José Dirceu voltou – e para ficar – aos 77 anos.
Candidatíssimo a deputado federal em 2026, gerando expectativa de uma votação consagradora em São Paulo, o ex-ministro da Casa Civil definitivamente não vê o seu projeto pessoal como o mais importante. Também não se diminui – é parte de um todo. Aliás, como tudo que envolve a vida de José Dirceu, desde a prisão no Congresso da UNE, em Ibiuna, no ano que não terminou.
“A minha verdadeira paixão é o Brasil, e toda essa luta acabou sendo simbolizada na [vida] do presidente Lula. Não há nada mais importante que o terceiro governo [dele] ser sucedido pelo quarto”, disse nesta quarta-feira, 13, lançando a campanha de Lula-4 contra o bolsonarismo.
Foi a deixa para o fim da comemoração do seu badalado septuagésimo oitavo aniversário, em Brasília.
Dirceu reuniu o vice-presidente Geraldo Alckmin e ao menos nove ministros de estado: Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio (Defesa), Juscelino Filho (Comunicações), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Nísia Trindade (Saúde) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) – além de Vinicius de Carvalho, da Controladoria-Geral da União.
A lista de convidados não parou por aí!
O presidente da Câmara, Arthur Lira, e os três principais candidatos à sua sucessão – Elmar Nascimento (União-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antônio Brito (PSD-BA) – se uniram a outros 11 deputados federais e cinco senadores, segundo conta da coluna.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, e o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Guilherme Mello, faziam coro para dar os parabéns a José Dirceu.
(Pausa: as páginas em branco do meu caderno de anotações acabaram antes de a lista de autoridades terminarem. Havia juízes de tribunais federais, procuradores, promotores, advogados da AGU e ex-parlamentares – esses, aos montes. O mais animado deles era Silvio Costa, pai do ministro de Portos e Aeroportos, afirmando que Dirceu pode ter quase 1 milhão de votos em 2026)
POLÍCIA MILITAR
Preso no mensalão e no petrolão, José Dirceu não parecia ser o primeiro político político cassado do PT, mas sim aquele ornamentado articulador que levou Lula à presidência, em 2003. Em sua festa, havia fila para entrar, tirar foto (com o aniversariante), ir ao banheiro, comer e até ir embora (emoji de espanto).
A Polícia Militar (outro emoji de espanto) fazia organização dos carros de autoridades, de aplicativos e dos próprios convidados que tentavam trafegar numa rua fechada de um bairro nobre de Brasília. Militantes petistas e do MST enchiam a casa do político que foi trocado pelo embaixador dos Estados Unidos, após ação da guerrilha urbana contra a ditadura.
Ao começar a discursar exatamente às 23h47 minutos, Dirceu fez uma breve explanação sobre a situação política do Brasil, passando pelo “surgimento da extrema-direita, do bolsonarismo, do obscurantismo, do abuso religioso e do risco da ditadura” – esses, os elementos que criaram “as condições para a volta de Lula ao governo”.
Segundo José Dirceu, o retorno do líder operário ao poder é só o começo. Precisa ser seguido da retomada de um “ciclo histórico” que o Brasil já viu “com Juscelino Kubitschek, João Goulart e até na ditadura militar […] com Ernesto Geisel” (terceiro e último emoji de espanto) – após os seis anos de interrupção dos governos petistas.
Enquanto o ex-ministro da Casa Civil de Lula-1 falava, advogados discutiam a viabilidade de uma candidatura dele ao Congresso Nacional pensando em seus inúmeros problemas jurídicos. Políticos assentiam sobre a análise da frente ampla que elegeu Lula, com partidos da extrema-esquerda à direita. Garçons continuavam a servir vinho, uísque, coxinhas, empadas e costela.
O ex-presidente do PT não falou sobre a candidatura e prometeu, no início do discurso de aniversário, que não faria uma exegese política. Uma promessa vã, como se pode perceber. Perguntado se a candidatura ao parlamento era real – após soltar o microfone e apagar a vela do bolo com dificuldade -, José Dirceu negou, negou e negou.
Você acredita, leitor?