A inflação é capaz de implodir todos os cenários políticos em um ano eleitoral. Em Brasília, essa palavra é temida por todos os políticos que governaram o Brasil, seja de esquerda ou de direita – e, agora, da extrema-direita bolsonarista.
Digo isso porque o DataFolha traz uma nova rodada de pesquisa, divulgada nesta segunda-feira, 28, que trouxe enorme – digo enorme mesmo – preocupação para o governo Bolsonaro: 75% dos entrevistados continuam apontando que a gestão atual é a que tem responsabilidade pela inflação alta.
Qual a importância disto?
Como bem explicou jornalista Alexa Salomão, na Folha, o presidente e sua equipe ministerial se esforçaram para emplacar o discurso de que a alta dos preços era consequência de crises globais e ações de terceiros, como os governadores que impuseram o isolamento e fechamento do comércio na pandemia.
Não colou.
E essa pesquisa pode nos dar a seguinte leitura: Bolsonaro sim, se recupera, mas pode ter um teto por conta do agravamento da crise econômica brasileira.
Foi o mestre Antônio Lavareda, cientista político, que cunhou para a coluna o seguinte raciocínio: “Nenhum governo no mundo deixa de ser afetado pela alta de preços”.
Pois é.
Olha o que diz a Folha sobre a pesquisa:
“Mesmo quem está na base de apoio de Bolsonaro acredita que o governo tem responsabilidade pela inflação, nem que seja um pouco. Essa percepção é compartilhada até por eleitores declarados. O levantamento mostra que 75% deles acreditam que o governo tem responsabilidade pelo descontrole dos preços. Essa avaliação também é feita por 72% dos evangélicos, 75% dos moradores do Centro-Oeste, região que concentra o agronegócio, e 79% dos moradores da região Sul, que votaram em peso para eleger Bolsonaro”.
Se Lula, que lidera as pesquisas, bater nesta tecla – a de que a gestão Bolsonaro/Guedes/Posto Ipiranga é culpada pela alta de preços – daqui até a eleição… Bolsonaro pode não só perder, mas perder feio. A eleição de 2022 será ganha na discussão da crise econômica e não no combate à corrupção, como em 2018. Será outra história.