O presidente Jair Bolsonaro sentiu de vez a queda da popularidade que o atingiu após a catastrófica gestão da saúde brasileira durante a pandemia. A coluna já havia tratado da mudança de rumo do setor de comunicação do governo, que tenta reescrever a história após um ano de malfeitos, mas o pronunciamento desta terça-feira, 23, é o retrato fiel da derrota do presidente.
São amplas as provas de que Bolsonaro é responsável pelo atraso da vacinação do Brasil e, por consequência, pelo vertiginoso crescimento das mortes pela Covid-19. A mais importante delas foi quando desautorizou publicamente, em outubro do ano passado, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello, suspendendo a compra de milhares de vacinas do laboratório chinês Sinovac com o Instituto Butantan.
Também são vários os erros do presidente na pandemia. Mas as distorções entre seus atos e o pronunciamento mostram que Bolsonaro se meteu num beco sem saída. Não há cavalo de pau possível para um governante que chegou a zombar de quem era acometido pelo coronavírus, e que disse a seguinte frase: “vai comprar vacina? Só se for na casa da sua mãe”. Recentemente, imitou uma pessoa ficando sem ar. Ele foi incansável durante um ano nas demonstrações de desprezo diante da dor dos brasileiros.
Durante muito tempo se imaginou que um dia os absurdos ditos por Bolsonaro, seja relacionado à ditadura militar (1964-1985), à tortura, aos adversários políticos, aos jornalistas, aos ministros do Supremo Tribunal Federal, às instituições democráticas, aos direitos humanos e tantos outros temas caros ao país, tivessem alguma consequência prática, algum efeito em sua imagem.
Sua estratégia foi sempre a arrogância, o embate, o confronto. Mas, ao menos agora, o tom mudou. O problema é a distorção e a mentira. Não há realidade paralela que resolva o caso gestão Bolsonaro/Covid-19. Até o dia escolhido para o pronunciamento foi o pior. O Brasil chora mais de 3 mil mortos em um dia, mais que um atentado ao World Trade Center, enquanto Bolsonaro tenta manipular a realidade.
“Vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus”, disse o presidente. Não vai colar, Bolsonaro. O senhor mesmo disse, na segunda, 22, que não foi convencido a mudar o discurso sobre a Covid-19. Agora, o governo sabe que apenas 9% dizem que não querem vacinas no Brasil. Bateu o desespero no Palácio do Planalto.