“Esse homem [Bolsonaro] se afastou do planeta Terra. Ele isolou o Brasil do mundo. Está orbitando em algum planeta em que a humanidade não existe. O que existe é o ódio”.
Lula pediu paz. Menos de setenta e duas horas após o assassinato do dirigente petista por um bolsonarista armado apenas para matar, o ex-presidente não pediu retaliação.
Pediu, na verdade, uma “lição de moral” – como Gandhi quando caminhou para libertar a índia. “Nós não precisamos brigar. A nossa arma é a nossa tranquilidade. É o amor”.
Lula lembrou do Meio Ambiente. “Esse país não vai mais cortar árvores para criar gado, plantar soja ou milho”. Pediu também pela Cultura – se ganhar, quer recriar o Ministério que foi extinto pelo atual presidente.
Lula pediu a bandeira verde e amarela de volta. Disse que o seu partido não é mesmo o Brasil, como o Bolsonaro gosta de dizer, e assumiu: é sim o PT. Mas disse que a bandeira é do país, e não bolsonarista.
“Este cidadão (e seus milicianos) resolveu tomar do Brasil as cores verde e amarela. Ele não tem partido porque toda semana troca de legenda. Por isso que ele fala que ‘o meu partido é o Brasil’. Pois o Brasil é o meu país”.
Lula pediu pela ciência. Pela educação. Lembrou Fernando Haddad, exigindo que cada um leve um livro embaixo do braço, e não arma para reuniões ou festas de aniversários.
“Daqui pra frente a gente não vai ter vergonha de andar [com livro] ou de verde e amarelo. O verde e amarelo não é bolsonarista. O verde e amarelo é do Brasil, e nós temos mais autoridade que usar do que eles”.
No momento mais dramático da campanha, após o assassinato de Marcelo Arruda por Jorge Garanho, disse não querer ver “ninguém brigando, ninguém aceitando provocação”.
Lula deu o tom do que quer nos próximos três meses para os militantes de esquerda. “Eu não quero ninguém brigando, ninguém aceitando provocação. E é isso que nós temos que fazer nos próximos três meses”.
O ex-presidente deu até uma boa resposta sobre a PEC eleitoreira que, agora, aos 45 minutos do segundo tempo, Bolsonaro faz para tentar retrair sua impopularidade e chegar ao segundo turno.
“[Ele] agora vai distribuir dinheiro, criar o vale-táxi, o vale-motorista, o vale-gás, que poderia ter criado há três anos atrás. Mas será só por três meses, como se fosse um vale-sorvete, você coloca na boca, chupa e acaba, ficando com o palito”.
Lula citou uma a uma as campanhas que participou – de 1982 a 2014 – e lembrou que não houve um sinal de violência em todas as eleições da redemocratização até 2018, quando Bolsonaro venceu com 57 milhões de votos.
“Entretanto, o Brasil mudou. Ainda não sei porque o Brasil mudou tanto. Mas estão tentando fazer das campanhas eleitorais uma guerra, estão tentando colocar medo na sociedade brasileira”.
Até elogiar a imprensa, elogiou. “A cada coisa que a imprensa descobre, ele decreta 100 anos de sigilo. Como querer guardar 100 anos de sigilo sobre o [Eduardo] Pazuello na Saúde, que desrespeitou a ciência e não comprou a vacina”.
Lula foi enfático, mas não brigou. Não pediu vingança. Acertou no tom em boa parte do discurso. Lembrou que perdeu mais do que ganhou na vida. E que até aqui, neste ano, mais acertou que errou.
Mais do que isso. “Daqui pra frente a gente não vai ter vergonha de andar de verde e amarelo. O verde e amarelo não é bolsonarista. O verde e amarelo é do Brasil, e nós temos mais autoridade que usar do que eles”.
Para uma multidão que se espremia num teatro em Brasília que tem o nome de Ulysses Guimarães, Lula fez de tudo para não errar. Teve clichê, sim. Teve cheiro de naftalina também. Teve até um momento Evita Perón. Mas Lula fez o mais importante…
Ainda não caiu na pior armadilha de Jair Bolsonaro.