Outrora dominada por Jair Bolsonaro, as redes sociais neste domingo, 16, a 14 dias das eleições, foram controladas pelos adversários do bolsonarismo radical. Aliás, o movimento da extrema-direita brasileira que lidera na propagação de notícias falsas e do ódio ficou o fim de semana inteiro na defensiva, e por um caso criado pelo próprio Bolsonaro.
O controle da narrativa que durou todo o final de semana não foi apenas do PT, antes que a direita militante diga que se trata de mais um golpe comandado pela Nova Ordem Mundial.
No caso, veio também de parte da sociedade civil que não aguenta mais esse domínio das redes da máquina do ódio ultradireitista, através das fakenews.
O caso é tão emblemático que tinha a ver com o comunismo, mas não era sobre a falácia de sempre: o temor de que um movimento comunista internacional está muito próximo de voltar a dominar o Brasil. Essa ladainha que Bolsonaro e seus asseclas – incluindo lideranças evangélicas com milhares de seguidores – gostam de propagar por ai.
O assunto era o ”pintou o clima” entre o presidente Jair Bolsonaro e “umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos”. Ele queria usar as meninas para falar contra o “comunismo”. O absurdo dito por Bolsonaro tratava-se apenas de mais uma tentativa de alimentar sua insana guerra ideológica. A mesma que vem levando seus seguidores radicais a cometerem atos cada vez mais radicais:
Invadir festas de aniversário para matar petista a tiros;
Hostilizar, alcoolizados, os católicos no seu Dia de Aparecida ;
Ou a já conhecida tática de atacar covardemente jornalistas;
Bolsonaro até conseguiu uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, faltando duas horas para o debate presidencial, na qual o magistrado proibiu a campanha de Lula de continuar a mostrar o vídeo em que o presidente narra um encontro com adolescentes venezuelanas e chega a dizer que “pintou um clima”.
A situação na campanha de Bolsonaro era de terra arrasada com o episódio, segundo apurou a coluna. Foi por isso que o presidente fez a live entre meia noite e uma da manhã deste domingo para fazer uma live dizendo que a frase dele estava fora de contexto.
Depois, Flávio Bolsonaro, o filho Zero Um que se gaba de ser o menos raivoso da família, foi às redes sociais para dizer que a esquerda “pegou uma fala mal colocada para imputar uma fake news nojenta [contra o presidente]”.
Ora, senador Flávio Bolsonaro, sejamos honestos: quem vive de fake news nojenta é você, seus pais, seus cupinchas – como esses pastores fascistoides – e, porque não dizer, um bando de pessoas em que a Terra em vez de redonda, pode ser plana.
A frase completa de Bolsonaro sobre as venezuelanas é essa:
“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e vi umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas no sábado. Vi que elas eram meio parecidas. Pintou um clima, eu voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’. Eu entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. Eu pergunto: meninas bonitinhas se arrumando no sábado pra quê?”
Com ou sem decisão de Moraes – e essa coluna tem elogiado a postura do magistrado – vocês podem ver que o presidente, mais uma vez, não respeita a liturgia do cargo e nem as leis. Ele é que disse que houve um clima entre ele, com 67 anos, e uma adolescente em situação de vulnerabilidade. Isso é crime. Por isso, se deu mal. Se atrapalhou inteiramente e passou o fim de semana nas cordas tendo que dizer que não era pedófilo.
Bem-vindo, Bolsonaro, ao mundo que você mesmo criou.