Ao homologar tão rapidamente a delação de Mauro Cid, Alexandre de Moraes sinaliza ao país que as informações do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro são, no mínimo, consistentes.
Não são declarações ao vento. Trazem em sua companhia comprovações probatórias. No português claro, para todos entenderem: provas de crimes.
Não havia dúvida de que, caso Mauro Cid resolvesse abrir o bico, Alexandre de Moraes aceitaria a proposta, como afirmou a coluna nesta sexta-feira, 8.
Mas isso não quer dizer que trata-se de abuso do ministro do Supremo Tribunal Federal, como propaga a extrema-direita, ou de um caso em que se busca fazer a justiça a qualquer custo, a qualquer preço.
Não é isso.
Em um português também claro, Alexandre de Moraes está dando o andamento à delação assim como tem conseguido avançar paulatinamente nas ações sobre atos antidemocráticos, sobre fakenews, sobre tentativas de golpe de Estado.
Em ao menos uma delas, Jair Bolsonaro será implicado pelas novas informações de Mauro Cid, o que é um fator preocupante para o ex-presidente, mas não deve ser para um país que já testemunhou alguns abusos do judiciário.
A narrativa da extrema-direita para o caso será a de perseguição política, quando a história é toda enredada em abusos e suspeitas de crimes – verdadeiros desmandos com o patrimônio público, sendo elas joias ou não.
Não se vê nesses casos, por exemplo, a pressa que se viu em outros processos contra lideranças políticas no passado – leia-se Lava Jato.
Naquela ocasião, fizeram até um andamento rápido com processos porque havia uma agenda eleitoral e a politização da Justiça e do Ministério Público, órgãos de estado, de uma forma pouco vista na história da República.
O que se vê agora são casos tendo andamento, no tempo normal da Justiça, e nos quais as decisões de Alexandre de Moraes poderão ser ou não confirmadas pelo plenário da corte.
(Atualização: O deputado cassado e ex-procurador da República Deltan Dallagnol, que foi coordenador da força-tarefa do Ministério Público para os casos da Lava Jato em Curitiba, enviou um gráfico à coluna contestando a afirmação de que os processos da operação tiveram andamento rápido. O documento diz: “o que se observa é que os processos da operação duraram em media 312 dias, enquanto a primeira ação penal contra [Lula] durou 352 dias e a segunda, 754 dias, o que esvazia a alegação de que os ritos teriam sido acelerados para excluí-lo da corrida eleitoral”. Dallagnol ainda afirmou, em áudio, que a coluna “está factualmente errada. O que você está fazendo é atribuir para a gente uma agenda de perseguição política que não existia. Isso foi um trabalho técnico”)