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A queda da “princesa” Isabel: bilionária angolana perde coroa

Afastada do comando da estatal do petróleo, filha do ex-presidente, conhecida como a mulher mais rica da África, diz que tudo tudo é pura perseguição

Por Vilma Gryzinski 22 dez 2017, 12h28
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  • Imaginem uma mulher que tem tudo. Tudo mesmo. Uma bilionária comum, por exemplo, pode comprar joias poderosas. Isabel dos Santos comprou logo uma joalheira, a De Grisogono.

    A marca suíça é conhecida pelas festas promocionais durante o festival de Cannes, com modelos, atrizes, kardashians, aristocratas com muito passado e pouco futuro e, numa foto que talvez Isabel preferisse esquecer, Harvey Weinstein, o hoje execrado produtor de cinema, posando sorridente ao lado dela e de Lindsay Lohan, com um decote revelador.

    Existem no momento muitas outras coisas que Isabel dos Santos gostaria de tirar da memória. Conhecida como a mulher mais rica da África, com uma fortuna de três bilhões de dólares, Isabel é uma bilionária incomum, embora seu método de acumular de riquezas tenha sido o de sempre: a corrupção e o nepotismo em escalas estonteantes, permitidos à filha mais velha e mais dotada de José Eduardo dos Santos, que foi o presidente de Angola durante nada menos que 38 anos.

    Com câncer avançado, segundo se conclui pelos lugares onde faz tratamento na Europa, José Eduardo dos Santos, deixou a presidência semiperpétua em setembro de 2017. Em novembro começou a derrocada de Isabel.

    Conhecida como “princesa”, ela perdeu primeiro a joia da coroa: a Sonangol, a estatal do petróleo, da qual foi exonerada como presidente do conselho, um dos presentes de despedida de seu pai.

    O novo presidente, José Lourenço, que era carne e unha com o anterior, está separando uma coisa da outra. Já tirou a televisão pública do controle de outros dois filhos de Santos.

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    Num movimento descrito de forma mais realista como “a corrida para saquear até o fim os bens do Estado”, Santos distribui entre os seus obras que muitos brasileiros identificam como foco de corrupção: construção de um polo industrial, concessão de um porto de águas profundas e construção e operação de uma termoelétrica.

    Com nove filhos de cinco mulheres, Santos sempre teve bastante o que distribuir em Angola, um país de riquezas fabulosas e miséria revoltante. João Lourenço está, previsivelmente, desmanchando a estrutura de apaniguados. Rei saído, rei entrado.

    Mas nenhum destino obceca mais o país do que o de Isabel, a bem falante e bem formada engenheira que espalhou seu império entre Angola e Portugal. A intrincada teia de empresas, participações, empréstimos suspeitos precisa de uma Lava Jato para ser deslindada.

    Agora que está perdendo pelo menos uma parte do império, Isabel tem feito o circuito de elite para se apresentar como uma vítima de perseguição política. CNN, BBC e outros abrem portas à mulher que fala no inglês perfeito adquirido quando morou em Londres com a mãe, a russa Tatiana Kukanova, que José Eduardo dos Santos, um quadro do Movimento Popular de Libertação de Angola, conheceu quando foi mandado para a antiga União Soviética.

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    Isabel nasceu em Baku, no Azerbaijão, imediatamente antes da guerra da independência, seguida da guerra civil em Angola. Estudou engenharia no Kings College e trabalhou na mais conhecida empresa de auditoria do mundo, o que certamente ajudou muito no branqueamento de seus negócios. O fundamento da fortuna estonteante foi feito com o método de sempre: telecomunicações, um presente de papai.

    No lindo português herdado da era colonial, ela se defende em termos quase idênticos aos ouvidos de brasileiros encrencados.”Não podia deixar de partilha consigo a situação preocupante que tem ocorrido nos últimos dias na Sonalgol”, escreveu ela.

    “Os assessores, os diretores e todos os colaboradores que foram promovidos ou que entraram para a Sonangol durante a vigência do último Conselho Administrativo estão a ser todos despedidos ou enviados para casa.”

    “Estão também a ser conduzidos interrogatórios a porta fechada, com gravadores em cima da mesa, alegando um falso inquérito de Estado”, reclamou. “Este procedimento é ilegal. Só a autoridades judiciais ou policiais podem fazer interrogatórios. É preciso respeitar o direito dos trabalhadores.”

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    “Isabel dos Santos, agora sem a Sonangol, está acabada”, diz o mais conhecido opositor angolano, Rafael Marques. “Todos os portugueses que a apoiavam e que faziam as suas relações públicas, e inclusivamente a imprensa, surgiam em função do poder que ela derivava do seu pai.”

    A saída da estatal petrolífera foi a mais estrondosa. Mas a limpa do antigo regime atingiu também a estatal de comercialização de diamantes. A Sodiam rompeu a parceria com a De Grisogono, a joalheira suíça controlada por Isabel, “por razões de interesse público e de legalidade”.

    Quando entrou no negócio das joias, Isabel começou a aparecer muito mais. Ao lado do marido Sindika Dokolo, filho de pai congolês e mãe dinamarquesa, passou a circular no circuito europeu de celebridades, distribuindo cachês para a apresentação de cantores e o desfile com as joias da Grisogono.

    A descoberta do maior diamante de Angola, um gigante de 404 quilates, lapidado numa gema de puríssimos 163 quilates e montado num colar com uma torrente de esmeraldas de um lado e de diamantes menores de outro, foi um acontecimento bem explorado pelo casal.

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    Segundo o Maka Angola, criado pelo onipresente Rafael Marques, o leilão do fabuloso diamante foi uma armação. “O casal Isabel dos Santos e Sindika Dokolo está no início, no meio e no fim desta transação”.

    “Na realidade, a família Dos Santos vendeu o diamante a si própria, através de cortinas de fumo no Dubai.”

    Inteligente, estudada, habilíssima e com experiência em altos negócios, Isabel tem pouco das ávidas mulheres e filhas de ditadores africanos que assaltam os cofres do Estado sem a preocupação de criar empresas aparentemente legítimas e auditadas.

    Mas o pouco que tem basta. Em fevereiro, o Tribunal Internacional de Arbitragem iniciará o julgamento de Isabel dos Santos numa disputa com a a brasileira Oi.

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    Diz o Maka Angola: sobre a rede de interesses: “Em causa está a locupletação dos dividendos da Portugal Telecom Ventures na Unitel, desde 2011, já que nesse ano apenas uma parte desses dividendos foi efetivamente paga. A PT Ventures, que hoje é uma subsidiária da multinacional brasileira Oi, detém 25% do capital social da Unitel, através da Africatel Holdings.”

    “Cumulativamente, as três reclamações apresentadas em tribunal atingem um valor de 3,4 bilhões de dólares, o valor que Isabel dos Santos e seus sócios angolanos deverão pagar, caso percam a ação em tribunal.”

    A princesa Isabel, como era chamada em Angola, ainda vai dar o que falar. E em três continentes.

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