No dia 23 de Junho, há exatos 14 dias, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o governo Jair Bolsonaro errou ao não realizar uma campanha de comunicação para orientar a população na pandemia. “Esse foi o grande erro. Isso teria sido um trabalho eficiente do nosso governo”, afirmou.
Para o presidente Jair Bolsonaro, esse foi um dos maiores ataques do seu vice contra o governo. Segundo a coluna apurou, o presidente achou um acinte a fala do seu vice – especialmente por ocorrer quando a gestão está fragilizada pela CPI da Covid-19.
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Acontece que, oito dias antes, no dia 15 de Junho, Mourão já havia feito outra crítica pesada. Disse que sentia falta de ser convidado para participar das reuniões de trabalho do presidente com ministros. “Sim, sinto falta. A gente fica sem saber o que está acontecendo. É importante que a gente saiba o que está acontecendo, né? Paciência. C’est la vie [é a vida], como dizem os franceses”, disse.
Pois bem. Depois dos dois ataques, Mourão fez um mea-culpa e afirmou que as acusações de corrupção apuradas na CPI não colocam em xeque o discurso anticorrupção de Bolsonaro. “O presidente não tem condições de controlar tudo que acontece dentro do governo. Compete a cada ministro cuidar de seu feudo”.
A frase foi dita no dia 28 de Junho. Desde então, Mourão se calou. Fez comentários inexpressivos no twitter. E, nesta terça, 6, ouviu uma forte estocada de Bolsonaro, que brincava com vereadores de uma cidade de Mato Grosso. “Este aqui é seu vice? Vice bom é aquele que não aparece, hein?!”, disse.
A declaração acontece no mesmo dia em que Mourão foi escalado para o encontro dos chefes de estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que ocorrerá nos dias 16 e 17 de julho, em Luanda, capital de Angola. A ideia é afastá-lo cada vez mais dos processos decisórios mais importantes do governo.
Em meio a esse quadro conflituoso entre os dois, presidente e vice, o silêncio ou não de Mourão nas próximas semanas dirá muito – bastante, aliás – sobre suas pretensões políticas futuras.