Falwell Jr. sofre tombo fenomenal com revelações sobre voyeurismo envolvendo sua esposa com 'moço da piscina'
Num ano eleitoral, tudo tem a ver com política. Inclusive, ainda que só teoricamente, a queda de Jerry Falwell Jr. depois de dois atos incompreensíveis para os muitos fiéis que depositavam sua confiança nele.
Número um, foi a foto divulgada por ele mesmo, com o zíper da calça aberto, um copo com bebida escura numa das mãos (“Juro que é água”) e, na outra, uma jovem de shortinho igualmente exposto (“Assistente da minha mulher”).
Bastou para ser afastado por tempo indeterminado da Liberty University, um centro de estudos onde os jovens são instados a manter a castidade até o casamento e trajam roupas tradicionais, com terno e gravata para os rapazes, saias mais longas para as alunas.
O golpe número dois não deixou escapatória.
Giancarlo Granda, um bonitão que trabalhava na área da piscina do icônico Fontainebleau de Miami Beach, disse que durante sete anos fez sexo com a mulher de Falwell, Becki, enquanto o marido olhava.
Por serviços prestados, foi compensado como sócio de um hostel em Miami, em parceria com o casal.
Não é nada difícil imaginar que num lugar de ferveção como Miami Beach a história já circulasse, mas sua confirmação teve um efeito de nitrato de amônio moral para Falwell.
Ainda tentando se segurar, o próprio Falwell antecipou a bomba e disse que estava sendo chantageado por Granda por causa do triângulo amoroso.
Granda diz que acompanhava o casal frequentemente em viagens, duas das quais para assistir eventos de Donald Trump.
Tem uma foto cumprimentando o presidente. Para Trump, coisas muito piores já aconteceram e ele sobreviveu.
Para Falwell, é um teste quase insuperável da capacidade de perdão dos fiéis que acompanham a família desde o tempo do pai, o pastor batista precursor das pregações por televisão, com a fama e o dinheiro em quantidades incríveis como resultado colateral.
O pai ficou famoso para o público não-evangélico quando processou Larry Flint, o dono da revista pornográfica Hustler por publicar uma paródia pavorosa de iniciação sexual envolvendo a própria mãe.
O caso chegou até a Suprema Corte, redundando numa sentença famosa que abrange a liberdade de expressão de forma geral: personalidades públicas não têm direito a danos morais quando são parodiados, mesmo da forma grotesca mostrada na Hustler.
Como numa boa série da Netflix, teve uma reviravolta final. Flynt, paraplégico devido a uma tentativa de assassinato, acabou fazendo amizade com o pastor Falwell, que o procurou anos depois.
Os dois participavam juntos de debates em universidades, cada um defendendo seu lado.
E é claro que a Netflix também é lembrada pelos paralelos não só entre suas várias séries sobre televangelistas, mas pelas semelhanças com o roteiro de The Politician.
Na série sobre a ascensão de um jovem obcecado em ser presidente, um triângulo amoroso de sua veterana adversária na candidatura ao Senado estadual de Nova York é tratado como uma bomba política – os desdobramentos folhetinescos sinalizam outros caminhos.
Na vida real, um dos maiores líderes evangélicos dos Estados Unidos ser denunciado por partilhar a esposa com um rapaz bonitão, enquanto assistia tudo, num clássico do voyeurismo, tem menos chances de ser absorvido com naturalidade.
Entre os não-crentes, é comum usar desvios de padres pederastas ou pastores concupiscentes para pregar o carimbo da hipocrisia na religião como um todo.
Tem um bocado de gente querendo atirar a primeira, a segunda e a terceira pedra em Jerry Falwell Jr., esperando inclusive atingir Donald Trump.
Os mais experientes aguardam Falwell, o Retorno. As séries da Netflix não são exatamente feitas só de fantasias impossíveis.