Uma carta endereçada ao povo brasileiro e erroneamente atribuída ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, tem circulado na internet e em grupos do Whatsapp nos últimos dias. O texto fala que para fazer a “revolução” não é necessário pegar em armas, mas sim usar as redes sociais. “Basta cada um fazer a sua parte e ampliar. Tá na sua mão. Na nossa mão. Seja bastante coerente”, diz a mensagem.
Em seguida, a carta defende pontos como o voto facultativo, a eleição de apenas dois senadores por Estado, a redução da quantidade de ministérios e a extinção do horário eleitoral obrigatório. O texto termina pedindo que os leitores divulguem a mensagem entre seus contatos.
A carta, obviamente, não é de autoria de Moro, não raro vítima de boatos desse tipo – no mês passado, uma falsa corrente atribuída ao juiz pedia que o povo votasse nulo nas próximas eleições para tentar “acabar com os corruptos”. Basta fazer uma rápida busca na internet pelos termos “Sergio Moro”, “carta” e “revolução” para se perceber que somente sites e blogs pequenos e pouco conhecidos reproduziram esse conteúdo. A grande imprensa com certeza trataria do assunto caso a carta fosse realmente assinada por Moro – o que nunca aconteceu.
A lorota é tão mal construída que o mesmo texto chegou a circular recentemente nas redes sociais e no Whatsapp, mas com autoria atribuída à ministra e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. A mentira era contada da mesma maneira, afirmando que a ministra havia escrito uma carta incentivando a “revolução” e publicado no jornal O Globo.
A única parte verdadeira de toda a história é que sim, a mensagem foi originalmente publicada no jornal carioca, mas não foi assinada nem por Cármen Lúcia, nem por Moro e tampouco é recente. A carta foi enviada pelo leitor Gil Cordeiro Dias Ferreira e publicada pelo jornal na seção Dos Leitores na edição de 18 de abril de 2011. A mensagem original, na integra, pode ser conferida por assinantes no acervo do jornal.
O início do texto é diferente daquele disseminado nas redes sociais. “Que venha o novo referendo pelo desarmamento. Votarei não, como da primeira vez, e quantas forem necessárias”, diz a mensagem. Em 2011, poucos dias antes de Gil Cordeiro enviar a carta ao jornal, o então presidente do Senado, José Sarney, havia afirmado que iria propor a realização de um novo referendo sobre o desarmamento no Brasil.
Ao longo dos anos seguintes, a mensagem foi republicada diversas vezes por blogs, geralmente atribuindo sua autoria a Gil Cordeiro. Com o passar dos anos e o surgimento de personagens como Cármen Lúcia e Moro, os loroteiros de plantão decidiram aumentar a mentira, incentivando sempre o compartilhamento da falsa notícia em grupos e redes sociais.
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