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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Vítimas de Mariana protestam em reunião de acionistas da BHP na Austrália

Na véspera do aniversário da tragédia, os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão disseram que executivos mentem sobre compensação às vítimas

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 nov 2023, 17h42 - Publicado em 1 nov 2023, 14h20

Atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, confrontaram executivos da BHP Billiton durante a Assembleia Geral Anual dos acionistas da mineradora nesta quarta-feira, 1, em Adelaide, Austrália. Cinco atingidos pelo rompimento – dentre quilombolas, moradores de Mariana e areeiros – acusaram a empresa de esconderem dos investidores a seriedade do crime ambiental e social causado pelo derramamento de rejeitos tóxicos da Samarco na Bacia do Rio Doce em 2015. 

Os brasileiros usaram procurações cedidas por acionistas para participarem da reunião e, por cerca de 50 minutos, fizeram relatos das perdas pessoais e coletivas que suas comunidades sofreram e ainda sofrem. A participação acabou dominando todo o encontro, que foi marcado pelo constrangimento do chair da BHP, Ken Mackenzie, e do CEO, Mike Henry, que conduziam as respostas. A reunião foi encerrada logo após a última brasileira usar a palavra, seguida de aplausos.

As vítimas – que são clientes da ação que tramita na Justiça da Inglaterra movida pelo escritório Pogust Goodhead –  alegaram que a BHP não aprovisionou recursos suficientes para arcar com o processo nas cortes inglesas. Afirmaram ainda que a mineradora engana os acionistas sobre o estado da recuperação do ecossistema ao negar a toxicidade dos rejeitos que ainda hoje estão depositados no Rio Doce. Os atingidos enfatizaram também que a mineradora fracassou em oferecer reparação justa e integral, sobretudo às comunidades quilombolas e indígenas. 

Mônica dos Santos, moradora do distrito de Bento Rodrigues, criticou a Fundação Renova e lembrou que 107 pessoas já morreram desde o rompimento da barragem – sendo 58 de Bento Rodrigues. Ela tentou entregar aos executivos uma garrafa da lama símbolo da tragédia e um cartaz com a foto das 19 pessoas mortas em decorrência do rompimento. Mônica, no entanto, foi impedida de se aproximar do executivo. “Essa é a empresa que vocês investem, a empresa que tira vidas”, disse à plateia. “Só me mostra o canalha que vocês são”, completou Mônica ao se dirigir a Mackenzie. 

“A maioria não recebeu sequer as migalhas que estão sendo oferecidas pela Fundação Renova. A Renova só leva em consideração o que eles querem reconhecer. Dessas 58 pessoas [que morreram], eu perdi o meu irmão três anos atrás, de 37 anos. Perdi primos, perdi tios, perdi amigos. A pergunta que fica é: Quando vocês vão devolver a minha vida de volta?”, questionou. 

Ao final da reunião, diversos acionistas australianos procuraram as vítimas brasileiras para agradecer pelos relatos. Muitos disseram que não tinham ideia da tragédia até hoje vivida por toda a Bacia do Rio Doce. “Tive que viajar meio mundo para que minha voz fosse ouvida pela BHP. Os executivos e o conselho da BHP cometeram dois crimes – primeiro, a negligência no rompimento da própria barragem, mas agora, eles estão sendo cúmplices do segundo crime que é negar a mim e a todas as outras vítimas do desastre uma compensação justa. Levei minha luta por justiça contra a BHP ao tribunal na Inglaterra e dedicarei o resto da minha vida, se for necessário, a deter estes criminosos responsável”, declarou Edertony José da Silva, areeiro de Governador Valadares.

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Tom Goodhead, sócio-administrador e CEO global do escritório de advocacia Pogust Goodhead, que representa 700 mil vítimas na ação da Inglaterra, elogiou a participação das vítimas na reunião.

“Meus clientes enfrentaram corajosamente a BHP em sua Assembleia Geral, forçando o Presidente da BHP, seu CEO e maiores acionistas a ouvirem seus gritos por justiça. Oito anos depois desse ecocídio causado pela BHP – em que priorizaram o lucro em detrimento da segurança –, a mineradora ainda não conseguiu fornecer compensação adequada a cerca de 700 mil dos meus clientes”, ressaltou. 

O desastre

A barragem do Fundão, em Mariana, rompeu em 5 de novembro de 2015 e lançou mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos de mineração em quase 700 km de cursos d’água ao longo do Rio Doce, matando 19 pessoas e destruindo todo o ecossistema da região. 

A catástrofe resultou em aldeias soterradas pela lama, milhares de pessoas deslocadas, produções agrícolas, estoques pesqueiros e meios de subsistência destruídos por lama tóxica contendo metais pesados, arsênico, mercúrio, níquel e alumínio. O impacto do desastre continua até hoje: rejeitos não foram removidos, os meios de subsistência das pessoas estão devastados, e empresas e municípios amargam bilhões de reais em perdas e prejuízos.

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O processo movido desde 2018 pelo escritório Pogust Goodhead é considerado a maior ação coletiva do mundo, com mais de 700 mil vítimas e indenizações que chegam a R$ 230 bilhões (US$ 44 bilhões). Entre os requerentes estão moradores, comunidades indígenas e quilombolas, empresas, municípios, instituições religiosas e autarquias prestadoras de serviços públicos.

O que diz a BHP

A BHP Brasil sempre esteve e segue comprometida com as ações de reparação e compensação relacionadas ao rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em 2015. Como acionista da empresa, a BHP Brasil segue disposta a buscar, coletivamente, soluções que garantam uma reparação justa e integral às pessoas atingidas e ao meio ambiente.

Como uma das mantenedoras da Fundação Renova, a BHP Brasil reforça as ações que estão em andamento no Brasil, somando cerca de 431 mil pessoas indenizadas, com mais de R$ 32 bilhões destinados às atividades de reparação.

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