A FIFA e a Conmebol já avisaram em três ocasiões que não estão felizes com a intervenção em curso na CBF e que podem suspender o Brasil de competições, mas alguns cartolas estão pagando para ver. Ex-dirigentes da velha guarda têm se movimentado nos bastidores para forçar a convocação de uma assembleia extraordinária ainda antes da chegada das entidades ao Brasil, marcada para 8 de janeiro.
A ideia é se antecipar à missão internacional e demonstrar apoio a José Perdiz, interventor nomeado pelo TJRJ e à convocação de novas eleições. Pela Justiça, Perdiz tem até 22 de janeiro para chamar um novo pleito. No último fim de semana, circulou a minuta de um requerimento que deveria ser assinado pelos dirigentes das federações e endereçado ao interventor pedindo que Perdiz convoque, “em caráter de urgência”, assembleia extraordinária.
O objetivo, segundo o documento, seria “leitura, análise e deliberação sobre as providências a serem tomadas” diante da situação jurídica da entidade. Para que a mobilização tivesse algum efeito, o grupo precisava do apoio de pelo menos 18 das 27 federações – dois terços – , mas só 9 assinaram o documento.
O que chama a atenção, segundo integrantes da entidade relataram à coluna, é o fato de que esse movimento, embora afirme a existência de urgência, foi produzido logo após a confirmação da missão da Fifa e Conmebol que virá ao Brasil no dia 8 de janeiro.
Ednaldo Rodrigues foi afastado da presidência da CBF em 7 de dezembro depois que o TJRJ entendeu que o pleito que o elegeu, em 2022, não tinha validade.
As eleições daquele ano foram baseadas em um Termo de Ajuste de Conduta firmado entre a CBF e o Ministério Público, mas o entendimento da Justiça, até agora, tem sido o de que o MP não teria legitimidade para interferir nos assuntos da confederação, que é uma entidade privada. A decisão do TJRJ abriu uma crise entre a CBF e a FIFA.
A entidade internacional não reconhece Perdiz como presidente e ameaça suspender o futebol brasileiro de competições oficiais. Em carta enviada à confederação no dia 24 de dezembro, a entidade internacional subiu o tom e enfatizou que nenhuma eleição deve ser convocada antes da chegada da comitiva ao Brasil, na próxima semana.
Para alguns interlocutores, uma assembleia convocada às pressas nos próximos dias esticaria ainda mais a corda entre a CBF e a FIFA e poderia, inclusive, antecipar uma eventual decisão da entidade por punir os clubes e a seleção. Eles afirmam, ainda, que a iniciativa pode parecer uma tentativa de constranger a entidade internacional.
Em 2022, a federação indiana de futebol foi temporariamente banida do futebol mundial pela Fifa em um processo similar ao que acontece no Brasil atualmente. A decisão da Suprema Corte do país de tomar o controle da entidade indiana irritou a FIFA, que considerou a manobra “violação flagrante” das regras do organismo internacional. À época, a exemplo do que acontece agora no Brasil, a FIFA chegou a enviar uma série de correspondências avisando sobre as possíveis consequências da interferência externa, mas não foi ouvida.