No final de um dia de depoimento morno, Pazuello passou mal. Mas não foi muito pressionado. A mentira foi tanta que calou a maioria dos senadores presentes ao depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello. O espírito do dia foi resumido pelo senador Humberto Costa, que jogou a toalha: “não vou perguntar mais nada”.
Na versão do ex-ministro Pazuello sobre os fatos recentes, não houve o que todos viram acontecer. O presidente Jair Bolsonaro nunca o desautorizou, não deu ordens para disseminar o uso da cloroquina, nunca interferiu em sua gestão, nunca houve o “ele manda e eu obedeço”. Não houve o que todos viram. Simples assim. Até porque, como explicou, claramente, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
LEIA TAMBÉM: Escorregões da CPI
O presidente Jair Bolsonaro pode ser uma coisa e outra coisa. Segundo Pazuello, Bolsonaro é o presidente, o comandante das Forças Armadas, mas é também “o agente político”. A declaração feita por Bolsonaro, “já mandei cancelar, o presidente sou eu”, por exemplo não foi dita pelo presidente. “Foi apenas uma posição do agente político na internet”, disse.
No mundo ilusório do general, Bolsonaro nunca falou para que ele não comprasse vacina, sempre disse que “assunto de Saúde quem trata é o ministro Pazuello”. O Ministério, no seu tempo, sempre defendeu o distanciamento social. Agiu antes da hora no caso do Amazonas. Nunca houve conflito federativo. “Apoiamos todas as medidas dos governadores, sem qualquer nenhum tipo de juízo”.
O único reparo que fez ao comportamento do presidente foi que ele gostaria de ter mais contatos com ele. Queixou-se que eles se viam uma vez por semana, uma vez a cada duas semanas.
Ao ensaiar tão bem o fantástico mundo ilusório de Pazuello, o general cometeu esse deslize. Mostrou que, em plena pandemia, em vez de falar diariamente com o ministro da Saúde, o presidente o tratou como se trata um ministro em época normal. Encontros pouco frequentes.
Ele foi desmentido em cena aberta pelos inúmeros vídeos de Bolsonaro, por comunicados oficiais do Tribunal de Contas da União (TCU). “Tudo ele pode negar. Pode negar a cloroquina. Só não pode negar as imagens das pessoas sem oxigênio no meu estado”, afirmou o presidente da CPI da Covid-19, Omar Aziz, que é do Amazonas. .
O general passou mal antes do fim do depoimento, e por isso ele foi suspenso. Quando for retomado, haverá uma nova chance de o ex-ministro encontrar a realidade. Nesta quarta, 19, ele mostrou que vive num mundo paralelo, no qual foi tão bem que, ao sair, pôde dizer para o presidente que o demitia: “Missão cumprida”.