Na Flip, escritor critica déficit de servidores no Ibama
Autor do romance “Contra fogo”, Pablo Casella conta sua experiência combatendo incêndios na Chapada Diamantina
O biólogo Pablo Casella lançou seu romance de estreia “Contra fogo” neste ano e já se tornou um dos nomes mais aguardados da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O livro, que retrata como a crise ambiental está sendo vivida no sertão da Bahia, chegou justo no ano em que boa parte do país ardeu com as queimadas.
A história de “Contra fogo” é centrada numa brigada voluntária de combate a incêndios florestais na Chapada Diamantina. A situação foi vivida de perto por Casella – ele atua como analista ambiental no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Entre 2002 a 2022, o biólogo fez parte da equipe gestora do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia.
Em seu primeiro painel na Flip na Casa República, Casella cobrou mais servidores públicos para a área ambiental.
“Se eu for positivo na matemática, posso dizer que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) tem 5 mil funcionários, somando com os temporários. Nos Estados Unidos, para fazer o mesmo que a gente faz, são 70 mil funcionários. Mas se quisermos comparar com a África do Sul, em um parque nacional são 10 mil funcionários – em um parque, eles têm mais do que o Brasil para todo o país”, afirmou.
Ele explicou ainda que faz parte de uma geração de servidores públicos “apaixonados” pela causa ambiental e que isso tem um “alto custo” para a vida pessoal.
“Quando meus filhos nasceram, precisei ficar afastado por causa da época de incêndios. Você vive em função de incêndio, porque combater incêndio é evitar destruição, não é construir nada. E isso é muito difícil: você se afastar das suas relações familiares”, contou.
Para uma plateia lotada, o biólogo explicou que a principal agenda do livro era mostrar para um público maior o que era combater o fogo. “O livro é a celebração do povo da Chapada Diamantina”, resumiu.
Ao falar sobre sua escrita, Casella revelou que considera a arte mais do que um alento – é uma possibilidade de reconexão. “Acho que tudo isso que está acontecendo vem por causa da desconexão. O ser humano se desconectou da natureza da qual ele deveria fazer parte”, concluiu.