Marina Silva acredita que o efeito do fenômeno El Niño pode se estender por mais dois anos no Brasil, e que ele está sendo potencializado pelos efeitos das mudanças climáticas. Para a ministra do Meio Ambiente, isso pode afetar os rios da Amazônia de uma forma alarmante.
“Há uma preocupação muito grande, sim, com relação aos rios. No caso da seca, nós temos uma previsão de El Niño em 2023, que continuará em 2024 e 2025. E uma preocupação no sentido que vai haver um momento em que o rio vai subir a água, mas talvez ele não alcance a cota de cheia. E quando vier o El Niño do ano que vem, sem ter alcançado a cota de cheia, o prejuízo vai ser maior ainda. Quando vier 2025, será também maior ainda. Então, estamos entrando num circulo vicioso. As pessoas querendo minimizar dizendo: ‘Não, mas o El Niño é um fenômeno natural que sempre aconteceu’, e isso é verdade, a gente tem que ter honestidade intelectual e científica. O problema é que ele está sendo potencializado pela mudança do clima. Com o aquecimento no Atlântico Norte, nós temos um processo deletério em que nós começamos o ano com seca no Rio Grande Sul e enchente no Amazonas”, afirmou Marina no programa Os Três Poderes, de VEJA.
Segundo a ministra do Meio Ambiente, existem 1.038 municípios vulneráveis a eventos extremos, gerados por esse agravamento das mudanças climáticas, o que engloba em torno de 10 milhões de brasileiros e brasileiras.
“Nós estamos terminando o ano com enchente no Rio Grande do Sul e seca no Amazonas. E nós nem alcançamos o pico das consequências do El Niño. Então, é um processo muito delicado. Estamos trabalhando ações não só para mitigar e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, dos eventos extremos, mas para tentar prevenir, o que é uma complexidade. Nós temos que fazer política pública com base em evidências. Não dá pra fazer movimentos erráticos. Por que o PPCDAM deu certo? Porque é uma política pública com base em evidência. Há 20 anos atrás fizemos isso. Eu tinha 45 anos, agora tenho 65. Na questão da adaptação, mitigação e enfrentamento das mudanças climáticas, dos eventos extremos, é uma complicação muito grande. Tem uma série histórica do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) que dá conta de que existem 1.038 municípios vulneráveis a eventos extremos. Dentro desses 1.038 municípios, existem 40 mil pontos de vulnerabilidade. Isso abrange mais ou menos algo em torno de 10 milhões de brasileiros e brasileiras”, disse Marina Silva.
A ministra completou: “Quando eu vi esses dados, eu pensei: ‘Meu Deus, não podemos continuar todo ano simplesmente achando que é natural as pessoas serem soterradas, o patrimônio público ser devastado, e todas essas consequências’. Será que é possível prevenir, além de fazer todo o enfrentamento emergencial e sistemas de alerta, quando o evento extremo já está instalado? No caso do Rio Grande do Sul, o Cemaden identificou cinco dias antes que iria ter aquelas chuvas no Vale do Taquari. Nós já fizemos dois seminários, um com os vulneráveis e um seminário com nove órgãos do governo e de pesquisa, incluindo a representante das Nações Unidas na área de adaptação para eventos extremos. (O resultado é) inédito. E acho perfeitamente possível. A ideia é decretar um estado de emergência climática nesses 1.038 municípios, ter ações continuadas ao longo de anos (…) para evitar ao máximo o dano à vida e ao patrimônio”.