Na última eleição presidencial, em 2018, 68% dos evangélicos votaram em Jair Bolsonaro. Segundo muitos analistas – incluindo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves (ENCE/IBGE) e o antropólogo Ronaldo Almeida (Unicamp) – o “voto evangélico” foi decisivo para alçar Bolsonaro à Presidência da República. Bolsonaro que se identifica como católico, nunca deixou de se aproximar do eleitorado evangélico. Seja participando da Marcha Para Jesus, defendendo isenção de impostos às igrejas, combatendo o “marxismo cultural” ou indicando pastores ao STF e aos ministérios de seu governo, o “Messias” conseguiu manter boa parte do segmento religioso ao seu lado.
Segundo a Pesquisa Poder Data, realizada entre os dias 13 a 15 de março de 2022, Bolsonaro (PL) possuía 46% das intenções de votos dos evangélicos em um 1º turno. Lula, seguia logo atrás marcando 22% no segmento religioso. Como evidenciou tal pesquisa, o atual presidente ainda se mantinha como a primeira opção dos evangélicos, porém, experimentara um pequeno declínio de apoio em relação ao pleito de 2018. Já na pesquisa EXAME/IDEIA, conduzida dias depois, entre 18 a 23 de março, Bolsonaro tinha 54% da preferência dos votos dos evangélicos, contra 21% de Lula. Conforme a mesma pesquisa, num hipotético segundo turno entre ambos, 60% dos eleitores evangélicos optariam por Bolsonaro, enquanto 29% escolheriam o petista, o que configuraria uma diferença de 31%.
Por entenderem a importância do voto evangélico os presidenciáveis empreenderam uma corrida frenética em busca do apoio dos religiosos. Bolsonaro desde o último sábado (21), iniciou participações em grandes eventos gospel. O chefe do Executivo esteve na Marcha Para Jesus em Curitiba (21) e se prepara para marcar presença em outros dois encontros semelhantes, em Manaus (28) e em Cuiabá, no próximo dia 18 de junho. Já o ex-presidente Lula está na iminência de emplacar um Podcast voltado ao público evangélico e articula ao lado do pastor Paulo Marcelo Schallenberger, da Assembleia de Deus, um plano para dialogar com os mais variados nichos evangélicos espalhados pelo país.
O voto evangélico, ao que tudo indica, pode definir a próxima eleição. Analises apontando a importância decisiva do eleitorado evangélico nas urnas estão sendo feitas por importantes estudiosos da conjuntura político-religiosa de nosso país. Conforme a antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira (UnB), em participação à matéria “O dilema das evangélicas”, exibida pela emissora de TV BBC News Brasil, no último dia 11 de maio, as mulheres evangélicas – em sua grande maioria negras, pardas, periféricas e pentecostais – “são o voto que define essa eleição”. Para o sociólogo Juliano Spyer, autor de “Povo de Deus” – magistral pesquisa de campo sobre os evangélicos -, o “voto evangélico”, que foi determinante em 2018, também será decisório na eleição deste ano.
Diante desse quadro veremos os evangélicos cada vez mais proeminentes aos olhos das lideranças políticas de nosso país. Todos querem conquistar o coração do eleitor evangélico e para isso não pouparão esforços e estratégias. Bolsonaro está na frente nesta disputa, porém, como alertara a pesquisadora Magali Cunha, em recente artigo à Carta Capital, os evangélicos “são pessoas autônomas que decidem pelo voto, fundamentalmente de acordo com suas preferências, como qualquer cidadão ou cidadã, religioso ou não”. Ou seja, o cenário pode mudar. Os evangélicos podem optar por Lula, Ciro Gomes ou Simone Tabet, dependendo das circunstâncias. Cabe a eles encontrar o caminho do coração dos fiéis.
* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e Pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP