Parte da revolução cultural que festivais literários têm gerado no interior do Brasil, o III FliItabira conseguiu um feito histórico a ser apresentado no dia 31 de outubro: o público vai ouvir – em alto e, neste caso, verdadeiramente muito bom som – uma inédita leitura de cartas entre o poeta Carlos Drummond de Andrade e o pintor Candido Portinari.
Sim, com a voz dos dois.
Mas como isso é possível, se os dois morreram no século passado?
É que o festival, que vai até 5 de novembro e terá o tema “Arte, Literatura e Correspondências”, conseguiu sintetizar a voz de Drummond e de Portinari.
O processo de conseguir esse feito tecnológico já é o suficiente para dizer que, de certa forma, o festival começou antes da abertura da programação.
Pesquisadores da Engenharia Eletrônica da UNIFEI, de Itabira, liderados pelo professor Juliano Montemor, conseguiram sintetizar a voz de Drummond. Em seu caso, o poeta deixou centenas de entrevistas e leituras de poemas.
Saber que Drummond estará lendo um texto inédito seria o suficiente para comemorar o festival, mas os pesquisadores da universidade federal conseguiram ir além.
Gravações com a voz de Portinari não são conhecidas. Recentemente, contudo, o Projeto Portinari, presidido por João Candido Portinari, filho do pintor, descobriu uma entrevista dele, em 1946, para uma rádio francesa (foto). Portinari fala por somente 59 segundos. É o único registro.
Através de um trabalho árduo, os mesmos pesquisadores da UNIFEI conseguiram sintetizar a voz de Portinari, como fizeram com a de Drummond.
Ou seja, será um acontecimento histórico. O público do festival vai ouvir a voz sintetizada de Drummond lendo cartas endereçadas a Portinari e este a responder, com uma inédita voz também sintetizada. Ademais, será a primeira vez que ouviremos a voz real do pintor, na entrevista para a rádio francesa.
MAIS SOBRE O EVENTO LITERÁRIO
A abertura contará também com Pedro Drummond, neto do Poeta, e João Candido lendo algumas das cartas, presencialmente.
“Cada edição de um festival literário tem uma história diferente, um modo de fazer, tem um lugar-comum: uma narrativa. Começa sempre um pouco antes do festival do ano anterior terminar – com o nublar do domingo, sempre o último dia, mas quando, oficialmente, o próximo festival inicia. A gestão anual praticamente nos obriga a agir assim”, explica Afonso Borges, curador do festival e idealizador do tradicional “Sempre um papo”.
Sendo esta a terceira edição do Flitabira, uma nova história tem que ser desenhada, mas olhando firme para o legado das anteriores. Se a ideia é não repetir acontecimentos e criar outros, sempre inovadores, o festival da cidade mineira promete escrever um inesquecível novo capítulo dessa revolução cultural no interior do país.