Assine VEJA por R$2,00/semana
Matheus Leitão Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
Continua após publicidade

Por que as novas medidas contra a corrupção não avançam no Congresso?

Daniel Lança explica quais são os motivos para um tema tão importante para o país não decolar

Por Daniel Lança 
24 jan 2021, 14h34
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Se existe um consenso entre os especialistas em combate à corrupção é o fato de que a mera repressão – leia-se, persecução penal – não resolve o problema. Não existe bala de prata anticorrupção, e verdade seja dita, é impossível varrê-la do mapa por completo. Para enfrentar de fato a corrupção é preciso construir reformas estruturais – sobretudo legislativas – e cujos resultados se medem a longo prazo.

    Publicidade

    O Brasil chegou a caminhar nesse sentido no passado recente. Após o início estrondoso da Operação Lava-Jato, o Ministério Público Federal (MPF) patrocinou em 2015 o Projeto de Lei (PL 4.850/16) das “Dez Medidas contra a Corrupção” que, após receber mais de dois milhões de assinaturas, passou a tramitar no Congresso Nacional por iniciativa popular. Seu fim foi trágico: o pacote de medidas foi destroçado pela Câmara dos Deputados na trágica noite de comoção pela queda do avião da Chapecoense.

    Publicidade

    A sociedade civil engajada na luta contra a corrupção logo compreendeu que era preciso uma nova investida a fim de propor as reformas que o país precisa de maneira mais enfática – a simples proposição de um projeto de lei, oriundo do MPF, gerava mais apatia do que empatia no Congresso. Assim, sob iniciativa da Transparência Internacional e da Fundação Getúlio Vargas, mais de 300 especialistas se juntaram para subscrever o maior pacote legislativo de proposições anticorrupção do mundo: As Novas Medidas contra a Corrupção. 

    Nas eleições de 2018, a pauta nacional estava umbilicalmente ligada ao combate à corrupção: Presidente, Governadores e Congressistas foram eleitos fortemente sustentados na retórica anticorrupção e apoiados por uma população ávida por mudanças. Contudo, apenas 45 dos congressistas eleitos eram formalmente comprometidos com as Novas Medidas contra a Corrupção, e, na prática, foi esse o retrato do novo Parlamento brasileiro: a retórica não se concretizou em aprovação de Projetos de Lei. Mas por quê? 

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    O ano de 2019 era a oportunidade perfeita com Executivo e Legislativo recém empossados e com respaldo popular para encarar reformas estruturantes. Boa parte desse esforço, entretanto, foi investido no Projeto de Lei Anticrime (com avanços anticorrupção bastante tímidos e forte pauta armamentista e na excludente de ilicitude), além da Reforma da Previdência. Já em 2020, a pauta nacional foi tomada por inteiro pela pandemia, com poucos avanços legislativos em outras temáticas. 

    A Câmara dos Deputados até aprovou um PL que dobrava a pena dos crimes contra a Administração Pública praticados por ocasião de calamidade (especialmente relacionada com a COVID-19). Mas esse é o retrato de um parlamento que atua apenas reativamente, não proativamente, e que obviamente não resolve o problema. Talvez por isso o Senado sequer deliberou sobre o assunto, que aguarda tramitação interna.

    Publicidade

    Hoje, a pauta de combate à corrupção ressoa com avanços tímidos sobretudo por iniciativa persistente da Frente Parlamentar Ética contra a Corrupção. Todavia, apesar dos esforços na apresentação de PLs, não houve consenso para que qualquer destes projetos pudesse ir à votação no plenário das Casas legislativas. 

    Continua após a publicidade

    Na realpolitik, é possível dizer que o discurso anticorrupção ficou órfão dos principais campos políticos. A esquerda, historicamente defensora dessa agenda, se viu imersa em escândalos como o Mensalão e a Lava Jato e, ao invés de fazer a mea culpa, transformou o tema em tabu. A extrema direita, por outro lado, deixou de defender pragmaticamente o combate à corrupção após o rompimento do Governo com o ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro e após deslizes indefensáveis do Presidente da República nos esquemas de rachadinha dos filhos. 

    Publicidade

    No final das contas, por que as Novas Medidas contra a Corrupção não avançaram no Congresso? A resposta é simples: não há vontade política. Ponto. Se combater a corrupção significa na prática não roubar, não deixar roubar e punir efetivamente quem rouba, nossa classe política é indefensavelmente pró corrupção, ainda que por omissão. Uma dura verdade inconveniente.

    * Daniel Lança é Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa e Sócio da SG Compliance

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.